As
origens do povoado do Lugar da Barra
Meio século após a fundação de Belém (1615-16), os sertões amazônicas do rio Negro passaram a ser objeto das incursões portuguesas provenientes dos núcleos atlânticos pré-existentes (São Luís e Belém). Mormente a partir de
1657 e 1658,
algumas expedições preadoras - réplica do bandeirismo paulista ao longo dos caudais amazônicos - incursionaram pelo rio Negro, cruzando sem maiores reparos o sítio que um
dia iria conter a grande cidade. Na região, as preferências iniciais estiveram ligadas à boca do Tarumã, situado a 30 km da
barra do rio
Negro, aproximadamente a três léguas à montante de Manaus.
Aziz Ab' Sáber, 2011 |
Enquanto os soldados expedicionários executavam verdadeiras caçadas humanas, os missionários pioneiros procediam à catequese, tentando agrupar os índios tarumãs e tribos vizinhas. A lei da época ordenava que "um sacerdote assistisse sempre ao caçador de escravos". (1)
De par com os índios catequizados e aldeados pelos missionários jesuítas havia
o grupo dos
prisioneiros das odiosas expedições de resgate, que eram
enviados para Belém como escravos e ali muito bem recebidos para mão
de obra servil e utilizados nos mais diversos misteres.
Por volta de 1661, graves acontecimentos históricos se sucederam, vindo influir no
povoamento da região: os jesuítas, que eram uma espécie de
fator de equilíbrio entre o apresamento e o povoamento efetivo, foram expulsos. Ao mesmo tempo, as repetidas incursões holandesas pelo Orinoco e espanholas pelo Solimões se intensificaram ameaçadoramente, pondo em jogo o destino de grandes porções da Amazônia portuguesa.
Por sugestão do temível preador Costa Favela, após o seu regresso da expedição de 1668, o Governador do Pará mandou construir uma fortaleza no "Lugar da Barra", a fim de servir de base para a defesa tanto do rio Negro como eventualmente do Solimões. Pela primeira vez botava-se reparo na excelente posição geográfica do local; descobria-se assim, em primeiro lugar, a situação estratégica que um dia iria ser o fundamento da própria situação geográfica privilegiada de Manaus.
A construção do Forte de São José do Rio Negro, em 1690, foi dirigida pelo capitão de artilharia Francisco da Mota Falcão. Tratava-se de "um simulacro de Fortaleza, de forma quadrangular, em pedra e barro, sem fosso." (2) Sua paisagem devia contrastar sobremaneira com o quadro das maciças casas fortes construídas pelos portugueses em outros pontos estratégicos da Amazônia.
A despeito de sua rusticidade e modéstia,
foi "sob a proteção daqueles
canhões" que surgiu o povoado da Barra;
a "casa forte precedeu o povoado",
segundo o dizer expressivo de Mário Ypiranga
Monteiro.
Aos poucos, o aldeamento da boca do Tarumã foi decaindo, enquanto o Lugar da Barra passou
a ser o novo foco de atração
para os índios regionais. Os manaus foram aldeados
e incorporados à vida
do pequenino povoado,
o mesmo tendo acontecido com outros tribos
dos arredores. Logo os missionários carmelitas vieram substituir os
jesuítas expulsos, na faina da catequese; chegaram ao Lugar da Barra a partir de 1695, reorganizando a vida do aldeamento de soldados e índios perdidos naquelas longínquas paragens da Amazônia.
dos arredores. Logo os missionários carmelitas vieram substituir os
jesuítas expulsos, na faina da catequese; chegaram ao Lugar da Barra a partir de 1695, reorganizando a vida do aldeamento de soldados e índios perdidos naquelas longínquas paragens da Amazônia.
A mestiçagem entre portugueses e
índios, a princípio desregrada, foi
aos poucos sendo legalizada através de sucessivos
casamentos, graças principalmente à
influência moral dos missionários.
Fundada a vila de Mariuá (1758),no
terceiro quartel do século
XVIII, posteriormente
transformada em Capitania do Rio
Negro, foi retardado ainda
mais o desenvolvimento da
futura cidade de Manaus.
O Lugar da Barra permaneceu na categoria de modesta parada forçada para os que demandavam o alto Rio Negro, em busca de Mariuá (Barcelos). São José do Rio Negro ficou marcando passo como ínfimo lugarejo de beira-rio, onde vegetava uma indolente população de índios aldeados e de uns poucos soldados-colonos, sem nenhuma função militar importante. A futura Manaus era ainda o "Lugar da Barra", uma simples etapa de longos roteiros fluviais.
O Lugar da Barra permaneceu na categoria de modesta parada forçada para os que demandavam o alto Rio Negro, em busca de Mariuá (Barcelos). São José do Rio Negro ficou marcando passo como ínfimo lugarejo de beira-rio, onde vegetava uma indolente população de índios aldeados e de uns poucos soldados-colonos, sem nenhuma função militar importante. A futura Manaus era ainda o "Lugar da Barra", uma simples etapa de longos roteiros fluviais.
Convém lembrar que, por esse tempo, havia uma irreprimível
tendência para o povoamento concentrado na Amazônia: dominava
em todos os pontos o "habltat" concentrado, semi rural, complementado por pequenas e variadas
atividades de subsistência. O ciclo econômico da borracha, muito mais
tarde, iria redundar na transformação
dessas aglomerações iniciais em
cidades e na redistribuição
dos homens pelas zonas ribeirinhas das planícies aluviais, através de uma dispersão linear típica.
No próximo
número: O crescimento
da cidade de São José da Barra.
(1) MONTEIRO, Mário Ypiranga. Fundação de Manaus: aspectos do panorama histórico-social do antigo Lugar da Barra, 2.a ed. Manaus, 1952, p.35.
(2) MONTEIRO, Mário Ypiranga. op. cit., p.36.
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