A Banda de Música da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) provou da eficiência de três membros da família Puga. A do fundador da família, o espanhol Manuel Puga Rivera, e a de seus filhos Nicanor e Ernani.
Cuido nesta postagem deste último Puga, que foi músico
da Banda com a surpreendente idade de 12 anos, e, bem mais
adiante,
mestre da corporação musical entre 1963-67. E, antes que prossiga, devo assinalar
que os descendentes indicados de Manuel exerceram a regência.
Identidade de Ernani Puga, expedida pelo 27 BC |
Ernani nasceu em Manaus (AM), em 29 set. 1909, filho primogênito do espanhol Manuel
Puga Rivera (músico) que, de Soure, no Marajó, foi para Belém, onde participou da
Banda de Música. Vindo para Manaus, Rivera ingressou na Banda local e, enquanto
servia, Ernani foi incluído nela como músico de 3ª classe, mediante contrato de
31 out. 1921. Tocou até 1º abr. 1924, data em que o contrato foi rescindido, note-se,
três meses antes da notória Rebelião de
Ribeiro Junior (acontecida em julho). Desse modo, o jovem Ernani participou
do corpo musical durante o governo de Rego Monteiro (1921-24).
Ernani Puga seguiu exercitando a arte musical, com
esse atributo ingressou no Exército, integrando a Banda do 27º BC (entidade ícone
da Força de Terra aquartelada em Manaus, e nela alcançou a reserva do Exército,
como 2º tenente, em 1958.
Em 1963, Plínio Ramos Coelho assume o governo e
nomeia comandante da PMAM, o 1º tenente PM Alfredo Barbosa Filho, comissionado
no posto de coronel. Tantas lambanças ensejaram que ambos fossem cassados, no
ano seguinte, pelo Governo Militar. Como a corporação musical encontrava-se sem
maestro efetivo, o último fora o maestro (civil) Dirson Costa, Barbosa convidou
ao Ernani Puga para a função, a qual assumiu em 6 mar. 1963, na condição de 2º
tenente. Puga solicitou dispensa deste encargo, em 16 ago. 1967.
Nota
musical - A proeza do garoto Ernani Puga acima enunciada ofereceu
o mote à revista Weril (fabricante de instrumentos musicais) para
homenageá-lo, quando este dirigia a Banda de Música da PMAM. A revista foi editada em São Paulo, no primeiro bimestre de 1964, e o exemplar aqui mostrado pertence aos familiares do
saudoso maestro. Encontra-se bastante danificado pelo tempo, razão pela qual a reprodução
mostra algumas lacunas.
Fragmento da revista Weril, homenageando ao maestro Ernani Puga, vendo sua rubrica |
Do mundo de fascínio e encantamento que é o Amazonas para
os brasileiros do Sul, trazemos hoje para nossos leitores o 2º Ten Mestre de
Música da Polícia Militar do Estado do Amazonas – Sr. ERNANI PUGA, cujos méritos
se estenderam no honroso convite que lhe foi endereçado pelo coronel comandante
Alfredo Barbosa, para que (ilegível) organizasse a Banda de Música da Milícia
Amazonense.
PEQUENA BIOGRAFIA
Em Manaus (...) A infância ... (ilegível)
HASTEANDO
A BANDEIRA
Qual a criança que não se
entusiasma pela movimentação de tropa principalmente quando ela vem precedida
por uma Banda de Música. Assim era, também com o menino Ernani. O seu
encantamento fora do comum, pressagiava o futuro brilhante que tem sido toda
sua carreira.
Pois é, encontrava-se,
naquela época, fins da Grande Guerra de 1914 a 1918, acantonado em Soure, como
guardião do Território Nacional, o 26º Batalhão de Caçadores. Todos os dias às
6 e às 18 horas procedia à cerimônia de hasteamento do Pavilhão Nacional com
formatura geral da Unidade, tendo à frente a Banda de Música.
Lá estava o menino-músico,
olhos e ouvidos atentos escutando comovido o “Capitão Caçula”, dobrado de todos
os dias, executado pelos comandados do 1º Sgt Artur Napoleão Soares, músico de
grandes dotes, autor do dobrado “26º Reorganizado”.
MÚSICO
MILITAR AOS ONZE ANOS
Ernani, aos 12 anos, com farda da Banda de Música |
Por mais incrível que pareça
– e não temos notícia de outro caso semelhante – o Maestro Ernani foi engajado
na Banda de Música da Polícia Militar do Amazonas com apenas onze anos de
idade, precisamente no dia 31 de outubro de 1921, conforme atesta o Boletim
Regimental nº 305, daquela data.
Bom, esse ingresso não
deixou de ter o seu lado pitoresco. A apresentação daquele menino ocasionou uma
celeuma no Quartel, muitos consideravam um absurdo o engajamento com tão
restrita idade.
O coronel Manoel Martins
Ribeiro, oficial da arma de Artilharia, capitão comissionado coronel comandante
da Polícia Militar, estabeleceu o seguinte teste: executar, em conjunto com a
Banda de Música, dois dobrados militares. A Ernani foi entregue uma requinta em
mib, de 16 chaves e ele, sem hesitar,
provou sua capacidade de integrar o conjunto. Aprovado, foi incluído na Banda
como músico de 3ª Classe.
CONTRA-MESTRE
NO EXÉRCITO
Em 1928 transferiu-se para o
Exército, realizando assim um velho anseio de servir à Pátria de forma mais
ampla. Mas as coisas não eram tão fáceis.
Ingressou como recruta e
teve o preparo de combate durante nove meses, até o término do ano normal de
instrução para poder ser classificado como músico.
Mas esse tempo não foi
desperdiçado; nas horas vagas se dedicava com afinco ao estudo de seu
instrumento. O esforço foi recompensado: logo após sua inclusão na Banda
prestou concurso e passou a músico de 1ª Classe.
Os anos foram passando e Ernani
Puga sempre músico na melhor acepção da palavra, estudava e estudava, alentando
a oportunidade de prestar concurso para contramestre.
Por fim a oportunidade. Em
1942, na sede da 8ª Região Militar, em Belém, foi aprovado e, em 26 de maio de
1944, ei-lo promovido a 1º Sargento Contramestre.
O
BOM FILHO À CASA TORNA
Cumpriram-se os 25 anos de
bons serviços, com uma folha invejável, que lhe outorgava o direito de
descansar. A reserva é o prêmio, representada no posto de 2º tenente. Mas
Ernani Puga, apesar de merecer insofismavelmente o descanso, não iria gozá-lo.
O coronel Alfredo Barbosa
[1963-64], atual comandante da Polícia Militar, vendo a situação em que se encontrava
a Banda de Música da corporação, convocou o Maestro Ernani Puga com o apelo de
que se fazia necessária à sua capacidade sobejamente conhecida de músico e
condutor de músicos.
O Maestro Ernani sentiu-se
comovido com esse honroso convite. Aquela Banda que em primeiro lugar
(ilegível) o ajudara a dar corpo a sua alma de artista, merecia a sua dedicação,
o seu entusiasmo.
Mãos à obra foram logo
postas. Reajustou o Maestro Ernani o quadro efetivo de músicos, reformulou a
forma militar para um estilo impecável e agora se dedica plenamente à execução
do repertorio clássico, com o qual procura proporcionar maiores conhecimentos
musicais a seus comandados. Os frutos estão vindos, e eles adornarão ainda mais
a carreira desse dedicado músico patrício.
HOMEM
REALIZADO
Apesar da vida espinhosa, o Maestro
Ernani Puga pode se considerar um homem realizado. Quando assumiu a regência da
Banda do Exército, encontrou-a dizimada: de um efetivo de 26 músicos graduados,
só existiam 13. Conseguiu soerguer a banda e alcançar notoriedade nas solenidades
do Centenário da Cidade de Manaus [1949], quando realizou um concerto no
Teatro Amazonas.
ELOGIOS
Além de sua bagagem musical,
que é digna de maior consideração, o Maestro Ernani Puga é um músico que se
projetou inclusive através das referências que lhe foram feitas... (conclusão
indisponível).
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