CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, setembro 16, 2024

IMÓVEL PECULIAR NO IGARAPÉ DE MANAUS

 A publicação de A Gazeta, edição de 4 de novembro de 1963, ao meu ver, registra a primeira residência “estilosa” edificada naquele igarapé, o de Manaus. Outras existiram no local e foram motivos de fotos, em particular, de turistas, e de bisbilhoteiros com tanta “engenharia" empregada. 

Recorte do jornal mencionado

A Cidade em Foto

Cartão Postal para Turismo Abstrato

Não é pagode chines. Tampouco uma palafita e muito menos, embora pareça, um pombal em estilo modernista. Entre o asfalto da [rua] Major Gabriel e o leito seco do igarapé da Primeira Ponte, a residência se ergue contrariando todas as regras arquitetônicas. Tem leme, proa, passadiço, aviso aos navegantes. Mas não é navio. Também possui telhado. Na falta de simetria, pode ser encontrada muita beleza. Em seus seis andares, um pouco de majestade sobre os humildes flutuantes da margem oposta. Oscar Niemeyer e Lúcio Costa perderam o cartaz. Se Juscelino soubesse. Brasília seria bem diferente... 

Notas do administrador1) a primeira ponte romana cobre o igarapé de Manaus; 2) acredito que este imóvel estava construído com frente para a rua Ipixuna, pois (com algum esforço) se pode observar ao fundo residências demolidas junto ao Palácio Rio Negro.

domingo, setembro 15, 2024

POESIA PARA O DOMINGO

 Houve um tempo – somente os idosos se lembram - em que os jornais publicavam com assiduidade poemas de indistintos autores. Em datas comemorativas, a produção aumentava. Até os domingos serviam para uma coluna mais apurada, como a que compartilho de O Jornal, edição de 29 de janeiro de 1956.

 

Recorte do referido periódico

 

SERENATA

 

A avenida, silente, iluminada,

Está deserta. E um trovador, apenas,

Evocando a evidência de Mecenas.

Modula estrofes de amor à sua amada.

 

Ela que em níveo leito está deitada,

Lembrando Aspásia na formosa Atenas,

Aromas trescalando de açucenas.

Tremente, abre a janela, apaixonada

 

E na amplidão da noite tão imensa,

A lua branca lá no céu fulgura,

Qual se fora de luz hóstia suspensa.

 

O trovador, de crença a alma constela,

Que do seu peito, em mística figura,

Nasce a canção de amor mais pura e bela.

 

 

A  PA R T ID A

 

Parti, chorando, em busca de outro norte,

Naquela tarde clara de setembro...

E agitado fiquei, membro por membro,

Quando um triste anexim pintou-me a sorte.

 

Passou-se o tempo. E hoje, inda me lembro

— Esquecer quem há-de a emoção mais forte? --

Da formosa Raquel -- seu belo porte —

Imagem viva que jamais deslembro.

 

Raquel, quando eu parti, chorara tanto

Que eu vi nos olhos seus de uma fonte amara

Cair torrentes de um dorido pranto.

 

Longa tristeza. Tão cruel martírio!

O anexim cumpriu-se. E com a dor ficara

Roxa saudade, como um roxo lírio.

 

O Jornal,

29 de janeiro de 1956  

sábado, setembro 14, 2024

FACULDADE DE MEDICINA DE MANAUS: 1950

O ensino da Medicina em Manaus, como é do conhecimento público, somente ocorreu a partir do governo de Arthur Reis (1964-67) com a instalação da UA (Universidade do Amazonas). A faculdade competente foi construída na rua Apurinã esquina do Boulevard Amazonas, defronte ao cemitério São João Batista, onde ainda funciona. No entanto, a indigência de clínicos sempre foi uma constante na cidade; para sanar esta carência, em 1950, foi elaborado um plano para a criação de uma escola de medicina.

Detalhe do frontispício do prédio à rua Duque de Caxias

Os entusiasmados projetistas efetuaram uma sessão solene para expor o projeto, aqui compartilhado de periódico da época. E, para abrigar a escola, sugeriram ocupar o prédio (ainda hoje) existente na rua Duque de Caxias, onde funcionou por décadas o IPASEA, dos servidores do Estado, agora ocupado pela Amazonprev, que o destinou ao museu previdenciário estadual.  

Recorte da matéria constante de O Jornal, 14 maio 1950

...)  A concretização da realidade de uma Faculdade de Medicina do Amazonas, se bem que tarefa árdua e audaciosa de médicos idealistas, à frente dos quais se impôs pelo entusiasmo, pela determinação e pelo intenso trabalho, a fibra realizadora e dinâmica do Dr. Miguel Martins,

ilustre medico e sanitarista, só pode ser atingida porque contou com a dedicada colaboração de colegas como Flávio de Castro, Álvaro Madureira de Pinho, Alberto Carreira, Valdir Medeiros, Carlos Simões Neto, Jorge Fernandes, Antonio Luiz Monteiro, Franco de Sá, Donizeti Gondim, Osmar Matos e Heraldo Corrêa e o entusiasmo dos demais médicos que constituirão a douta Congregação da Faculdade de Medicina do Amazonas. 

A solenidade é por demais expressiva na vida e no futuro do Amazonas, deixando, portanto, no dia de hoje fincados os alicerces eternos de um Templo de Ciência Médica, donde hão de sair os futuros médicos para a conquista da recuperação do homem planiciário e destarte os bandeirantes da valorização econômica do Grande Vale.

Todos nós, que trazemos o Amazonas no coração, porque o amamos ou porque o admiramos, porque aqui nascemos ou porque aqui nasceram os nossos filhos, devemos estar presentes a essa memorável solenidade. Temos nós o direito de nos orgulharmos desse acontecimento não só porque é digno da nossa geração como também por ser do Amazonas e por isso bem nosso, e por isso bem do Brasil. Portanto que todos os amazonenses e brasileiros que aqui trabalham e colaboram para o engrandecimento da terra cabocla, não deixem de estar presentes a essa solenidade, na qual teremos a grata satisfação de assistir a vitória de um ideal e da boa vontade dos homens de “boa vontade” e de corações generosos que ainda pulsam pela grandeza do Amazonas. 

O ato da fundação da Faculdade de Medicina será irradiado para todo o Brasil, por intermédio da Radio Baré, fazendo uso da palavra como orador oficial da solenidade, o ilustre medico Dr. Olavo das Neves e como presidente do Instituto Amazonense de Estudos e Pesquisas Médicas e da “Campanha da Boa Vontade”, o Dr. Miguel Martins, um dos valores mais expressivos da nova geração de médicos patrícios.

quarta-feira, setembro 11, 2024

JORNAL SÉCULO PASSADO

 Entre tantos periódicos de curta duração circulados em Manaus no século passado, encontra-se arquivado na Biblioteca Nacional o exemplar de O DEBATE, que chegava ilustrando sua capa com a foto do governador Silvério Nery.

Primeira página do jornal


sexta-feira, setembro 06, 2024

CORPO DE BOMBEIROS DO AMAZONAS

Ainda em comemoração aos 50 anos da instalação do Corpo de Bombeiros em Petrópolis, com a entrega do quartel e de equipamentos na Semana da Pátria de 1974, reproduzo imagens efetivadas pelo mago da fotografia em Manaus – Carlos Navarro Infante, algumas delas inseridas no meu livro Bombeiros do Amazonas (2013).



As fotos pertencem ao Carlos Navarro Infante, com mais um agradecimento

quinta-feira, setembro 05, 2024

EQUIPAMENTOS DO CORPO DE BOMBEIROS – 50 ANOS

50 anos, na tarde do Sete de Setembro, o Corpo de Bombeiros, então ancorado na Polícia Militar do Amazonas, subiu as escadarias da Matriz da Padroeira para demonstrar os equipamentos recém incorporados ao seu patrimônio. Manaus, então, podia confiar no desempenho dos “homens do fogo”, afinal a cidade havia presenciado cenas de desespero, algumas devido a carência material daquela unidade de socorro.
Auto Escada Metz, a primeira em Manaus (acima)
coronel Pedro Câmara👇

Assistiram ao adestramento o governador do Estado, João Walter, o comandante-geral da PMAM, coronel EB Lucy Coutinho, o comandante do CB/PMAM, coronel PM Pedro Câmara, entre tantos e povo em geral. Ainda do livro Bombeiros do Amazonas saquei esta memória que o coronel (hoje reformado) Osório Fonseca guardou desta Unidade. Lembrou-me, quando entrevistado, que foi comandante do quartel da Codajás entre 1978-79, e, perguntado sobre a incorporação deste serviço à Força Estadual, resumiu:

Em 1973, a PM assumiu o Corpo de Bombeiros. Logo, chegaram os carros, os equipamentos. Tornaram-se motivo de enorme vaidade para os policiais militares. Manuseá-los era demais, pois, nenhum bombeiro em Manaus vira uma Auto Escada que, equivocadamente, chamavam de magirus. Tratava-se, sim, de uma escada alemã, mas o fabricante era Metz. Para ostentação, exibia-se a auto escada em qualquer lugar ou reles oportunidade. Até para, do quartel, observar as margens do rio Negro, onde a balsa que leva para Manacapuru parava. Era o tal de levantar, "arvorar", descer a escada etc. Parecia até um "brinquedo" importado, porque não havia sequer prédio alto na cidade de Manaus.  

Detalhe da capa do livro

Desde 1998, emancipado da PM, o serviço de extinção de incêndios e outras atividades afins passou ao encargo do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas, que prospera conduzindo os “homens e mulheres do fogo”, “sempre prontos para pousar em meio ao horror das grandes hecatombes, para o labor sublime de salvar, de resgatar, de opor uma barreira aos desastres, aos sinistros, às catástrofes”, consoante glorificou o saudoso poeta Farias de Carvalho.


quarta-feira, setembro 04, 2024

QUARTEL DO CORPO DE BOMBEIROS – 50 ANOS

Neste 5 de setembro - feriado no Amazonas por sua independência política, completa-se o cinquentenário da inauguração do aquartelamento do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas na rua Codajás, bairro de Petrópolis. Esta expressiva alteração aconteceu no encadeamento da incorporação do serviço de contra incêndios, prestado pela Prefeitura de Manaus, à Polícia Militar do Amazonas, em 1973.

Quartel do Corpo de Bombeiros/PMAM, quando da
inauguração

Para melhor situar esta evolução, transcrevo alguns tópicos do meu livro Bombeiros do Amazonas (2013).

Detalhe da capa do livro

Consolidada a transferência do serviço em março de 1973, o Estado intensificou a renovação dos equipamentos de combate a incêndios, usufruindo dos benefícios da Zona Franca de Manaus. Nesse sentido, o governador João Walter (1971-75) baixou o decreto 2512/73 “autorizando adquirir, com dispensa de licitação, um Auto Escada, marca Metz; cinco Auto Bomba Tanque; dois Auto Salvamento e uma Plataforma de iluminação, marca Total”. Este “pacote” de viaturas foi adquirido na Alemanha, e inaugurado no desfile de 7 de Setembro de 1974.

Recorte do matutino A Crítica

A inauguração do quartel de Petrópolis ocorreu após o desfile do Dia da Pátria, com a presença do govenador em exercício, desembargador Lúcio Fonte de Rezende. A solenidade teve curta duração - 20 minutos, quando falou o governador; o coronel Lucy Coutinho, comandante da PMAM, e o coronel EB Odilon Spinelli, superintendente da Suplam, que explicou tecnicamente as obras concretizadas.

Placa alusiva a festa

Acerca do feito foi afixada uma placa comemorativa, ainda presente à entrada do aquartelamento.

domingo, setembro 01, 2024

ARLINDO PORTO (1929-2024)

Aos 95 anos, morreu Arlindo Augusto dos Santos Porto, nome augusto bastante glorificado na cidade de Manaus, onde participou e presidiu com brilhantismo cargos políticos, administrativos e de agremiações culturais. Travei adequada amizade com este mestre ao ingressar no IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), e, com mais intensidade, quando ele passou a presidir o Instituto. A Casa de Bernardo Ramos estava deteriorada, reclamando ampla reforma que, afinal, ocorreu em seu mandato. 

 
Arlindo Porto

Sempre com um sorriso disponível, foi um homem continuamente disposto a descrever suas peripécias, seja onde for. Daí me vem à memória o fato ocorrido no velório do saudoso Mário Ypiranga Monteiro, na Funerária Almir Neves, situada na rua Monsenhor Coutinho. Sentado ao lado de Arlindo, não me contive ao final do causo por ele contado. Fui às gargalhadas e, quando me dei conta da situação de acolhimento, saí às pressas do recinto.

O site da Academia Amazonense de Letras publicou uma postagem subscrita pelo acadêmico Robério Braga, que ilustra com mais atributos, ainda que resumidamente, a trajetória de Arlindo Porto.

Desejo enfatizar que Arlindo foi o derradeiro remanescente dos presos políticos ao tempo do Governo ou da Ditadura Militar (como queira), recolhidos ao quartel do 27º BC, hoje 1º BIS, localizado no bairro de São Jorge. O penúltimo foi Amazonino Armando Mendes (governador do Estado). Outro augusto preso foi Luiz Augusto de Lima Ruas, sacerdote comunista.   

Para encerrar minha homenagem ao Arlindo, vem-me ao pensamento outro fato, que ele me narrou umas vezes. Certo dia, o bispo do Amazonas – dom João de Souza Lima, foi visitar o padre Luiz Ruas no presídio militar. Obviamente, ao redor dos encarcerados. Conversa vai e vem, Arlindo teve a ideia de escrever uma carta à família, a fim de serenar sua casa, para tanto solicitou ao prelado que servisse de correio. Dom João prontamente aquiesceu, fazendo uma visita à residência do remetente. Arlindo não deixou de ser espiritualista, todavia morreu penhorado ao pastor amazonense.

Enfim, Arlindo Porto, ad immortalitatem!