Jornal do Comércio, 27 nov. 1993 |
Os 70 anos de Nelson Porto
Zemaria Pinto
O
nascimento em Santos aconteceu por acaso. Naquele 29 de novembro
de 1923, os Porto estavam a caminho do Rio de
Janeiro, vindo de Porto Alegre. 39 anos mais tarde, Nelson
veio para Manaus, como engenheiro da Esso, com a expectativa de
passar três meses. Já lá se vão mais de 30 anos. Acasos...
Mas
não foi por mero acaso que a música tomou conta deste senhor alto, magro,
de fala pausada. Aos 12 anos, pelas mãos de seus pais,
começou a frequentar as temporadas líricas do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, aprendendo a admirar os grandes nomes da época: Beniamino
Gigli, Bidu Sayão, Tito
Schipa, Silvio Vieira, Erna Sack e tantos outros que a memória desfia sem
qualquer esforço. Tomou contato também com os grandes
virtuoses do violino e do piano, como Rubinstein, Brailowski, Kreisler,
Cortot e Odnoposoff quando estes mestres visitaram o país.
Mas
foi só a partir de 1941 que Nelson começou a se interessar por música como uma
atividade muito além do simples diletantismo. Passou
então a sistematizar seus estudos, chegando mesmo a frequentar aulas ministradas
pela festejada pianista Madalena Tagliaferro.
Sócio
da Cultura Artística e da Orquestra Sinfônica Brasileira, na época
dirigida por Eugen Szenkar, Nelson Porto passou a acompanhar todo o movimento musical
da cidade do Rio de Janeiro: "Praticamente
todas as semanas eu estava ou no Municipal ou em outro local,
vendo e ouvindo música, e, o mais
importante, aprendendo”. Em 1955,
entra para o grupo Mardi Musical, cujo
objetivo único era, em reuniões semanais, ouvir
música.
música.
Nelson Porto, Jornal do Comércio, 2003 |
Nelson
recorda que nos sete anos que se seguiram ouviu, graças
àquele grupo, praticamente tudo o que havia sido-gravado de música no mundo. Perguntado sobre quais
instrumentos domina, Nelson surpreende e desarma o
aprendiz de repórter: "Deus não
me deu o dom de tocar qualquer instrumento, deu-me a qualidade
de bem ouvir e compreender
a Música".
Engenheiro
civil, formado em 1942 pela
Escola Nacional de Engenharia, Nelson cursou, como
aluno-ouvinte, a Faculdade de Arquitetura. Trabalhou,'(inicialmente,
como desenhista de concreto armado, depois como desenhista de arquitetura. Como
engenheiro de Fundações, trabalhou na construção do Maracanã. Entre
outras empresas, trabalhou na Shell e na Esso. E
como escrevemos lá no primeiro parágrafo...
Em
Manaus, Nelson foi convidado pelo então prefeito, Josué
Cláudio de Souza, a estender sua permanência na cidade. Foi
assessor do prefeito, Secretário de Obras e Presidente do Departamento
Rodoviário Municipal.
Hoje, longe
de pensar em "aposentadoria", presta serviços à
Semosb. Nestes parênteses, destaque-se a atuação de
Nelson Porto como professor da Faculdade de Filosofia e da Escola Técnica
Federal de Manaus, além de ser um dos fundadores da UTAM e da
Universidade do Amazonas, onde, em
junho de 1966, teve a primazia
de ministrar a aula inaugural
da Faculdade de
Engenharia.
Ainda
pelas mãos de Josué Cláudio de Souza, Nelson
inicia, em 1964, suas
atividades no rádio amazonense, na Rádio Difusora.
Em 1965 passa para a Rádio Rio Mar, com uma hora de programa, aos domingos, onde
permanece até hoje. Com uma diferença: o programa agora tem três horas e meia,
de 20h30 às 24hOO. Eu escrevi "programa"? Desculpem, o correto é
"programas": "Concertos Famosos" e "No Mundo dos
Clássicos". Os programas se alternam, se imbricam e se superpõem, para o
deleite de seus fiéis ouvintes, que não se limitam a ouvir, mas participam
dando sugestões e pedindo as peças de seu agrado.
Como no ARTLIVRE, idealizado por Nelson, nos moldes do Mardi, e realizado pelo NUAM – Núcleo Artístico do Amazonas, tendo à frente a incansável professora Ivete Freire Ibiapina. O ARTLIVRE é realizado mensalmente, há dois anos, e Nelson tem sido mais que um incentivador, tomando a direção do encontro sempre que solicitado.
Como no ARTLIVRE, idealizado por Nelson, nos moldes do Mardi, e realizado pelo NUAM – Núcleo Artístico do Amazonas, tendo à frente a incansável professora Ivete Freire Ibiapina. O ARTLIVRE é realizado mensalmente, há dois anos, e Nelson tem sido mais que um incentivador, tomando a direção do encontro sempre que solicitado.
Nelson
Porto guarda um carinho especial pelos músicos amazonenses. Deixemos que se
expresse com suas próprias palavras: "Nas minhas andanças pela música,
tive a amizade e gozei da intimidade de muitos grandes artistas nacionais e
internacionais: Jacques Klein, Lily Krauss, Oriano de Almeida,
Maria Lucia Godoy, Nelson Freire, Arthur Moreira Lima. Mas, destaco com grande
carinho a amizade com Arnaldo Rebello, que conheci no Rio de Janeiro em 1950, vindo depois a revê-lo, com
grande prazer em Manaus, nas vezes em que aqui se
apresentou.
E ainda Cláudio Santoro, que já havia visto à época em que era violinista da Orquestra Sinfônica Brasileira, e em algumas apresentações de suas obras no Rio. Tive mais intimidade com o maestro Santoro na década de 80, quando o visitei inúmeras vezes em Brasília. Santoro me ofertou· algumas de suas obras, em cassetes, inéditas, as quais já apresentei em meus programas.
O
desaparecimento desses dois expoentes da música erudita brasileira causou um
tremendo vazio. Agora só nos resta Lindalva Cruz, a quem só
vim conhecer pessoalmente em 1988,
quando, depois de prolongada ausência, deu seu "primeiro"
recital aqui em Manaus. De lá pra cá, sua presença tem
sido constante. Parece que somente agora se lembram de
Lindalva Cruz...
Lindalva,
aliás, faz aniversário no mesmo dia 29 de novembro, mas como cabe a uma dama de
sua estirpe, não revela a idade. E nem nós perguntamos...
Parabéns pra você, também, Lindalva.
As
facilidades tecnológicas oferecidas pela Zona Franca permitiram que Nelson
gravasse os mais importantes recitais apresentados em Manaus nos últimos 20
anos.
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