Acontecem hoje, no meio dessa ressaca sanitária. E diante da impossibilidade de uma “romaria” de familiares e de amigos, pensei em montar um painel, sem cogitar como.
Roberto, ontem |
Encarava esse dilema, quando logo pela manhã fui
despertado pela mensagem de meu irmão Renato. Antes mesmo da leitura já descartei o painel, decidi que ela seria
o carro-chefe deste flashback. Após a leitura, não deu outra: uma intensa emoção
me tocou, tanto que as lágrimas afluíram. Desculpei-me, todavia, aprovando que
coração de idoso (de velho) se torna bem maleável.
Mano,
Renato Mendonça |
Nestes
seus longos anos de vida, você me deixou muitas lições. Algumas aprendi, outras
não. Faltou-me o tino e o senso de observação, às vezes.
Mas, não
me faltou nunca, nem nunca faltará a admiração que tenho por você, todas as
atitudes, os gestos fraternos ficarão guardados na minha memória, até que o Alzheimer
venha me roubar.
E, nesta
data especial, desejo a você mais muitos anos de vida com saúde, muitos
projetos realizados e muita luz em seu coração.
Um grande
abraço, deste seu irmão-fã,
Renato
Mendonça
SORO CASEIRO
17/06/2020
Beto chegou em casa sorrateiro numa tarde de calor. Ainda não era
o Roberto, era um menino também, o irmão mais velho que sumia, de vez em
quando, enquanto estávamos distraídos entre nossos livros e cadernos, entre
caminhadas ao Grupo Escolar Municipal, ou entre os deveres de filhos zelosos
com o quintal e com a criação. Ele já frequentava o Seminário, pois fora
extraído do seio familiar prematuramente. Todavia, nós — eu e meu irmão,
Antônio — não atinávamos para a sua fuga intempestiva, apenas sentíamos sua
falta completando a família, como um precursor filial, abrindo picadas na
estrada da vida.
Estávamos aquartelados na casa do Beco São José, ao lado do Cine
Vitória, nos Educandos da nossa antiga e bucólica Manaus. E nosso pequeno
universo lúdico estava restrito ao nosso quintal; raras vezes, aos domingos,
escoltados pelo pai, um banho nas águas escuras do Rio Negro. Assim que era
anunciado, saíamos correndo até o limite da casa 303 da av. Leopoldo Peres. Seu
Manoel Rosseti, da varanda do seu chalé, ficava a postos, colhendo a brisa do
domingo e nos vigiando com seu olhar de preocupação. Impacientes, aguardávamos
a presença de nosso pai, para atravessar a rua e encarar logo a descida íngreme
pela encosta escarpada da margem, que exigia agilidade e destreza, até alcançar
uns troncos de madeira armazenados longe de palafitas. Os troncos eram como as
paredes de uma “piscina da natureza”, e nos permitia nadar com suposta
segurança. E de lá, o cheiro do rio, misturado ao do sabonete, trazíamos
impregnado no nosso corpo e na alma.
Roberto, visto pelo Marius Bell |
Naquela tarde, o calor nos incentivava a fazer uma limonada, era o
refresco mais prático de ser feito artesanalmente, com poucos recursos. Quando
estava pronto, deixamos que cada um adoçasse à sua maneira. Beto se prontificou
a adoçar os nossos. Deixamos por conta dele, sem atentar para a peraltice que
arquitetava sua mente. Por distração, não vimos que ele colocou um pouco de
sal, e não açúcar nos nossos. Simultaneamente, sorvemos o primeiro gole com
avidez. “Putz, salgado!” — falamos juntos.
Beto ria, ficamos fulos (chateados). Mas, logo depois rimos como
crianças, rimos de mais uma traquinagem comum entre irmãos. Ficamos com pena de
jogar fora o que sobrou nos copos. E concordamos que poderíamos recolocar na
jarra com o restante, e adoçar completamente, usando mais açúcar. Fizemos isso.
Adoçamos mais, e mais, porém não foi suficiente. O gosto final ficou salobro.
Embora sem o delicioso sabor, bebemos tudo, para evitar o
desperdício. E, sem querer, acabamos inventando o “soro caseiro sabor limão”,
que serve para curar disenteria, diarreia e outros males do estômago.
Velhos tempos. Minha memória me alerta: o ano era 1958.
fotos do arquivo pessoal |
Efetuei a adição das fotos abaixo, no dia seguinte, por recomendação médica.
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