CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, maio 31, 2024

"OLHOS" DE JONAS DA SILVA

 Postado em um jornal pequeno, como tantos que circularam na primeira metade do século passado, o ALMOFADINHA trazia uma expressiva novidade, quem sabe ser o primeiro dirigido e de propriedade de uma mulher: Eulina Thomé de Souza. Muito comum na época, na primeira página encontrava-se o poema de Jonas da Silva, já consagrado poeta da cidade. oxalá seja o poema inédito, segundo assinalado no texto. 

O Almofadinha circulou em primeira edição, em 2 de janeiro de 1922. Copiei o poema, adotando a ortografia vigente no país.

OLHOS

JONAS DA SILVA

São teus olhos, de Santa entre os anjos descida,

Para levar-me ao Céu ou levar-me ao Pecado,

Venezianas que dão para um mar azulado,

Verde e duplo mirante aberto sobre a Vida. 

Meu olhar é o de um rei que depois de um reinado

Numa terra de Sonhos, entre névoas perdida,

Morre como Saul, o grande rei suicida,

Pelo gládio do Tédio agudo e lanceolado. 

Que contraste entre os teus e os meus olhos e olheiras!

Os teus têm dos pombais a alegria sonora.

Os meus, fazem lembrar ogivas e seteiras 

De um castelo feudal, sobre o mar, num recife,

Onde um duende, uma sombra, um prisioneiro, chora,

Como Edmond Dantès na fortaleza d’If... 

(Inédito)

quinta-feira, maio 30, 2024

CORPUS CHRISTI, HOJE

A presente postagem acerca da festa religiosa católica é de criação de Renato Mendonça. 

REFLEXÕES SOBRE O CORPUS CHRISTI!

 
Extraído da internet

É um termo latino que significa “O Corpo de Cristo”. A sociedade, tão desatenta aos significados cristãos, comemora o dia de hoje apenas como mais um feriado incorporado ao nosso calendário. E alguns o transformam num feriadão, quando enforcam a sexta-feira junto. Poucos refletem o verdadeiro significado da solenidade, nem têm em conta qual o valor histórico e religioso da comemoração. A solenidade é uma festa móvel, que ocorre sempre na quinta-feira após o Domingo da Santíssima Trindade, que este ano sucedeu em 30 de maio. Todavia, se quisermos um referencial mais conhecido, podemos registrar que ocorre 60 dias após a Páscoa.

A festa litúrgica foi inspirada no início do século XIII, partindo de uma menina beata, de 16 anos, que teve diversas visões de Nosso Senhor, através da lua, enquanto exercitava suas orações eucarísticas; via-o numa faixa escura que, para ela, significava a ausência de uma festa litúrgica para honrar a Eucaristia de Jesus; para manter viva a mensagem do Cristo através de seus gestos mais emblemáticos: a partilha do pão e do vinho na Santa Ceia, para honrar o amor e a solidariedade; a lavagem dos pés dos discípulos, para honrar a humildade. Este é, talvez, o resumo pragmático de toda a Evangelização feita por Jesus nos três anos de ministério e pregação por onde passou. E uma parte desse legado, pode ser sintetizado em algumas palavras ditas naquele momento sublime da ceia com os discípulos: “Amai-vos uns aos outros, como eu voa amei” e “Tomai e comei todos vós, esse é o Pão da Vida”. Observem que ele não disse apenas “amai-vos uns aos outros”, mas completou: “como eu vos amei!”. Ou seja, um padrão, uma amostra. Um verdadeiro compêndio da fé e do amor.

A festa seria um contraponto para amainar a consternação com a Semana Santa, culminando com a crucificação de Jesus. Assim, a beata Juliana, de Mont Cornelon, em Liège na Bélgica, teve a inspiração para a instituição da festa. No entanto, inicialmente, ela foi incompreendida e até perseguida pelo clero, mas se manteve fiel à sua fé e entrou para a irmandade, tornando-se monja agostiniana. Longos anos depois, contou com o apoio de uma irmã da Ordem, Eva, para levar novamente a proposta ao Bispo de Liège e daí ao Papa Urbano IV, que iniciou os protocolos para a solenidade. Este, solicitou a São Tomás de Aquino para compor o Ofício do Santíssimo Sacramento, dentre eles o latino Tantum Ergo (tradução, Tão Sublime). Porém, com o falecimento do papa Urbano, a festa ficou esquecida por mais de quatro décadas. Só em 1311, o Papa Clemente V, durante o Concílio de Viena, deu vida à festividade para toda a Igreja em caráter universal, e instituiu a Procissão do Santo Sacramento! Lamentavelmente, Santa Juliana, não viu essa concretização, pois faleceu em 1258, aos 65 anos de idade.

MARANHÃO SOBRINHO EM "CINCO DE OUTUBRO" (1911)

 Em outubro de 1911, os lusitanos e simpatizantes residentes em Manaus publicaram o CINCO D'OUTUBRO, opúsculo comemorativo ao primeiro ano da República em Portugal. Entre as notações laudatícias encontra-se um poema de Maranhão Sobrinho, morto em Manaus em 1915, cuja obra perdeu-se por desleixo do autor. Tomara que este poema seja mais um inédito, e que chegue ao conhecimento de seus conterrâneos.

Compartilhei o poema do original, porém, acrescentei a versão sob a ortografia em vigor no país.


Aos heróis da Rotunda  

IMPÁVIDOS heróis de alma livre e fecunda

de sonhos, salve o sol de aquele claro dia

a cuja luz suprema e límpida ardentia

vos batestes leais e heroicos na Rotunda! 

Hoje, que o pátrio amor, as almas vos inunda

e o livre coração, que um rei vos oprimia,

eu venho vos saudar, e mais fazer queria

um pedestal erguer à vossa fé profunda! 

Ave, grandes heróis! A vós, de aqui, meus bravos,

a vós que numa pátria esplendida e liberta

transformastes de vez uma pátria de escravos!

 

Glória aos grandes heróis e aos grandes patriarcas

do Outubro redentor, que a fronte descoberta

provaram ser poeira o cetro dos monarcas!

Manaus, Outubro, 1911.

MARANHÃO SOBRINHO (Da Academia de Letras do Maranhão)


terça-feira, maio 28, 2024

NAVEGAÇÃO FLUVIAL NA AMAZÔNIA

 A maior rede de navegação a alcançar a Amazônia nacional e a Amazonia peruana (ao menos) foi realizada pelo SNAPP (Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará) que, como indica a nomenclatura, estava sediado em Belém (PA). Seus navios de diversos calados frequentavam os rios mais destacados, como se pode concluir da leitura do anúncio aqui postado. Adiante, este serviço recebeu modernos navios fabricados na Holanda e, mais adiante, em 1967, mudou a denominação para ENASA (Empresa de Navegação da Amazônia SA), vindo a desaparecer.

Sede do SNAPP, em Belém, ainda existente

Anúncio retirado do Jornal do Commercio,
circulado em agosto de 1944.


domingo, maio 26, 2024

CABO TELEGRÁFICO SUBFLUVIAL

Nunca mais se ouviu comentário ou se leu notícia sobre o cabo telegráfico fluvial que ligou as capitais do Norte ao final do século XIX e início do seguinte. Imagine-se a distância entre Manaus e Belém, seguindo as curvas do rio Amazonas. Ao lado das dificuldades técnicas de então! fácil é conceber a insipiente tecnologia imperante. Todavia, como as capitais esbanjavam recursos provenientes da exploração do látex, tudo era possível. Resultado: a queda da borracha desestimulou o funcionamento do cabo fluvial, abandonado, quem sabe, as piraíbas (brachyplatystoma filamentosum) o tenham consumido...

Capa do referido matutino (acima e abaixo)

Para que o cabo fluvial não se perca nos escaninhos da história, reproduzo uma notícia sobre o mesmo, publicada no extinto matutino A Federação, em Manaus, 22 de dezembro de 1895.

 


Em seguida publicamos as notícias telegráficas transmitidas a S. Exa. o Dr. Governador do Estado, acerca da próxima instalação do cabo subfluvial entre Manaus e Belém.

Rio, 12 dezembro 1895.

Exmo. Sr. Dr. Governador Amazonas. [Eduardo Ribeiro]

Tenho a honra de comunicar a V. Exa. que o vapor “Faraday” partiu hoje da Inglaterra trazendo a bordo o cabo telegráfico do Amazonas. O “Faraday” deve chegar ao Pará no fim deste mês e imediatamente dará começo ao lançamento do cabo. A pequena demora havida na sua partida foi devida a ter de esperar pela fabricação de certa quantidade de cabo que após os estudos definitivos foi julgado necessário acrescentar ao primitivamente encomendado. Apresento a V. Exa. os meus respeitosos cumprimentos. -- R. J. Reidy.

A fim de auxiliar o vapor “Faraday” na condução do cabo telegráfico, deve seguir em princípio do mês próximo, de Londres, o vapor “Maloem”, trazendo a parte do cabo destinado aos ramais.

Parte do pessoal contratado para o serviço de lançamento do cabo, quase em sua totalidade composta de telegrafistas brasileiros, chegará a Belém a 25 do corrente no paquete “Olinda”.

No porto desta capitai virá estacionar o vapor inglês “Viking”, a fim de ocorrer aos reparos da nova linha telegráfica. Calculam os empresários da linha que todo o serviço da linha ficará concluído em fevereiro vindouro.

sábado, maio 25, 2024

VOVÔ VASCO (1892-1969)

Vasco Faria
 Seu nome era Vasco José de Farias (1892-1969), nascido em Portugal e morto em Manaus. Marcou sua existência nesta cidade como sócio da Empresa A. Bernardino, cuidando com esmero do cinema Guarani, motivo pelo
qual, devido sua devoção e acolhimento ao público, recebeu a dadivosa alcunha de
Vovô Vasco. Quando de seu falecimento, um dos admiradores publicou em A Crítica (23 ago. 1969) a crônica aqui postada.

Do matutino A Crítica, Manaus, 23 ago. 1969

A respeito deste boníssimo lusitano, celebrado em seu profundo amor às crianças, em nosso Estado desde os treze anos de idade, ninguém diz novidade. E não porque, neste instante em que lhe deploramos o trespasse, aos setenta e sete anos bem vividos nesta Cidade de trezentos janeiros, que fez sua pelo coração, seu nome excede-se em repercussão e fixa-se nesta exata expressão de beleza, de título, de distinção e agradecimento de sucessivas gerações: VOVÔ VASCO. Reconhecê-lo, aclamá-lo assim numa apoteose de vulgarização citadina, expansiva, franca, é já de si realce, esplendor. Como bem se vê e entende, é criar em torno de sua vida, sem improvisação, sem falsas aparências, uma demonstração de louvores e agradecimentos. É dar-lhe espaço, horizonte na forma belíssima, acessível de nossa clarividência, de nossa ação, de nossa estima em tê-lo feito, através de nossos vereadores, CIDADÃO DE MANAUS.

VASCO FARIA teve uma vida de bondade monumental. Não chegou a ser rico, abastado. Não morava em palácio confortável. Trabalhou, fez-se presente ao seu querido Cinema Guarani, com aquela conhecida pontualidade, até ser atingido pela brutal doença que o levou, para sempre, de nosso convívio: da companhia de devotados amigos de longos anos como Alísio Chaves Ribeiro, os irmãos Cardoso da Editora Sérgio Cardoso, e os companheiro afeiçoados da empresa A. Bernardino & Cia. Ltda.

Da meninice à plena mocidade e desta à idade respeitável pela vetustez, nesta Terra outrora aceita como das patacas, não aprendeu a criar riqueza; ser, por exemplo, dono de grande casa comercial. Não, não aprendeu isso, é fato. Mas, sem dúvida, aprendeu a criar roteiros audiovisuais de fitas vistosas, ilustrativas, harmoniosas e de bom gosto para as crianças. Era um empolgado nesse cuidado de saber associar o mais arrebatador ao mais florido de boas ações nos filmes cinematográficos que oferecia aos frequentadores mirins do Guarani. Era, nessa soberbia de espírito, de argumentos revestidos de fatos educativos, um entendido de bons programas. Não foi homem despido do alto conhecimento das telas e das estátuas. Deu-nos, a ver, algumas vazes de rápida conversa, que, em sua bela e acessível humanização, soube abrir portas e janelas, respirar ao sol e dar-se na admiração de amplos espaços e horizontes. (...)

Soube viver, confundir-se, completar-se naqueles anos belíssimos de uma época faustosa. Manaus do seu tempo de mocidade, de seu mundo real e irreal em harmonia, misturado, conheceu-o, aplaudiu-o, gritou-lhe o nome, viveu com ele os quadros pomposos, risonhos, felizes de suas grandes alegrias. Foi um venturoso nessa satisfação que voa através das ótimas camaradagens de longos anos e de tantas coisas. Camaradagem que não se isola entre os espadachins românticos da sua fase cintilante. Que é história, lembrança de entusiasmos, de fatos agradáveis em encontros fortuitos de aniversários, de ruas e logradouros públicos. (...)

Já agora, nestes três últimos anos de sua vida, quando íamos ao Cinema Guarani, ao avistar-nos, fazia-nos o indefectível sinal. Parávamos. Conversávamos. Levantava-se, ia ao seu escritório e quando voltava passava-nos às mãos: jornais, revistas, boletins informativos e notícias de Portugal. Com o seu desaparecimento perco o boníssimo amigo e as ótimas e ilustrativas publicações que mas [a mim as] dava de sua extremosa Pátria do outro lado do Atlântico.

Congratulamo-nos, mais uma vez, com o fulgurante poeta Farias de Carvalho pelo belíssimo e carinhoso soneto [O Vasco do Guarani] que lhe ofereceu no magnifico PÁSSARO DE CINZA. Igualmente com os clarividentes e ilustres vereadores da Câmara Municipal de Manaus, e com o Sr. Prefeito [Paulo Pinto Nery], em face da adesão calorosa, pelo justo e digno título com que lhe homenagearam os méritos e lhe alegraram de boas recordações a alma e o coração. (...)

sexta-feira, maio 24, 2024

MANAUS: ANÚNCIOS DE MEDICAMENTOS (1906)

 Recolhidos do Jornal do Commercio (1906), inaugurado em 1904, quando renovou na capital do Amazonas a apresentação jornalística. Os anúncios eram produzidos fora de Manaus, cabendo ao técnico local o acréscimo do nome da farmácia vendedora. Nos dois recortes, a Drogaria Universal, que subsistiu por décadas na rua Marechal Deodoro. 

Tanto o perfume como o medicamento seguia a
mesma diretriz

Outra forma de divulgar os medicamentos era o emprego de figura da área médica, inclusive com a divulgação de sua foto, para melhor enfatizar as propriedades curativas. Nesta direção, vê-se o emprego do dr. Alfredo da Matta.  

Dr. Alfredo da Matta, médico-
propagandista

terça-feira, maio 21, 2024

INSTITUTO "MELO MATOS"

 O governador Arthur Reis (1964-67) ao assumir encontrou em Manaus a instituição correcional para menores. Havia o "Melo Matos", destinado ao sexo masculino, e a "Maria Madalena", para as jovens. Era um terror (meu saudoso genitor prometia, sempre que eu cometia alguma traquinagem, me internar naquela repartição). Estava localizado no bairro de Flores, tendo desaparecido com a construção do estádio de futebol Vivaldão, e soterrado ainda mais com a Arena da Amazônia.

Recortado de O Jornal, 15 nov. 1966

Reis, primeiro recuperou o "Melo Matos", para cuidar dos infratores, é o que narra o matutino O Jornal, de 15 de novembro de 1966. O prédio da "Maria Madalena" segue em funcionamento, ora sob a égide do Ministério Público.

domingo, maio 19, 2024

ENCHENTES AMAZONENSES

 Somente para lembrar tristemente a enchente que anualmente marca presença na região amazônica; na última década com bastante força. No momento em que este fenômeno atinge o Rio Grande do Sul

A cheia dos rios na capital (acima) e
no interior (abaixo). fotos de Gunter Engel 



sábado, maio 18, 2024

JOSÉ MANUEL MENDOZA (1916-2014) (2)

J. Manuel Mendoza

 Há Dez Anos

18.05.2024

Renato Mendonça

 Caros irmãos,

Há exatos dez anos, e aproximadamente nesta mesma hora, nosso pai encerrava sua biografia. Em São Paulo, num leito de hospital, foi vitimado covardemente pelo câncer; e não foi só a doença que o derrotou, contou ainda com a contribuição derradeira da ação médica que tentou extirpar esse carcinoma.

Gostaria que esta data, assim como outras de tanta importância para o nosso universo familiar, não caísse no esquecimento. Sei que muitas vezes nos distraímos dentro da ciranda de tantos compromissos da vida moderna, que até esquecemos de reverenciar uma criatura de tamanha importância dentro de nossa história.

J. Manuel Mendoza

Assim sendo, eu iria solicitar a cada um partilhasse — pode ser usado o WhatsApp — com os outros irmãos os momentos mais impactantes, os ensinamentos ou as mensagens que absorveu, ou aquilo que ficou sedimentado em vossos corações. Pode fazer em texto livre de estrutura verbal, não se preocupem com a gramática, mas deixem que a emoção participe fale por vocês. Depois quero fazer um texto único, numa crônica à várias mãos, e deixar para a posteridade.

Além de tudo o que já publiquei, quero deixar claro que o exemplo de dedicação, feito um pastor cuidando de ovelhas, e o empenho arraigado para que tivéssemos educação e cultura, para mim foi o grande legado. Há momentos lúdicos de minha infância, e muitos deles estão descritos nos meus livros. Mas, um ficou ainda inédito: quando eu tinha entre quatro e cinco anos, eu costumava mijar na cama. Era uma incontinência que eu não conseguia controlar. E muitas vezes acordei, exatamente quando meu pai trocava o meu pijama... Para não levar bronca, ou talvez envergonhado, eu fingia que estava dormindo. Um belo dia, conversando com Deus, ele me disse: depois das 18 horas, depois que você rezar a Ave-Maria, não bebas mais água, nem se estiver com sede. Fiz isso, e nunca mais aconteceu...

São tantas lembranças, e tanta herança que ainda hoje usufruo, como por exemplo, a do ofício de carpinteiro.

Que Deus o guarde e o mantenha sob a sua Luz. Amém.

JOSÉ MANUEL MENDOZA (1916-2014)

 Completam-se hoje dez anos do falecimento do “seu” Manuel Mendonça, meu genitor, fato acontecido na cidade de São Paulo, onde ele morava. Nascido no Peru, foi levado pela mãe para Manaus, onde implantou as famílias que a viuvez permitiu. Somos oito filhos de dois casamentos. Seu amor por Manaus, nos levou à decisão de que seu corpo fosse transladado para aquela capital, onde repousa no cemitério São Francisco, situado em ponto elevado da cidade, como se seguisse observando a cidade de sua paixão.

Registro do selo personalizado pelo centenário e demais
encontros familiares

Os filhos crescendo buscaram se adequar onde melhor pudessem evoluir. Assim, nas regiões sudeste e sul se encontram os filhos do “seu” Manuel. Uma única vez, foi possível juntar a família (foto central acima); depois não mais, apesar de vários encontros, como sinalizam os demais registros. 

sexta-feira, maio 17, 2024

PIQUETE DE CAVALARIA PMAM

Quando de sua criação na primeira década do século passado, esteve situado na atual avenida Duque de Caxias, pertencente à Força Policial estadual. A localização, atento à entrada do aquartelamento, era (e continua) pela rua Dr. Machado, ora limitado pela Maternidade e o igarapé do Mestre Chico. Com o definhamento do Estado, desapareceu a Cavalaria policial, e o terreno esteve desocupado até que foi construída a Maternidade Balbina Mestrinho. No entanto, aquela localização seguiu conhecida durante décadas, no bairro da Praça 14, como Piquete.

Foto do Piquete, de 1964, reconstruída por Ed Lincon
 
Em 1972, o comando da corporação decidiu construir um quartel no local do lendário Piquete. Deste, guardou-se com devotamento o Portão que guarneceu o Piquete. O portão segue adornando o pátio frontal do atual CPM (Comando do Policiamento Metropolitano).

Ed Lincon, estimado artista e caçador de relíquias históricas, encontrou uma foto do Piquete em saudoso jornal da cidade. A foto era quase um fantasma. Ele a refez com sua arte, deu-lhe cores e, certamente, trata-se do único instantâneo do desaparecido Piquete. Grato, Ed Lincon, sua obra segue exposta.

quarta-feira, maio 15, 2024

VOLUNTÁRIOS DO COMANDANTE VENTURA

No século passado, Manaus foi assistida em duas oportunidades por Bombeiros Voluntários: no governo de Silvério Nery (1900-04) e, entre 1952-61, conduzida por entidade privada. Este segundo desempenho, seja pela duração, seja pela indigência que assolava o município, marcou sua presença. A sociedade era composta de autoridades e comerciantes, liderados por José Antonio Dias Loureiro Ventura (1897-1961), nascido em Porto (POR) e alcunhado de comandante Ventura.  A sede usava as dependências da Luzitana Industrial Ltda., pertencente ao comandante, em Aparecida, onde hoje funciona o Fórum Des. Mário Verçosa.

Criado em 1952, dois anos depois os Voluntários desfrutavam da confiança do povo e dos governantes. Tanto que lhe foi destinado pelo governo carros próprios de combate ao fogo. Nesse sentido, bem expressa o editorial do Diário da Tarde (11 jan. 1954), que aqui vai transcrito. 

Ilustração sobre o editorial do Diário da Tarde, 11 jan. 1954

Realmente notável é o papel que desempenha, em nossa capital, a Sociedade dos Bombeiros Voluntários. Fundada em 1952 por um grupo de homens idealistas, de cidadãos dotados dos mais elevados propósitos de servir à terra e ao povo, a entidade, hoje em dia, com menos de dois anos de existência, constitui em verdade a garantia única de nossa gente, nos duros combates contra os traiçoeiros incêndios.

Começando suas atividade com um carro pequenino, sob a descrença de muitos e o estímulo de poucos, a Sociedade, paulatinamente, foi vencendo as grandes dificuldades e, no momento, graças à cooperação emprestada pelo governador Gama e Silva, já dispõe de um patrimônio apreciável, tanto assim que, reforçado por mais alguns auxílios que não deixará de prestar s. exa., — ela, a Sociedade, ficará em condições de poder manter um carro em Constantinópolis (Usina “Labor”); outro em São Raimundo; outro na ilha de Monte Cristo (Usina “Estrela”); outro em Adrianópolis; outro na Cachoeirinha; e ainda outro no quartel central, no bairro de Aparecida, para maior e mais afetiva proteção de nossa coletividade.

ATIVIDADES GRANDIOSAS

Mesmo sem o auxílio governamental, expressivo, e condizente com o seu programa de tão alta envergadura, os Bombeiros Voluntários, no entanto, desde o seu surgimento, tendo um comandante com a disposição, o entusiasmo e a fibra de José Ventura, passaram a prestar à coletividade relevantes serviços, quer nas árduas lutas contra o fogo; sem equipamento adequado e eficiente, quer no fornecimento de água a hospitais, quer ainda em outras atividades de interesse do nosso povo.

Voluntários na expressão da palavra, sem visar em consequência qualquer remuneração, esses “soldados do fogo”, sob à direção de José Ventura, vêm cumprindo, com galhardia e sob os calorosos aplausos de sua população, o seu altruístico objetivo.

Dia e noite, eles estão alertas. E, ao menor sinal de incêndio, ou ao simples chamado de entidades ou particulares, para condução de água, eles saem velozes, alegres e dispostos a atender. Não há conveniência, da parte dos seus membros. A todos satisfazem, indistintamente, pondo inclusive, em perigo, suas preciosas vidas.

DEVE HAVER ESTÍMULO E APOIO  

Ninguém desconhece que, desde à sua organização, os Bombeiros Voluntários têm tomado parte ativa e decisiva, no combate aos últimos incêndios verificados em Manaus. E, mercê dessa interferência, imensos prejuízos têm sido evitados. Prestando, como vêm prestando e prestarão sempre, trabalho altamente meritório à nossa gente, os Voluntários fazem jus a toda sorte de estímulo, de incentivo e apoio, seja da parte do governo, seja da parte de entidades particulares, seja do próprio povo.

É certo que eles não pretendem, para si, pessoalmente, compensações. No entanto, desejam o fortalecimento de sua corporação, o que é muito justo e necessário, pois, dispondo de melhor equipamento, poderão prestar a todos nós um serviço mais eficiente, mais positivo. Assim, cada habitante de Manaus, deve ser um defensor, um incentivador dos Voluntários, para que eles, amparados e protegidos nas suas atividades, possam prosseguir na sua campanha, no seu movimento em favor da segurança e da tranquilidade de nossa população.

 

terça-feira, maio 14, 2024

ANÍSIO MELLO (1927-2010)

A postagem objetiva relembrar outro cultor das belas artes; refiro-me ao multiartista Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello (1927-2010), morto há 14 anos, em abril de 2010. A fim de recordar a amizade e nossas boas conversas, compartilho um registro do saudoso acadêmico Waldemar Batista de Salles. Salles publicou a crônica exaltando ao Anísio Mello, quando este promoveu sua primeira exposição. A amostra ocorreu na Biblioteca Pública, em 1952, mesmo ano em que Anísio publicou Minhas Vitórias Régias (poesia), e dois anos após sua estreia na literatura com Lira Nascente (poesia). (*)

 



(...) Derrubando, esmagando, no entanto, este pesado véu e este ar provinciano, fomos visitar na semana última, no andar térreo da Biblioteca Pública, a exposição de quadros feita pelo pintor amazonense Anísio Melo. O artista, na sua simplicidade e na sua modéstia, se nos apresentou quadros admiráveis, nos quais se pode notar, desde logo, o brilho futuro que o espera, nessa difícil arte de pintar. Aliás, coisa rara em pintor, além de ser um artista de cores sóbrias e interessantes, é também poeta, pois tem livros publicados, demonstrando, assim, que pode fazer versos e empunhar o pincel.

Os seus quadros, alguns dos quais de motivos locais e paisagens amazônicas, não desmerecem qualquer artista do Sul e são expressões, sinceras, de seu gênio criador. Claro que a pintura não pode apresentar, unicamente, modelos clássicos, à semelhança de Rafael e tantos outros, pois a própria pintura também sofre a influência da civilização, dessa civilização que reduziu modelos antigos e formas clássicas em monstrengos da chamada arte moderna.  

Acontece, porém, que Anísio Mello, com rara habilidade, soube trazer aos seus quadros alguns aspectos da natureza amazônica, trechos e ângulos de novas paisagens, vitórias régias, igarapés e flores. Tudo enfim que serve para dar vida e beleza e que os pinceis, pela magia do artista, apresenta aos nossos olhos ávidos de beleza.

Constituiu, portanto, motivo de júbilo, assistir a exposição do jovem pintor amazonense, que promete ter brilhante futuro ao lado dos melhores pintores nacionais. Não lhe faltam talento, força de vontade, nem dotes artísticos, podendo prosseguir dando vida e expressão, naquilo que nós outros, leigos e simples admiradores, sentimos, mas não podemos fazer.

Não obstante todo o barulho e gritaria que fazem em torno da chamada arte moderna, na qual monstrengos e figuras irreconhecíveis são apresentadas como expressões de arte, a pintura clássica ainda permanece na sua beleza e no seu esplendor, porque se podemos hipertrofiar as cores e as figuras, não podemos alterar a própria natureza, nem os seres que nela vivem. Assim o verdadeiro artista não procura deformar o que na verdade não existe. Se há deformação, essa deformação existe nos homens, não nas paisagens, na natureza.

Daí a beleza sempre nova que encontramos na pintura, especialmente quando ela espelha os anseios do povo ou a natureza. Há, mesmo, quadros bastante interessantes, nos quais as tintas e as cores formam um todo harmonioso, bem expressivo, do espírito estético do artista. E destacam-se entre esses, os denominados – Charco, Amore, Psique, Quitunde, Paisagem amazônica e Primavera. Enfim, um amazonense que procurou se destacar aqui mesmo, procurando fazer arte usando a cabeça e a inteligência.

(*) Publicado no DIÁRIO DA TARDE , –em 1º agosto 1952


MANUEL BESSA FILHO (1931-2023) (2)

Renovo meus respeitos ao falecido Manoel Bessa Filho, que exerceu múltiplos encargos em nossa cidade, morto em agosto do ano passado, aos 92 anos. Sempre que encontrava o xará, repetia: não sei se lhe tomo a benção (devido ao sacerdócio) ou presto a regulamentar continência, por sua atuação no Auditoria Militar da Força Estadual. Guardo, todavia, não tanto em segredo, pois os livros de assentamentos registram, com gratidão a “meia condenação” que me aplicou, quando julgado na Auditoria.

Esta homenagem ocorre com a reprodução de uma carta aberta que o então reverendo, diretor do Colégio Estadual, publicou no Diário da Tarde, de 4 de agosto de 1956, dirigida ao coronel presidente da Petrobras.

Tópico do referido vespertino, 4 ago. 1956

Sei que V. Sa. não deve dar muita importância ao que se diz na imprensa. E quando esta é do Amazonas, aí então nem se fala. O Amazonas é pobre, não tem indústrias, não tem nada mesmo, nem sequer o direito de ser sede de coisa alguma da Amazônia. Só ainda é sede de missão religiosa e inspetorias de índios. Mas leia, em todo caso, Coronel, leia o que lhe vou escrever.

Não sou ninguém na vida para dirigir-me a V. Sa. Sou o Padre Bessa, só Padre Bessa, nada mais. Renunciei ser pai pela carne abraçando o sacerdócio católico, mas tenho mil e duzentos filhos no espírito. Raramente sirvo-me da imprensa escrita ainda que milite na falada. O tempo não chega para tudo. Nem para defender-me. Se me atacam, venho aos jornais. Mas, desta vez, o negócio mudou.

Mexeram com meus filhos, Coronel, e eu sou pai. Vou contar-lhe tudo direito e veia se não tenho razão. Estou dirigindo, há menos de dois anos, o Colégio Estadual do Amazonas. Viajei pelos Estados Unidos, não recuso “Coca-Cola” gelada, mas acho que “o Petróleo é nosso”. Tive sempre a veleidade de querer formar uma juventude sadia, patriota -- mesmo sendo brasileira — crente, ao menos, do futuro do Brasil. Sou admirador, defensor e propagandista da Petrobras. Já organizei quatro excursões a Nova Olinda, lá estive quando da visita do J.K., divulgo as publicações que recebo, sem contar as palestras na Polícia Militar, no Colégio ou nos programas de rádio.

A Petrobras, até mesmo na sua organização sempre me pareceu coisa séria. Mas desta vez não foi. E é por isso que dirijo a V. Sia. No começo deste ano (não me comprometo com datas) fui procurado pelo eng. Levindo Carneiro, diversas vezes na diretoria do Colégio. Falta de sorte, nunca nos avistamos. Telefonei enfim para o Hotel Amazonas. A Petrobras precisava uns vinte rapazes, que tivessem ao menos o curso ginasial. Um curso de sondadores, ao que parece. Lá, em Nova Olinda. No começo seria duro, mas depois as coisas iriam melhorar. Mandei uma dúzia de meus filhos. Não pense que é demagogia não. Pergunte a eles se não os estimo como filhos. Visitei-os quatro vezes. Cheios de patriótica alegria eles "davam um duro” como qualquer trabalhador braçal. Aguardavam o “curso”. Os meses passaram, o trabalho continuava, o tratamento piorava. Até hoje a única palavra que ouviram sobre o assunto foi de que era aquilo mesmo e se não quisessem...

segunda-feira, maio 13, 2024

MANUEL BESSA FILHO (1931-2023)

 Ano passado, ao organizar um livro do desembargador Neuzimar Pinheiro (acerca dos 40 anos de magistratura), incluí uma homenagem ao padre-juiz Bessa Filho, transcrevendo na orelha do volume uma crônica dele sobre o amigo-xará, ex-presidente do TJAM (Tribunal de Justiça do Amazonas). A fim de requerer “autorização” do cronista, eram dois Manuel (Neuzimar e eu) em busca do terceiro: Manuel Bessa. E nada. Somente semana passada, revisando meu Blog do coronel Roberto, alcancei a notícia do falecimento dele, ocorrido em 7 de agosto do ano passado, aos 92 anos de idade. Bessa possui uma história multifacetada em nossa capital e outros recantos do Mundo, parte dela ele narrou em entrevista para este blogueiro.

Bessa, nascido em Manaus, encerrou sua preparação para o sacerdócio no Canada. Em 1954, tornou-se sacerdote na catedral de Nossa Senhora da Conceição. Logo ingressou no quadro de professores do Colégio Estadual e, em 1956, foi nomeado Diretor daquela Casa de Ensino. E, três anos depois, conforme esta postagem, foi eleito Vereador de Manaus.

 

Recorte de O Jornal, 30 out. 1959

À tarde de ontem, na Segunda Zona Eleitoral, foi realizada a diplomação dos candidatos eleitos para a Câmara Municipal de Manaus, no pleito que se realizou no dia 3 mês em curso.

Ao ato estiveram presentes os srs. Jair Cavalcante, Evandro das Neves Carreira, Manuel Rodrigues, Padre Manoel Bessa Filho, Rodolfo Vale, José Araripe, Albino Fortes, João Zany dos Reis, Walter Rayol e Raimundo Coelho, representando o sr. Francisco Plinio Coelho. Esteve ausente o sr. Xenofonte Antony que se encontra fora de nosso Estado.

A solenidade foi realizada com a presença de representante do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Orlando Soares Monteiro, e do juiz Raimundo Cordeiro de Magalhães, que dirigiu o pleito em nossa capital.

A partir de ontem, portanto, estão diplomados os novos vereadores do município de Manaus, eleitos à 3 de outubro corrente.

MARANHÃO SOBRINHO (1879-1915)

O texto aqui postado foi compartilhado de O Jornal, editado em Manaus a 12 de fevereiro de 1967, de autoria de Clovis Pereira Ramos (1922-2003). Pesquisador emérito de diversos ramos da literatura, ao mesmo tempo que de literatos, fez nesta página uma apreciação do poeta Maranhão Sobrinho, nascido em Barra do Corda - MA, em 1879, e morto em Manaus, no Natal de 1915. Tomei a iniciativa de adaptar o texto à ortografia corrente, acrescendo entre colchetes alguma informação que entendi relevante.


Quando se fizer o estudo da poesia mística do Brasil, tão belo e expressiva, José Américo dos Albuquerque Maranhão Sobrinho, terá um lugar de justo destaque. Também na poesia amorosa lírica, foi ele um mestre insigne.

Misticismo e sensualidade são traços evidentes no poeta de Estatuetas, Papéis Velhos e Victórias Régias, que, vindo do parnasianismo, encontrou na estética de [Stephane] Mallarmé o caminho certo de sua Arte: beleza, musicalidade, a harmonia do verso qualidades que soube irmanar ao rigor da forma, à elegância das ideias.

Para a leitura completa: Maranhão Sobrinho

domingo, maio 12, 2024

MAIS UMA HOMENAGEM

 

DIA DA MÃE

12.05.2024


Renato Mendonça

 Quando eu a vejo, paralisada dentro do belo quadro, fixado na parede azul claro do meu quarto, e olho em seus olhos, sinto que ela esteve conversando com o Senhor; intuo que ela quer me transmitir seus ensinamentos aprendidos na curta passagem pela vida terrena e os de agora, na vida espiritual. Não sei como isso pode acontecer, mas tenho certeza de que acontece...


Dona Dora

Recebo sua mensagem metafísica mesmo não estando mais ali na sua presença. E, às vezes, acredito que Deus quer me motivar, e a usa para isso: abastece-me com a força da sua fé; cumula-me com o discernimento para invocar a sacralidade das coisas, como se fosse um modo de escutá-Lo; faz-me compreender a emblemática da nossa natureza humana, a fim de percorrer o difícil caminho da felicidade.

Francisca P. Lima

É místico! É mágico e esplêndido sentir esses fluídos positivos invadindo a alma, apesar de parecer estranho para a maioria das pessoas. Porque esse comportamento transcende o entendimento habitual, as pessoas só acreditam em coisas palpáveis, e não percebem que o que movimenta o nosso corpo é o espírito. E esse espírito — imortal! — não tem idade, não se presta ao descanso; quer nos animar sempre, mesmo que as adversidades estejam ali presentes.

Não desejo individualizar esta homenagem, a despeito da introdução se referir apenas à minha mãe. Quem me deu à Luz, assim como a mãe de Jesus, representa todas as mães que pude conviver e me abastecer de seus carinhos, mimos e ensinamentos. E foram algumas, com os seus estereótipos diversos, mas com seus encantamentos únicos, sublimes. Eu sou fã de todas as mães verdadeiras, aquelas que sofrem ou se encantam com seus filhos, as que têm a empatia materna tatuada no coração; há aquelas que, além de cuidar e educar os filhos, ainda têm a sua função de filha dedicada, zelam por seus pais idosos ou doentes. Nutro por essas espetaculares criaturas humanas um sentimento de admiração, de carinho e, simbolicamente, quero consagrá-las no altar da glória de Deus. 

Neste dia, escolhido em um domingo do calendário, exclusivamente para homenagear essas altivas criaturas humanas, desejo me congratular com todas elas, com essa legião de anjos terrestres e celestes.

Além de minha mãe, não posso deixar de lembrar de minha avó, Dona Victoria Malafaya. Uma mulher iletrada, mas sábia na condução de uma família destroçada, que soube suprir como uma matriarca, a perda de minha mãe, falecida precocemente. Ensinou-me o caminho do discernimento juvenil e, também, o seu idioma castelhano, que ainda hoje carrego comigo na mente e no coração. Livrou-me muitas vezes dos castigos que meu pai queria me impor, por minhas peraltices. Com sua sabedoria inca, apenas fazia-o refletir que eu era um menino ainda, órfão, e necessitava de amor, carinho e compreensão. E ela soube, em raros momentos de sua vida, me doar esses sentimentos.

Dona Doroteia Santos, foi uma madrasta revestida com uma auréola de mãe verdadeira. Sofremos juntos as dificuldades de uma família humilde numa cidade sem perspectiva econômica dos anos 1960. Ela ensinou-se como lidar com as adversidades e me mostrou um estoicismo incomum para uma mulher com sua limitação cultural. Junto com ela, aprendi que o trabalho dignifica qualquer pessoa, em qualquer idade; aprendi como cuidar os meus irmãos menores, da nova geração; ao lado dela descobri que para ser feliz não necessariamente precisamos de bens materiais, precisamos ter fé no futuro e se rejubilar com o presente. Com aquilo que Deus nos oferece em cada etapa da nossa vida.

A todas essas mães, e outras que falarei em breve, minha gratidão e meu apreço.

Minha congratulação, Mães, em todas as dimensões! 

DIA DAS MÃES - 2024

Minha saudação às MÃES pelo seu DIA consagrado, às mães que me ajudaram neste caminhar; relembro as esposas e abraço as filhas que completam o bem viver.

Curitiba, 12 de maio


Composição do autor da postagem 

quinta-feira, maio 09, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (32)

Novo capítulo da história da Guarda Policial, atual Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

 

 

Jonathas Pedrosa, médico

 

Movimentações na Guarda em 1886

Em 19 de julho, o cidadão Teodoro Monteiro da Cunha é nomeado para o cargo de alferes quartel-mestre e secretário-ajudante, estabelecido pela Lei 730, de maio desse ano. Por cidadão, entenda-se uma pessoa sem qualificação militar, ou seja, o aproveitamento de elemento disponível e capacitado.

Em 11 de agosto – a presidência nomeia o capitão Miguel Victor de Andrade Figueira, o tenente Menandro Leandro Monteiro Tapajós e o bacharel Felipe de Azevedo Faro para, em comissão, propor alterações no Regulamento nº 51, de junho de 1884. O resultado já estabelecido pela comissão dependia de exame daquela autoridade.

Em 25 de agosto – são concedidos três meses de licença para tratar da saúde fora da província, ao Dr. Jonatas de Freitas Pedrosa, médico da Guarda. Para substitui-lo foi nomeado, a 3 de setembro, o Dr. Júlio Mário da Serra Freire, que adiante foi substituído pelo Dr. Joaquim Mariano Bayma do Lago (médico do Exército). Enfim, a licença do titular foi prorrogada por igual período, em 29 de novembro. São os primeiros médicos da corporação, ou, mais adequado, que apenas prestaram serviço ao corpo policial. Pedrosa foi senador e governador do Estado (1913-17).

Em 5 de outubro – foi nomeada a comissão composta de José Joaquim Pinto de França, 1º escriturário do Tesouro; Manoel Antônio Rodrigues Pará, tenente da Guarda; e Júlio Pinto de Almeida, oficial de Fazenda, para examinar as contas do ex-comandante da Guarda, Francisco Antônio Nepomuceno.

1887 - Inclusão de praças

Em Exposição ao Poder Legislativo, em 10 de março, o vice-presidente Comendador Clementino repete o mantra: o Corpo Policial encontra-se desfalcado de praças. E esse desfalque era de tal ordem que não permitia o policiamento da capital, pois “acha-se a maior parte da força destacada em diversas localidades do interior”. Para suprir a discrepância, aquela autoridade manda contratar fora da província novos Guardas. Repercute, porém, uma inovação com essa “importação”. O contratante toma rumo diferente, não o Nordeste, porém, as províncias do Sul para “contratar pessoal idôneo”. O encarregado dessa comissão foi o tenente José Soares de Souza Fogo, que embarcara um mês antes, a 11 de fevereiro.

Finalizando a exposição, o vice-presidente consignou a desditosa consideração acerca dos policiais: são difíceis os engajamentos e, quando tais acontecem, “se faz com pessoal pouco idôneo”. Em contraponto, ressalta que a cidade de Manaus oferece “tantos e melhores meios de vida aos que querem trabalhar”. Entenda-se como quiser.

sábado, maio 04, 2024

PREFEITO DE MANAUS: 1924

A duração do mandato deste Prefeito foi muitíssima curta, durou de 16 de fevereiro a 1º de abril de 1924, sem que eu conheça a motivação. Trata-se de Francisco das Chagas Aguiar, integrante do PRC (Partido Republicano Conservador), que enfrentou os "maus governantes" no tumultuado ano de 1924, marcado pela Rebelião das forças federais, cognominada de Ribeiro Junior (tenente EB),que foi  empossado no Poder Executivo, após defenestrado o titular Cezar do Rego Monteiro.
A postagem reproduz a lembrança ao falecido prefeito de Manaus, efetivada na revista Redempção, circulada em novembro de 1932.  
Francisco das Chagas Aguiar
revista Redempção
Dr. Francisco das Chagas Aguiar, o prefeito de Manaus durante a revolução [Ribeiro Junior] de [julho] 1924. Era realmente um amazônida — ninguém melhor definiu o neologismo de Álvaro Maia. O estomago, que lhe deu grandes aflições, nunca teve influência sobre a sua consciência, sempre rebelada contra os maus administradores da sua terra.

Foi um valor, feito aqui mesmo. Grande professor de topografia, mineralogia e geologia e autor aplaudido de vários trabalhos científicos, entre os quais se destacam ATLAS CELESTE AGUIAR, LUNÁRIO PERPÉTUO e os DISCOS HEMEREOLÓGICOS.

Pela Escola Agronômica de Manaus mereceu um prêmio de viagem à América do Norte. A Exposição do Centenário deu-lhe uma medalha de ouro, em virtude de um trabalho seu sobre astronomia. Nessa época, lá na metrópole [Rio de Janeiro], numa polemica pelas colunas de A Noite venceu o sábio Henrique Morize [francês, engenheiro industrial, 1860-1930].

Morreu, com 34 anos, respeitável e respeitado.

PS. Acrescentei entre colchetes algumas informações que julguei conveniente para melhor entendimento.