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terça-feira, setembro 24, 2024

DUELO ENTRE JOGADORES NACIONALINOS (1969)

 A encrenca que aqui compartilho de um jornal manauara somente será lembrada pelos mais antigos torcedores do “mais querido” amazonense. Briga entre jogadores do mesmo clube sempre acontecem, ainda ontem (23) dois atletas do “Papão” paraense – ao vivo - foram separados pelos colegas. Todavia, a disputa que reproduzo foi bem mais grave, Lió e Berto, do Nacional FC, marcaram encontro na rodovia AM 010, para resolver uma desavença. Detalhe: usando armas, que permite assegurar tratar-se de um duelo.

Vamos aos fatos, narrados com muito arrebatamento pelo jornalismo de A Crítica, edição de 21 de fevereiro de 1969.

Recorte do mencionado jornal
 

UMA velha rixa que ninguém sabe de que nasceu culminou ontem com um duelo à bala entre Berto e Lió, logo após o treino do Nacional, clube pelo qual jogam no quadro titular. A equipe profissional do clube realizava o primeiro treino, depois do período carnavalesco, e tanto o zagueiro quanto o atacante jogavam pelo mesmo lado, quando de repente passaram a discutir. Apartados a tempo, acertaram os dois um “tira-cisma” para fora de campo. Sem aceitarem deixar por menos, os dois tomaram suas motonetas e rumaram para a AM-1, escolhendo o km 10 para o duelo.

Lió chegou um pouco atrás de Berto e foi recebido com uma saraivada de tiros, dos quais dois o atingiram em cheio. Puxou sua arma, e respondeu à bala, atingindo de leve o zagueiro. Depois da luta armada, acompanhada de perto pelos jogadores Mário Jorge e Chiquinho, e de longe pelos outros companheiros do time, Lió caiu sem forças e era transportado para o “Pronto Socorro São José”, enquanto Berto fugia num Volks de cor gelo.

DISCUSSÃO

Nenhum jogador do Nacional sabe a origem da discussão. Nem mesmo os que atuavam mais perto dos dois. Só viram quando um chamou o outro para brigar. Foi Berto que tomou a iniciativa e Lió topou a parada dizendo que era homem para brigar em qualquer parte. O técnico Barbosa Filho interveio com energia e fez ver aos dois que se quisessem brigar, deixassem para depois do treino, sob pena de estragarem sua carreira esportiva. Os dois concordaram em continuar o treino sem brigas, mas acertaram logo que depois iriam ajustar as contes.

Quando o “bate-bola” encerrou, no caminho para o vestiário ao lado da sede nova, Lió indagou a Berto: Como é, vai ser aqui, ou lá fora?

Nesta ocasião os outros jogadores chegaram e evitaram o choque, do que se aproveitou Berto para propor a saída para a AM 1. -- Aceito, e vou já, disse Lió.

Ambos entraram no vestiário sem ligar para os pedidos dos amigos, Berto nem tomou banho. Tirou o uniforme e vestiu uma calça preta e camisa branca, pegou sua “bereta”, botou na cintura e saiu em uma motoneta. Lió não se apressou muito. Tirou o uniforme, tomou banho, vestiu uma camisa, limpa e foi de calção para sua lambreta. Com uma diferença de dois minutos seguiu Berto pela Estrada do Parque 10. Os demais jogadores que têm motonetas seguiram atrás, mas os primeiros foram Mário Jorge e Chiquinho, que montava a “Honda” deste último.

Quando Berto atingiu o quilômetro 10, perto da Ponte do Parque 10, parou sua máquina e a colocou no descanso, passando a esperar por Lió. Quando este chegou e foi freando a lambreta, foi surpreendido com os tiros. Dois lhe atingiram em cheio, um no pé esquerdo e outro na inguinal direita (virilha). Se esquivando por trás da máquina, Lió tirou do porta-luvas um revólver e enfrentou o inimigo. Berto subiu o barranco, escondendo-se por trás de umas árvores. Lió na perseguição. De quando em quando, disparavam. No intervalo de um para outro tiro, Chiquinho e Mário Jorge se aproximavam dos dois pedindo por tudo que acabassem com aquilo. Mas Berto os afastava, apontando-lhes a arma. (...) 

POLÍCIA

Ao mesmo tempo em que que o comissário Salum Omar, da Delegacia de Segurança chegava ao Pronto Socorro, vários soldados da Polícia Militar iniciavam o trabalho de isolamento do hospital, pois populares estavam prejudicando a ação dos médicos e enfermeiros, querendo ver o jogador baleado. O comissário Salum Omar anotou alguns detalhes e tomou nota do nome de uns 10 jogadores que serão ouvidos hoje no inquérito instaurado. Até às 22 horas, Berto continuava desaparecido, embora houvesse a informação de que se encontrava na residência do advogado Benjamim Ramos.

Jogador Lió

QUEM É QUEM

Leonardo Andrade, baiano, 24 anos solteiro, é Lió. Joga no Nacional, onde é o maior ídolo da torcida, há quase dois anos. Durante este período esteve fora da equipe por duas vezes. Na primeira oportunidade foi a São Paulo operar os meniscos.  Depois, foi vítima de um acidente de trânsito montando a mesma lambreta que ontem utilizou para ir ao local do duelo. É tido como jogador padrão. Goza de grande cartaz com a diretoria do clube e com a torcida.

Lauriberto Ignácio é o nome de Berto, um crioulo de 1m72, quarto zagueiro do quadro nacionalino do qual se encontrava afastado por enfermidade. É um jogador de grande cartaz no seio da torcida, porém, tido como mau-caráter. Diferente de Lió — que com tudo concorda com a Diretoria -- Berto é tido como “um criador de casos”. Já andou até envolvido em casos policiais, numa das vezes por agressão a uma mulher. Há quem diga até que a rixa surgiu há quase um ano por causa de mulher.

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