Novo capítulo sobre o período provincial da Polícia Militar do Amazonas, compartilhado do livro Guarda Policial (1837-1889)
É a partir
do aparecimento da Síntese histórica
em 1972 que a cilada do primeiro comandante toma vulto. Até então a Polícia
Militar do Amazonas privilegiava ao major Severino Euzebio Cordeiro, comandante
na criação em 1876, como o primeiro. Com isso, a informação da Síntese
se transformou em dogma. Tanto que sem
qualquer precaução, os editores de Almanaque
(publicação anual que traz a relação hierárquica de seus membros, com várias
indicações pessoais: data de inclusão, de promoções e condecorações auferidas,
entre outros dados) da Polícia
Militar do Amazonas inseriam nele a galeria dos ex-comandantes, preenchendo sem
discernimento os espaços vazios elencados acima. Motivo pelo qual, o primeiro
comandante exerceu esse encargo durante 14 anos, ou seja, de 1837 a 1851.
O mesmo
procedimento ocorreu com os dois seguintes. Ora, se Albino Pereira detém o
privilégio de ser o primeiro comandante, ao menos que se consertem as datas,
visto que aquele oficial somente pôs os pés em Manaus em 1848, diferentemente
do que dogmatiza o autor da Síntese
histórica.
Todavia,
não é este o fato. O fato é que a Polícia Militar do Amazonas deve esclarecer
aos sujeitos (internos e externos) um certo “buraco negro” em sua existência. Episódio
que enleia, embaraça a compreensão e, portanto, deve ser desvendado ou
esclarecido na história da entidade. Sem traumas, pois semelhante ou em igual
condição há em outras instituições. Aludo a dois exemplos análogos, para ficar
no regional amazônico.
A festa da criação da cidade de Manaus – 24 de outubro de 1669 – é
exemplo devidamente patenteado. Cristalino. Os cronistas e historiadores
manauaras e, mais ainda, os donos da verdade
no IGHA - na revista 332
anos de Manaus: História e Verdade - colaram duas datas distintas e distantes: 1669 (ano em que se presume
ter sido construído o fortim local de São José) com 24 de outubro (data da lei
que eleva a vila à cidade de Manaus, em 1848). Com o título – Imbróglio do aniversário de Manaus – o doutor
em História da Ufam Francisco Jorge esclarece com mais conveniência essa
“invenção” natalícia, ou mais essa “verdadeira mixórdia, pois se trata de uma
mistura de tempos, eventos e significados que rigorosamente nada têm a ver uns
com os outros”.
O outro
caso consagrado é o natalício da Polícia Militar do Pará. Na baía de Guajará, a
Força Policial conectou o ano de 1818 (por isso, a terceira PM mais antiga do
país) com 25 de setembro (dia em que a tropa paraense ajudou a superar os conselheiristas em Canudos, em 1897). Como
se pode notar, há “frankensteins” em variados armários.
Uma
palavra final sobre os primeiros
comandantes. A galeria dos ex-comandantes enfileira o “coronel reformado de
artilharia João Henrique de Matos, da Guarda Nacional”, em segundo lugar.
Informações desencontradas dos autores consultados não me permitiram definir a
origem deste militar. Ao meu ver, pertencia tão-somente à afamada GN; dessa
maneira, não deve ser confundido, como procede a corporação amazonense, com
oficial R/1 (seja da reserva ou reformado) do Exército. O fato: em janeiro de
1852, Matos foi empossado na 3ª vice-presidência da Província e, nessa
condição, tomou o encargo da área da Segurança. Além de assumir o cargo de
Chefe de Polícia, substituiu ao tenente-coronel Albino Pereira na direção da
Guarnição do Amazonas.
O terceiro nome na galeria é o de Pedro Nicolau Freguerstein (cujo sobrenome correto é Faegerstein), que aqui desembarcou do vapor Marajó em 10 de fevereiro de 1857. Possuía o posto de tenente-coronel. Não obtive outros subsídios acerca de sua presença na Guarda Policial, que importa sobremaneira para este estudo. Aprendi em Os mercenários do imperador, contudo, que se tratava de um “mercenário alemão no exército imperial, durante o primeiro império (1822-31)”, tendo servido como capitão no 28º BC (Rio).
Silvério Nery, major comandante da PMAM e genitor de governadores |
Tem mais: na condição de tenente-coronel serviu na
Guarnição do Amazonas, quando então apadrinhou o casamento do major EB Silvério
José Nery (julho de 1857), que foi comandante da PMAM em 1878 e genitor dos
governadores Silvério e Constantino Nery.
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