CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, maio 14, 2024

ANÍSIO MELLO (1927-2010)

A postagem objetiva relembrar outro cultor das belas artes; refiro-me ao multiartista Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello (1927-2010), morto há 14 anos, em abril de 2010. A fim de recordar a amizade e nossas boas conversas, compartilho um registro do saudoso acadêmico Waldemar Batista de Salles. Salles publicou a crônica exaltando ao Anísio Mello, quando este promoveu sua primeira exposição. A amostra ocorreu na Biblioteca Pública, em 1952, mesmo ano em que Anísio publicou Minhas Vitórias Régias (poesia), e dois anos após sua estreia na literatura com Lira Nascente (poesia). (*)

 



(...) Derrubando, esmagando, no entanto, este pesado véu e este ar provinciano, fomos visitar na semana última, no andar térreo da Biblioteca Pública, a exposição de quadros feita pelo pintor amazonense Anísio Melo. O artista, na sua simplicidade e na sua modéstia, se nos apresentou quadros admiráveis, nos quais se pode notar, desde logo, o brilho futuro que o espera, nessa difícil arte de pintar. Aliás, coisa rara em pintor, além de ser um artista de cores sóbrias e interessantes, é também poeta, pois tem livros publicados, demonstrando, assim, que pode fazer versos e empunhar o pincel.

Os seus quadros, alguns dos quais de motivos locais e paisagens amazônicas, não desmerecem qualquer artista do Sul e são expressões, sinceras, de seu gênio criador. Claro que a pintura não pode apresentar, unicamente, modelos clássicos, à semelhança de Rafael e tantos outros, pois a própria pintura também sofre a influência da civilização, dessa civilização que reduziu modelos antigos e formas clássicas em monstrengos da chamada arte moderna.  

Acontece, porém, que Anísio Mello, com rara habilidade, soube trazer aos seus quadros alguns aspectos da natureza amazônica, trechos e ângulos de novas paisagens, vitórias régias, igarapés e flores. Tudo enfim que serve para dar vida e beleza e que os pinceis, pela magia do artista, apresenta aos nossos olhos ávidos de beleza.

Constituiu, portanto, motivo de júbilo, assistir a exposição do jovem pintor amazonense, que promete ter brilhante futuro ao lado dos melhores pintores nacionais. Não lhe faltam talento, força de vontade, nem dotes artísticos, podendo prosseguir dando vida e expressão, naquilo que nós outros, leigos e simples admiradores, sentimos, mas não podemos fazer.

Não obstante todo o barulho e gritaria que fazem em torno da chamada arte moderna, na qual monstrengos e figuras irreconhecíveis são apresentadas como expressões de arte, a pintura clássica ainda permanece na sua beleza e no seu esplendor, porque se podemos hipertrofiar as cores e as figuras, não podemos alterar a própria natureza, nem os seres que nela vivem. Assim o verdadeiro artista não procura deformar o que na verdade não existe. Se há deformação, essa deformação existe nos homens, não nas paisagens, na natureza.

Daí a beleza sempre nova que encontramos na pintura, especialmente quando ela espelha os anseios do povo ou a natureza. Há, mesmo, quadros bastante interessantes, nos quais as tintas e as cores formam um todo harmonioso, bem expressivo, do espírito estético do artista. E destacam-se entre esses, os denominados – Charco, Amore, Psique, Quitunde, Paisagem amazônica e Primavera. Enfim, um amazonense que procurou se destacar aqui mesmo, procurando fazer arte usando a cabeça e a inteligência.

(*) Publicado no DIÁRIO DA TARDE , –em 1º agosto 1952


Nenhum comentário:

Postar um comentário