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domingo, outubro 28, 2018

RODOVIA MANAUS-ITACOATIARA


A estrada Manaus-Itacoatiara possui uma história marcada por sacrifícios, em especial no ensejo de sua concretização. Uma dessas páginas foi assinalada pesarosamente pelo desastre de avião, quando, nos primórdios, o governo Plínio Coelho (1955-59) apoiava os estudos básicos para a abertura dessa rodovia.
Dep. Antonio "Quito"

O desastre matou quatro pessoas, uma delas o deputado estadual Antonio Vital de Mendonça, representante de Itacoatiara, onde era conhecido carinhosamente por Quitó. Era seu primeiro mandato, e o parlamentar empenhava-se na ligação rodoviária daquele município com a capital. Daí sua presença no pequeno avião que levava os técnicos para os estudos preliminares.

Esta postagem compartilhei de O Jornal (Manaus, 12 agosto 1955). Mais detalhes sobre Vital Mendonça pode ser encontrado em www.antonildesbiografia-vicentinho.com

Sobre o desastre, recorte de O Jornal
Ainda perdura no espírito do povo amazonense aquele triste, e a dor continua em face do doloroso desastre ocorrido com o avião PP-GNG, no dia 9, quando perderam a vida de maneira tão trágica 4 cidadãos que empregavam suas atividades em benefício do Estado.
Conforme notícias aqui chegadas o povo de Itacoatiara continua a chorar a perda irreparável de um dos seus mais ilustres filhos — o deputado Antonio Vital de Mendonça — que tudo vinha fazendo para corresponder à confiança em si depositada, sendo, porém, interceptado na sua brilhante tarefa pela crueldade do destino, precisamente quando tomava parte numa viagem, que o marco inicial da grande obra com a qual sempre sonhou e pela qual vinha lutando — a rodovia Manaus-Itacoatiara.Passados os primeiros momentos de consternação, o Dr. Artur Cruz, presidente do Aeroclube ao qual pertencia o avião, de comum acordo com o governador Plínio Coelho e as autoridades da Aeronáutica aqui sediadas, providenciou a instauração do necessário inquérito a fim de esclarecer as verdadeiras causas do desastre com o PP-GNG. A esse respeito apuramos que uma comissão de técnicos da Aeronáutica já seguiu para a cidade de Itacoatiara a fim de executar a tarefa. 

A PROVÁVEL CAUSA DO DESASTRE

Em meio às mais desencontradas versões sobre a provável causa do desastre, apuramos como a mais exata história a seguinte: o avião PP-GNG daqui partira pela manhã do dia 9, levando a seu bordo o piloto Francisco Campos Rodrigues Filho, o mecânico Benedito Cruz, o deputado Antonio Vital de Mendonça e o engenheiro Alberto Jacobsen, com o objetivo de realizar estudos para a construção da estrada Manaus-Itacoatiara. O aparelho desceu em Itacoatiara cerca das 9 horas.Os seus ocupantes não chegaram a ir à cidade, permanecendo todas no campo de pouso, tendo o deputado Vital de Mendonça solicitado a um rapaz que comprasse 4 garrafas de água mineral, recomendando-lhe que não dissesse a ninguém da sua presença, pois pretendia sobrevoar a região do rio Urubu, inclusive a Cachoeira de Iracema, por onde deverá passar a estrada Manaus-Itacoatiara, regressando em seguida a Itacoatiara, onde, então, realizaria um comício a fim de comunicar ao povo a boa nova, ou seja, a construção da rodovia.O deputado Vital de Mendonça ainda entregou ao dito rapaz um jornal, pedindo que o guardasse. O aparelho foi reabastecido e partiu. Daí por diante, as controvérsias aumentam. Mas as deduções mais exatas autorizam todos — inclusive as pessoas moradoras nas proximidades do campo de pouso — acreditar que houve pane no motor e o piloto resolveu tentar a volta ao campo.O perigo foi logo conhecido de todos os ocupantes do aparelho, tanto que gritos foram ouvidos, pedindo socorro, gritos que foram seguidos de um estrondo, provocado pela queda do aparelho ao solo.Com o choque, a hélice desprendeu-se do aparelho e foi jogada à distância, sendo encontrada intacta. As marcas existentes no terreno demonstram que o aparelho, após o primeiro impacto com o solo, capotou e deu duas cambalhotas no ar, já em chamas.As primeiras pessoas que chegaram ao local do desastre, depararam com um braseiro, nada podendo fazer. Mesmo assim, tentaram retirar os corpos em meio ao fogo, que os consumia, mas todos estavam presos por cintos de segurança. Verificaram, então, que não havia sobreviventes. Quando o fogo diminuiu de intensidade, os corpos foram retirados da carcaça do aparelho — amontoado de ferro retorcido — todos carbonizados e quase irreconhecíveis. 

OS FUNERAIS

Conforme já foi noticiado, os corpos do deputado Vital de Mendonça, do piloto Francisco Campos Rodrigues Filho e do mecânico Benedito Cruz foram enterrados na cidade de Itacoatiara, sendo o do engenheiro Aberto Jacobsen transportado para esta cidade, de onde seguirá para o Rio de Janeiro, onde reside sua família.Os funerais, na cidade de Itacoatiara, foram custeados pelo Estado, tendo o governador Plínio Coelho, que ali esteve, determinado todas as medidas necessárias ao transporte para esta cidade e para o Rio, dos restos mortais do engenheiro Alberto Jacobsen.

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