Novo capítulo da história da Polícia Militar do Amazonas em seus primórdios, compartilhado do livro Guarda Policial.
Gravura da sede do quartel da Polícia Militar exposta na capa do livro Guarda Policial. |
Já próximo
à celebração do centenário, surgiu a Síntese
histórica em 1972. O autor da obra reproduz as informações contidas em
relatórios presidenciais e, sem acrescer outras análises ou proceder a
investigações, fomenta a data das Instruções
Gerais como a da criação da Polícia Militar do Amazonas. O governador do
Estado, coronel EB João Walter de Andrade, instigado pelo chefe da Casa
Militar, tenente-coronel PM Pedro Rodrigues Lustosa, prontamente admite o
estudo e autoriza a publicação. Realizada na Imprensa Oficial, a obra foi
impressa em papel de baixa qualidade e editada sem observância de normas
técnicas. Claramente sem revisão. Por isso e aquilo, repleta de incorreções.
Dessa
maneira, a corporação do tenente-coronel Cândido Mariano (patrono da Rocam)
abandona a comemoração do centenário que já se acercava célere para, em
decorrência dessa dose botulínica – festejar o sesquicentenário.
Numa coincidência
proporcionada pelo tempo, o festejo deste evento ocorreu sob o comando-geral do
coronel Pedro Lustosa, que inaugurou um desfeado marco da efeméride,
desaparecido da Praça da Polícia na inauguração do Palacete Provincial. Em
nossos dias, porém, a ata de criação encontra-se consolidada, confirmada,
motivando que a Polícia Militar do Amazonas se inscreva estranhamente entre as
mais antigas corporações do gênero no País.
É na Síntese histórica (1ª ed.) ainda que
outro desastre vem atrelado ao primeiro. O finado Mário Ypiranga estabelece uma
esdrúxula galeria de ex-comandantes da instituição (acatada pela corporação),
assim iniciada:
1 – Tenente-coronel Ex Albino dos Santos Pereira 05.07.1837
2 – Coronel R/1 Ex João Henrique de Matos 01.06.1851
3 – Tenente-coronel Ex Pedro Nicolau Freguerstein 02.12.1857
4 – Major (Ex) Severino Euzebio Cordeiro 01.05.1876
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Sem
qualquer solidez documental, Ypiranga relaciona o tenente-coronel Albino dos
Santos Pereira como o primeiro comandante da Guarda Policial. E inflige outra
agravante à galeria, ao transmitir o pressuposto de que este militar exerceu a
direção da GP de 1837 a 1851. Aqui alongo minha apreciação sobre o assunto. Não
há indício de quem expediu a portaria de sua nomeação, do início de julho. Ou
qual foi a autoridade que a expediu e de onde saiu o decreto. Se, como assegura
a publicação, ocorreu em 1837, logo a autoria pertence ao governo provincial do
Pará. Contudo, nesse lapso, Albino Pereira começava a vida militar no posto de
tenente, auxiliar do presidente provincial Soares d’Andrea.
Ele
somente se tornaria tenente-coronel na década de 1840, tanto que, em 30 de
março de 1848, assume o Comando Militar do Alto Amazonas que, a meu ver,
aproveitava a Expedição Militar ao Amazonas, do início da Cabanagem. Àquele
cabia disciplinar os ralos corpos militares e os militarizados, no caso, mais
de duas dezenas de “Guardas parciais”, pois não existia unidade de comando
entre esses fundamentos.
Nessa
questão, outro pormenor se alevanta motivado pela lição do mestre Arthur Reis em
História do Amazonas: encerrado o ciclo perverso da Cabanagem, a Comarca
do Alto Amazonas estava desorganizada, aliás, estava “tudo desorganizado”. E prossegue: necessitava de elevado “esforço
e patriotismo para levantar a comarca”. Em 3 de março de 1841, portanto, quando
já existia a Guarda Policial, assumiu o comando militar da Comarca o major de
artilharia Francisco Raimundo Nogueira de Faria. Em 1845, foi substituído pelo
major José Coelho de Miranda Leão (o mesmo que acolheu os últimos anistiados da
Cabanagem em Luseia). Dois anos depois, em janeiro, Miranda Leão foi sucedido
pelo coronel reformado e brigadeiro honorário João Henrique de Matos, “que se
conservou até abril de 1848”. Nesta data, só então assume o comando local o
tenente-coronel Albino dos Santos Pereira, encargo que repassa em 1852, por
ocasião da instalação da província.
Sem
precisar a data, o jornal A Estrella do Amazonas noticia a morte
deste oficial, poucos dias após desembarcar em Cuiabá (MT). Acreditava que este
infortúnio causaria doloroso sentimento aos habitantes do Pará e Amazonas, “que
tão bem conheceram as qualidades do falecido”.
Encerrando
a preleção, cabe reiterar a pergunta: por que privilegiar o tenente-coronel
Albino dos Santos Pereira, se mais outros oficiais o antecederam no comando?
Não antevejo argumentos. A corporação deve, sim, interromper de alguma maneira
esse flagelante equívoco.
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