CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, outubro 05, 2022

ACAPULCO NIGHT CLUB

 Mário Oliveira conta para os leitores de A GAZETA a história do famoso night club da Estrada do Parque 10, destacando os nomes que grandemente incentivaram o seu trabalho pioneiro: governadores Plínio Coelho e Gilberto Mestrinho. Proprietário do maior patrimônio turístico-recreativo da capital amazonense também ressalta o apoio da sociedade, imprensa e radiodifusão

 

Vespertino A Gazeta, 12 janeiro 1963

Mario de Oliveira, um nome que em Manaus já está tão identificado com as noites como as estrelas, contou para A Gazeta a história do “Night Club Acapulco”. A narração de Mario Oliveira ocorreu minutos depois da conquista de mais um grande êxito, que foi o réveillon que assinalou o nascimento de 1963. Assim, o novo sucesso que aquela iniciativa tradicional do ACA (para os íntimos) conquistou aos primeiros minutos deste ano, levou Mario Oliveira a contar para a reportagem detalhando o que dissera resumidamente para a grande frequência que fora passar no seu “night-club" a noite do Ano-Bom - como nasceu o Acapulco, que, sendo hoje o principal património turístico-recreativo de Manaus, dispôs para isso da atenção da sociedade, da Imprensa e da radiodifusão e, destacadamente dos governadores Plinio Coelho e Gilberto Mestrinho, que sempre o prestigiaram.

 

Recorte do Jornal do Commercio, 7 setembro 1956

A HISTÓRIA DO ACAPULCO

Nos meus tempos de rapaz, quando todos gostamos, sem maiores preocupações, de participar de noitadas, eu já sentia que nossa Manaus necessitava de um local de diversão, o qual, embora público, estivesse de acordo pelo seu bom gosto, pelo seu ambiente selecionado, com seus foros de cidade civilizada.

Os aspectos, aos mais modernos existentes por todo o país. O Acapulco não foi, portanto, uma inspiração repentina, mais um ideal acalentado durante muito tempo. Foi somente em 1955 que me foi possível concretizar esse sonho que, hoje, é uma das mais fulgurantes de nossa vida social. (...)

Ninguém é autossuficiente bastante, pela riqueza, pela inteligência, pela força de mando, para poder desprezar a solidariedade de quem quer que seja. É de lembrar-se que os pobres coveiros são os que sepultam os reis e os mendigos. 

CABOCLO AMAZONENSE

Sou amazonense, e do interior, e, como tal sou genuinamente caboclo. E faço questão de sê-lo, e me orgulho disso. Quem me conhece sabe que não troco ovas de acari-bodo pelas de esturjão. Nasci na foz do Jutaí, onde meu finado pai possuía propriedade. Vivi lá os dias despreocupados de minha infância, de anzol n’água, virando tartarugas na praia, remando igarités, saboreando deliciosos “arabus”, comendo peixe na pá do remo.

Vim para Manaus para estudar. Cursei o tradicional Ginásio Amazonense. Interrompi meus estudos com a morte de meu pai. Modéstia à parte não fui mau aluno. De Manaus apenas saí poucas vezes, quase sempre para Belém. O Rio de Janeiro, somente fui conhecê-lo há três anos.

Não tenho inclinações a Marco Polo. Sou caboclamente sedentário. Podem chamar-me de tabaréu, mas não existe cidade melhor do que Manaus. Sou amazonense de corpo e alma, e o Acapulco é tão amazonense quanto eu.

É que, naqueles tempos, nossa Capital, do ponto de vista de divertimento, se situava entre dois extremos: ou os clubes “fechados”, exclusivamente para os sócios, ou cabarés de ínfima categoria. E então eu já dizia aos meus amigos que, no dia em que eu tivesse recursos financeiros, haveria de criar, em Manaus, um night club que se igualasse, sob todos os aspectos, aos mais modernos existentes por todo o país. O Acapulco não foi, portanto, uma inspiração repentina, mas um ideal acalentado durante muito tempo. 

PIONEIRISMO E AMOR À TERRA

“O segundo motivo por que eu desejei deslocar a atenção e o interesse de meus conterrâneos para a periferia de nossa Capital, pois, até então era hábito nosso o restringirmos nossas atividades exclusivamente ao centro da cidade.

Quando adquiri o prédio meus recursos financeiros só davam para tanto. Foi uma audácia minha; mas um ideal audacioso sempre atrai simpatia. Foi o que ocorreu. Amigos cederam-me recursos para eu levar adiante meu plano. Elementos do Comércio e da Indústria forneceram-me material para pagamento em prazo mais dilatado. A imprensa e o Rádio, desde o primeiro instante, colocaram-se a meu favor. Nossa população deu-nos apoio de sua frequência, e, como toque final e decisivo tivemos a solidariedade indispensável das autoridades sobressaindo-se o Dr. Plinio Ramos Coelho, então governador do Estudo, o qual, autêntico bandeirante do progresso que compreendeu minha iniciativa de bem servir nossa terra, e prestigiou-a sempre, desde a inauguração do Acapulco, à qual compareceu para nossa honra, em companhia de seus auxiliares, até o término de sua fecunda administração.

Seguiu-se-lhe, então, o ilustre governador Gilberto Mestrinho, que também jamais nos negou a sua solidariedade, inclusive honrando o Acapulco, de quando em quando, com sua presença. Eis por que aproveito o ensejo para testemunhar a todos a minha Imperecível gratidão. 

ASSISTÊNCIA SOCIAL

Pessoas menos avisadas, formulando conceitos apressados, talvez julguem que a única finalidade do Acapulco é a de ganhar dinheiro às pamparras, para encher usurariamente pés-de-meia, colchões e “burras”. Mas não é verdade. Reafirmo o que já disse: tudo o que já ganhei no Acapulco nele tem sido empregado. Não possuo apartamento no Rio ou em outra qualquer cidade. Como não pretendo, jamais, me mudar de Manaus, tudo o que eu ganhar será utilizado aqui mesmo.  Naturalmente que sem lucro não poderia haver o Acapulco. Temos de ter sempre uma reserva para atender ao aleatório de nosso negócio. Afora isso o Acapulco emprega 60 pessoas, desde os trabalhadores de campo ao gerente.

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