De fato, conheci Sabbá Guimarães pela leitura de suas obras, difíceis, por sinal, e pelas informações de associados do IGHA. Soube que ele fora Juiz de Direito em nossa capital e, que abandonando a magistratura, retirou-se para Santa Catarina, onde exerce o magistério na Universidade Federal.
E mais, devo ter cruzado com ele, no IGHA, apenas numa oportunidade. Não me recordo o motivo de ter-lhe enviado o meu livro sobre o padre-poeta L. Ruas, guardei, no entanto, a carta recebida com as considerações, a qual compartilho ora com o universo.
Florianópolis,
09 de outubro de 2012
Prezado confrade, saúde e felicidade.
É curioso que sendo ambos da mesma entidade, o IGHA, jamais nós tenhamos cruzado e estou ali há mais de quarenta anos! Obrigado pelo livro que organizou dos poemas do padre Ruas, que já li. Foi um gesto generoso o seu, pouco encontradiço em a nossa região. Aliás, este é um fato sociológico sobre o qual eu conversara com André Araújo e Mendonça de Souza, ali mesmo, na Academia, em uma de nossas belas sessões de sábado. Temos a tendência muito forte à mesquinharia e à inveja. Atribuo isto ao nosso isolamento, ao poder assombroso da floresta, à extrema mestiçagem racial e cultural que nos moldou. Repito-lhe: não há generosidade entre nós e o seu gesto merece cumprimentos, como faço agora. Diga-se de passagem, digno de ser imitado por outros. Gesto de discípulo, de amigo e de admirador o seu.
Leve adiante os propósitos de reunir o
que Nonato Pinheiro deixou. Conheci-o na Academia e algumas vezes conversamos
sobre Literatura Francesa, que ele amava.
Lamentei não haver conhecido Luiz Ruas.
Como antes lhe disse, eu via o padre como muito à esquerda e isto
separava-nos. Os meus conhecidos do então SNI - todos hoje falecidos, e só eu
ainda aqui, forte como um touro selvagem -, diziam-no uma figura subversiva,
malquista dos órgãos militares, por ele ser da mesma linha do padre Boff, um
sacerdote que não escondia o seu perigoso trotskismo.
Eu visitara, a serviço, vários países
da Cortina de Ferro e tivera a oportunidade de sentir a violência da censura,
da perversidade das polícias secretas, do poder etático por ali, e era levado,
por isto mesmo, a sentir horror por todos os "vermelhos", entre os
quais nós, então, incluíamos o pobre Luiz Ruas. Veja, meu confrade, a força da
ideologia de Estado, o poder que ela possui! Jamais pensaria que iríamos cair
em um regime semelhante ao cubano e, de mais a mais, capitaneado por
analfabetos, como o ex-presidente e seus seguidores. O ancien régime
era composto de gente culta, refinada, honesta, bem intencionada, e que via no
Brasil e sua grandeza, o alfa e o ômega do seu desiderato político.
Em seu nome, com a sua amável
permissão, oferecerei um dos dois volumes à Biblioteca Central da Universidade.
É pena que não viesse, também, autografado, como o que teve a bondade de
dedicar-me.
Pedi à minha editora que lhe enviasse ou o tratado sobre Tradução (tenho que confessar que se trata de obra bastante difícil sobre a Filosofia da Tradução), ou o estudo sobre Ezra Pound, Rebeldia e Genialidade. Espero que receba muito em breve um dos dois livros.
Talvez vá, com a sra. Sabbá Guimarães,
a Manaus, em dezembro. Apreciaria conhecê-lo nessa ocasião, se tiver oportunidade.
Tenho três bons amigos aí: Gaitano Antonaccio, Armando de Menezes e Amir Diniz.
Não sei se os conhece. São gente muito dinâmica e sempre envolvida com livros.
Mais adiante, se lhe não for inconveniente, avise-me se estará em Manaus a
partir de 20 de dezembro.
Êxito nas investigações e incentivo-o a
levar adiante os seus bons e nobres projetos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário