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terça-feira, setembro 15, 2020

GREVE NA PMAM: EDITORIAL

Talvez tenha sido a única ocasião em que o comando da Polícia Militar do Estado determinou a transcrição de editorial jornalístico. Aconteceu em início de 1988, quando o coronel PM Pedro Lustosa, diante de rumores de greve de seu pessoal, fez reproduzir a opinião do Jornal do Commercio (7 jan. 1988), em boletim corporativo

Para a história da corporação, vai abaixo transcrito.



.Com alguma insistência vem sendo noticiada na imprensa de que estaria em processo de gestação uma greve no sistema policial do Amazonas, ora atingindo praças da Polícia Militar do Estado, insatisfeitas com o último reajustamento salarial, ora policiais civis como protesto contra mudanças que seriam executadas na Seseg, visando melhor operaconalidade do aparelho policial. Se o povo brasileiro já não estivesse farto de tantas greves, umas reivindicatórias, outras meramente políticas; atingindo os mais diversos setores da vida nacional, até o Poder Judiciário, o noticiário de greve no sistema policiai amazonense poderia francamente ser posto de lado. Mas o fato de que estaria em curso uma greve na Polícia Militar do Estado merece uma apreciação pelo absurdo, pelo mais alto grau de insubordinação, que constituiria um movimento grevista de policiais militares fardados e armados.

A Polícia Militar do Estado é uma corporação de muitas e gloriosas tradições de brio, coragem e honradez. Alcançou, atualmente, um elevado grau de profissionalização em matéria de segurança pública e aparelhamento material. E em sua história há lances de bravura, de heroísmo e desprendimento, nunca houve o fastígio dos dias atuais. Nem em tempo algum, seus integrantes, cumprindo os deveres a qualquer custo, auferiram os vencimentos e vantagens que hoje desfrutam, pagos rigorosamente em dia. Em várias oportunidades, ao longo de sua história, a Polícia Militar do Amazonas partilhou das dificuldades do funcionalismo estadual com vencimentos atrasados, sem que deixasse de cumprir o seu dever, sem exemplos de rebeldia.

Não seria agora, quando tem no comando um dos mais ilustres oficiais, o coronel Pedro Lustosa, formado no "calor das  próprias aspirações da nova Polícia Militar, que alguns de seus elementos iriam rebelar-se contra o Poder Constituído do Estado, num triste exemplo de indisciplina e total desconhecimento do dever que tem todo policial militar. Uma corporação armada que se rege por regulamentos militares desconhece o instituto da greve, um recurso eminentemente civil de trabalhadores assalariados. Os que portam armas para defesa dos cidadãos e da ordem, das instituições ameaçadas, e que têm um compromisso de cumprir o dever mesmo com sacrifício da própria vida, podem chegar às quarteladas, à revolta militar, crimes que estão previstos no Código Penal Militar. O policial-militar, nos últimos 15, conquistou até foro especial nos crimes resultantes da missão policial.

Diante da posição destacada que ocupa a Polícia Militar na segurança pública do Estado, pela noção de dever e zelo com que vem sendo comandada pelo coronel Pedro Lustosa, podemos tranquilizar a sociedade amazonense como destituídos de fundamentos os boatos de qualquer manifestação grevista por parte de nossos policiais-militares.

Numa Corporação de mais de 5.000 homens é normal que haja algum descontentamento, até por questões disciplinares, uma vez que o homem é a medida de todas as coisas, como disse um filósofo grego. Mas não ao ponto de gerar discórdias, desobediências, omissões, no cumprimento do dever policial militar, com a subversão dos princípios hierárquicos que sustentam a Corporação.

Seria o cúmulo do absurdo para a sociedade que paga a remuneração da Polícia Militar para ter proteção e segurança verificar a corporação de braços cruzados, fugindo ao seu dever.

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