Alvaro Maia |
Pouco antes de falecer
(4 maio 1969), escrevendo no Jornal do
Commercio, edição de 16 de março do mesmo ano, Maia assim opinou:
Recorte da coluna do Jornal do Commercio |
Mocambos e
favelas podem ser destruídos, mas os seus habitantes não se adaptam facilmente
a outros regimes de vida e aglomerações. Agamenon Magalhães [governador de Pernambuco] esforçou-se
para solucionar o problema. Declarou, certa vez, que transferiria velhos moradores
para casas novas na cidade, em planos traçados pela engenharia. Passados meses,
lá apareciam em outros pontos dos mangues. Voltavam à beira-mar, aos
caranguejos e siris. Haviam alugado, passado adiante as casas do governo.
Esperteza, mas também nostalgia de espumas e salsugens.
Agora mesmo,
na Guanabara, em plena Ilha do Governador, foi condenada a favela das Pelânias
com os casebres sobre estacas, sofrendo a umidade e as ventanias. Construídas de
madeira apodrecida, abrigam moradores, que se nutrem do mar.
Nesse
particular, um dos bairros conhecidos por viajantes e turistas foi a “Cidade
Flutuante”, em Manaus, que, diferente dos outros, apresentava condições econômicas.
Um jurista, o professor David Melo, estudou-o juridicamente, atendendo, por
certo, ao apelo dos moradores. Era uma das curiosidades folclóricas da capital,
como o encontro das águas Rio Negro — Solimões — Amazonas.
Estudou-a
também o economista Almir Diniz, assegurando que as embarcações de pequeno
porte davam um movimento à cidade 200 vezes maior que o Roadway da Manáos Harbour aproximadamente, contribuindo para
mercados e feiras todos os legumes, verduras, produtos agrícolas, procedentes
do interior do Estado.
Desapareceu a “Cidade
Flutuante” em poucos dias, sob a ação das autoridades, porque usurpava áreas do
cais e prejudicava as casas comerciais do litoral. Tinha movimento próprio, —
restaurantes, médico, dentista, escolas, pequenas lojas, boates. Atendia, de
preferência, aos fregueses apressados dos beiradões, que ali encontravam o mais
necessário, inclusive damas fáceis e folguedos noturnos. Vendiam os seus
produtos, abasteciam-se, ingeriam as meladinhas e regressavam aos paranás e
lagos pelo primeiro rebocador. Restam fotografias e postais.
Desaparecida,
os seus habitantes procuraram os subúrbios da Capital, as ilhas próximas, ou se
encovairaram pelos igarapés. Isolados e dispersos, perderam a unidade
comercial, deixando também de contribuir para a arrecadação, pelos pequenos
estabelecimentos que cerraram as portas e transações. Onde param esses
moradores, onde mourejam? Motores, canoas, igarités pousam nas praias, à margem
do rio Negro, em tapiris ou casebres equilibrados sobre cedros, açaens (sic) e sumaúmas. As ruas vizinhas
passaram a fluir sossego, sem as serenatas e rapapés tamboriladas das boates.
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