PARA CONCLUIR A NOTA ANTERIOR, RELEMBRO O DIA 29 DE AGOSTO DE 1968.
Autor, no quartel da Rádio Patrulha |
No aeroporto, com a chegada dos
passageiros vindos da cidade o burburinho se avolumava, e assim fiquei sabendo
de mais detalhes da operação policial na Universidade. Estranho, quando os
estudantes invadem as dependências da escola, são chamados de ocupantes; no
entanto, quando a Força Policial em cumprimento à ordem judicial desocupa as
mesmas dependências, tornam-se invasores. É desse modo que a desocupação
cinquentenária hoje é conhecida: Invasão da Universidade.
Enfim,
um quadrimotor DC-4 (da VASP ou VARIG) aterrissou para, nessa escala, recolher
os passageiros com destino ao aeroporto de Ponta Pelada. Enfim, lá fui eu…
Depois de um mês fora de casa, avido por retornar para os parentes e a
namorada, conduzindo uns poucos mimos, que mais desejava era que aquele avião
voasse o mais rápido possível, para me afastar daquele tormento que havia
presenciado no país de 1968.
O
Ponta Pelada possuía uma acanhada estação, inaugurada em 1954. Como em todo
Brasil, em Manaus a aeronave estacionava no pátio interno e os passageiros
desciam as escadas e, aturdidos pela canícula, caminhavam rápido em direção à
estação de desembarque. A Zona Franca de Manaus principiava a atração sobre
investidores e, ao mesmo tempo, sobre aproveitadores. Dessa maneira
desembarquei, recolhi a mala no terminal e tomei um táxi na empresa do
amigo-vizinho Almeida, dirigindo-me à residência de meus pais, à rua Amazonas,
nº 29, no bairro Morro da Liberdade, confinante com o aeroporto.
A tarde, porém, ainda reservara
outras emoções, e a próxima seria brutal. Já a partir da esquina dessa rua percebi
uma movimentação estranha à porta da casa dos “velhos”. Descendo do táxi,
observei na sala, pelo tamanho do caixão, o velório de criança. Logo imaginei
que um dos sobrinhos de minha madrasta – Dona Dora, estaria acolá. Todavia,
qual não foi minha aflição quando esta, em prantos, me acolheu, falando da
morte do filho, de meu irmão Ronaldo Cesar, aos onze meses de idade.
Ronaldo Cesar, 1968 |
O nome deste irmão dispõe de sua
historieta, que bem cabe neste relato. Nasceu no ano anterior, quando eu frequentava
um curso militar no Rio de Janeiro. Acercando-se seu nascimento (agosto), e
como todos os filhos do seu Manuel Mendonça possuem um nome duplo, os pais
promoveram um sorteio para a escolha do registro deste herdeiro. Para tanto,
cada filho lacrou sua proposta, tendo eu enviado por carta minha contribuição.
Acabei vitorioso. Mas, por que escolhi este apelido? Simples: para homenagear
um amigo, o capitão homônimo, colega de curso. Além disso, fui escolhido para
padrinho do irmão.
Por
tudo isso, em instantes, fui levado da euforia do regresso para a severidade da
morte, mais ainda, deprimido por não ter socorrido ao irmão. Soube enquanto o
velava que sua mãe foi mal tratada no pronto socorro que recorreu. Em suma, eu poderia ter contornado esse trauma, porém, nosso pai, católico
fervoroso, nos confortava com a máxima: “foi o desígnio de Deus”.
Verdadeiramente, para mim, constituiu
um dia inolvidável!
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