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quinta-feira, junho 11, 2020

CARTA PARA CANUDOS


Em torno de 1995, tomei a iniciativa de escrever sobre a participação da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) na campanha de Canudos. 

Capa do livro
Aproximava-se o centenário da “guerra sertaneja”, uma ocasião propícia para esse resgate. Decidida a parada, comecei por revirar os arquivos da corporação e das entidades estaduais. Após o que, refiz o caminho realizado pela tropa entre Manaus e Salvador e, desta capital, ao “ínvio sertão” baiano. Cheguei ao reduto de Canudos, onde “entrevistei” o Conselheiro.
Tem mais: passei a recolher livros e impressos que abordassem o tema, e que passassem ao meu redor. Ainda os tenho em grande número, no entanto, os livros foram doados.
Enfim, no auge dessa empolgação, sabedor da concretização do filme Canudos, enviei a carta aqui reproduzida à direção do longa-metragem, com a besta pretensão de incluir a PMAM no enredo. Nada consegui, porém, a Universidade Federal publicou meu livro: Cândido Mariano & Canudos (Manaus: Edua, 1997).

Manaus, 13 de março de 1996
À Morena Filmes
At. Marisa Leão
Entusiasta de Canudos, preparo um trabalho sobre a participação da Polícia Militar do Amazonas nesta memorável campanha. Pretendo apresentá-lo no final deste ano, quando se iniciam as comemorações do centenário canudense.
Fragmento da carta

A realização do filme sobre Canudos me entusiasmou, daí a razão desta correspondência, desejoso de participar do trabalho, a fim de inserir nele esta corporação militar. Desculpe-me a pretensão.
Em 1897, a Amazônia já vivia o esplendor da borracha. O Teatro Amazonas havia sido inaugurado, em 31 de dezembro, estamos no ano do seu centenário, e devido à grande soma de riquezas o Amazonas e o Pará deslocaram as suas milícias para combater Antônio Conselheiro.
O deslocamento se fez de navio, é óbvio, e o Amazonas chegou em Salvador depois de viajar 17 dias, e à Canudos, 42 dias depois. Permaneceu no front de luta por três semanas, quando iniciou a viagem de regresso, pelo mar e, a partir de Belém, pelo riomar. Data do retorno: 8 de novembro. Participou com um batalhão, composto de 24 oficiais e 249 praças, dos quais, 12 músicos. Seu comandante, colega de Escota Militar do imortal Euclides da Cunha, foi o tenente do Exército Cândido José Mariano (não confundir com o marechal Rondon), como tantos, se encontra citado em Os Sertões e outros escritos de Euclides.
Ao retornar, este comandante elaborou um Relatório ao governo local, contando do deslocamento e da atuação da força e recolhendo aos cofres do Estado, pouco mais de 25 contos de réis (equivalente a (U$ 46.000,) dos 40 contos de réis levados para Canudos. Naquela época, cada fração de tropa conduzia o seu numerário.A publicação deste Relatório ocorreu no Diário Oficial do Amazonas, em 15 de dezembro de 1897, e constitui-se hoje, segundo o mestre José Calasans, o primeiro documento a tratar da Campanha de Canudos, publicado no Brasil. Este documento será reproduzido pela Polícia Militar, a fim de ser lançado na mesma data deste ano, em homenagem a saga conselheirista.
Da luta, a Polícia Militar guarda em seu museu, uma bandeira nacional conduzida pela tropa e que se encontra fragmentada pelas balas adversárias.
Para conclusão de meu livro, estive recentemente em Salvador e em Canudos, e, em Recife, encontrei ao coronel do Exército Davis Sena, que orienta de parte do Exército este trabalho, segundo me declarou.De qualquer sorte, caríssima Marisa, estou ao seu inteiro dispor para outras considerações e, desde já, a felicito pelo desafio de tornar Canudos rediviva.
Sucesso, e disponha do admirador.  
Fragmento da carta (final)

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