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segunda-feira, junho 08, 2020

MAESTRO ERNANI PUGA (1963-67)


A Banda de Música da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) provou da eficiência de três membros da família Puga. A do fundador da família, o espanhol Manuel Puga Rivera, e a de seus filhos Nicanor e Ernani. 


Cuido nesta postagem deste último Puga, que foi músico da Banda com a surpreendente idade de 12 anos, e, bem mais adiante, mestre da corporação musical entre 1963-67. E, antes que prossiga, devo assinalar que os descendentes indicados de Manuel exerceram a regência.
Identidade de Ernani Puga, expedida pelo 27 BC

Ernani nasceu em Manaus (AM), em 29 set. 1909, filho primogênito do espanhol Manuel Puga Rivera (músico) que, de Soure, no Marajó, foi para Belém, onde participou da Banda de Música. Vindo para Manaus, Rivera ingressou na Banda local e, enquanto servia, Ernani foi incluído nela como músico de 3ª classe, mediante contrato de 31 out. 1921. Tocou até 1º abr. 1924, data em que o contrato foi rescindido, note-se, três meses antes da notória Rebelião de Ribeiro Junior (acontecida em julho). Desse modo, o jovem Ernani participou do corpo musical durante o governo de Rego Monteiro (1921-24).
Ernani Puga seguiu exercitando a arte musical, com esse atributo ingressou no Exército, integrando a Banda do 27º BC (entidade ícone da Força de Terra aquartelada em Manaus, e nela alcançou a reserva do Exército, como 2º tenente, em 1958.
Em 1963, Plínio Ramos Coelho assume o governo e nomeia comandante da PMAM, o 1º tenente PM Alfredo Barbosa Filho, comissionado no posto de coronel. Tantas lambanças ensejaram que ambos fossem cassados, no ano seguinte, pelo Governo Militar. Como a corporação musical encontrava-se sem maestro efetivo, o último fora o maestro (civil) Dirson Costa, Barbosa convidou ao Ernani Puga para a função, a qual assumiu em 6 mar. 1963, na condição de 2º tenente. Puga solicitou dispensa deste encargo, em 16 ago. 1967.

Nota musical - A proeza do garoto Ernani Puga acima enunciada ofereceu o mote à revista Weril (fabricante de instrumentos musicais) para homenageá-lo, quando este dirigia a Banda de Música da PMAM. A revista foi editada em São Paulo, no primeiro bimestre de 1964, e o exemplar aqui mostrado pertence aos familiares do saudoso maestro. Encontra-se bastante danificado pelo tempo, razão pela qual a reprodução mostra algumas lacunas.

Fragmento da revista Weril, homenageando ao maestro Ernani Puga, vendo sua rubrica 

Do mundo de fascínio e encantamento que é o Amazonas para os brasileiros do Sul, trazemos hoje para nossos leitores o 2º Ten Mestre de Música da Polícia Militar do Estado do Amazonas – Sr. ERNANI PUGA, cujos méritos se estenderam no honroso convite que lhe foi endereçado pelo coronel comandante Alfredo Barbosa, para que (ilegível) organizasse a Banda de Música da Milícia Amazonense. 


PEQUENA BIOGRAFIA
Em Manaus (...) A infância ... (ilegível)

HASTEANDO A BANDEIRA
Qual a criança que não se entusiasma pela movimentação de tropa principalmente quando ela vem precedida por uma Banda de Música. Assim era, também com o menino Ernani. O seu encantamento fora do comum, pressagiava o futuro brilhante que tem sido toda sua carreira.
Pois é, encontrava-se, naquela época, fins da Grande Guerra de 1914 a 1918, acantonado em Soure, como guardião do Território Nacional, o 26º Batalhão de Caçadores. Todos os dias às 6 e às 18 horas procedia à cerimônia de hasteamento do Pavilhão Nacional com formatura geral da Unidade, tendo à frente a Banda de Música.
Lá estava o menino-músico, olhos e ouvidos atentos escutando comovido o “Capitão Caçula”, dobrado de todos os dias, executado pelos comandados do 1º Sgt Artur Napoleão Soares, músico de grandes dotes, autor do dobrado “26º Reorganizado”.

MÚSICO MILITAR AOS ONZE ANOS
Ernani, aos 12 anos, com
farda da Banda de Música
Por mais incrível que pareça – e não temos notícia de outro caso semelhante – o Maestro Ernani foi engajado na Banda de Música da Polícia Militar do Amazonas com apenas onze anos de idade, precisamente no dia 31 de outubro de 1921, conforme atesta o Boletim Regimental nº 305, daquela data.
Bom, esse ingresso não deixou de ter o seu lado pitoresco. A apresentação daquele menino ocasionou uma celeuma no Quartel, muitos consideravam um absurdo o engajamento com tão restrita idade.
O coronel Manoel Martins Ribeiro, oficial da arma de Artilharia, capitão comissionado coronel comandante da Polícia Militar, estabeleceu o seguinte teste: executar, em conjunto com a Banda de Música, dois dobrados militares. A Ernani foi entregue uma requinta em mib, de 16 chaves e ele, sem hesitar, provou sua capacidade de integrar o conjunto. Aprovado, foi incluído na Banda como músico de 3ª Classe.

CONTRA-MESTRE NO EXÉRCITO
Em 1928 transferiu-se para o Exército, realizando assim um velho anseio de servir à Pátria de forma mais ampla. Mas as coisas não eram tão fáceis.
Ingressou como recruta e teve o preparo de combate durante nove meses, até o término do ano normal de instrução para poder ser classificado como músico.
Mas esse tempo não foi desperdiçado; nas horas vagas se dedicava com afinco ao estudo de seu instrumento. O esforço foi recompensado: logo após sua inclusão na Banda prestou concurso e passou a músico de 1ª Classe.
Os anos foram passando e Ernani Puga sempre músico na melhor acepção da palavra, estudava e estudava, alentando a oportunidade de prestar concurso para contramestre.
Por fim a oportunidade. Em 1942, na sede da 8ª Região Militar, em Belém, foi aprovado e, em 26 de maio de 1944, ei-lo promovido a 1º Sargento Contramestre.
 
Carteira do Clube de Oficiais, 1958
O BOM FILHO À CASA TORNA
Cumpriram-se os 25 anos de bons serviços, com uma folha invejável, que lhe outorgava o direito de descansar. A reserva é o prêmio, representada no posto de 2º tenente. Mas Ernani Puga, apesar de merecer insofismavelmente o descanso, não iria gozá-lo.
O coronel Alfredo Barbosa [1963-64], atual comandante da Polícia Militar, vendo a situação em que se encontrava a Banda de Música da corporação, convocou o Maestro Ernani Puga com o apelo de que se fazia necessária à sua capacidade sobejamente conhecida de músico e condutor de músicos.
O Maestro Ernani sentiu-se comovido com esse honroso convite. Aquela Banda que em primeiro lugar (ilegível) o ajudara a dar corpo a sua alma de artista, merecia a sua dedicação, o seu entusiasmo.
Mãos à obra foram logo postas. Reajustou o Maestro Ernani o quadro efetivo de músicos, reformulou a forma militar para um estilo impecável e agora se dedica plenamente à execução do repertorio clássico, com o qual procura proporcionar maiores conhecimentos musicais a seus comandados. Os frutos estão vindos, e eles adornarão ainda mais a carreira desse dedicado músico patrício.

HOMEM REALIZADO
Apesar da vida espinhosa, o Maestro Ernani Puga pode se considerar um homem realizado. Quando assumiu a regência da Banda do Exército, encontrou-a dizimada: de um efetivo de 26 músicos graduados, só existiam 13. Conseguiu soerguer a banda e alcançar notoriedade nas solenidades do Centenário da Cidade de Manaus [1949], quando realizou um concerto no Teatro Amazonas.

ELOGIOS
Além de sua bagagem musical, que é digna de maior consideração, o Maestro Ernani Puga é um músico que se projetou inclusive através das referências que lhe foram feitas... (conclusão indisponível).

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