Segunda Parte da Oligarquia dos Nery,
compartilhada da revista O Malho,
Rio, setembro de 1952.
Outro oligarca, que nunca se envolveu
nos assuntos internos do Amazonas, o sábio Dr. Marcio Nery. Um nome que é uma
glória no Amazonas, no Brasil e no estrangeiro. Especializando-se nos estudos e
pesquisas psiquiátricas, Marcio Nery era um homem de laboratórios e gabinete.
Médico notável. Deixou livros publicados e relatórios sobre as suas especialidades,
e que até hoje são compulsados e citados. Foi raramente ao Amazonas, em visita
a parentes e amigos, e à sua terra. Vêm que diminuiu a oligarquia.
O grande chefe político foi o Dr.
Silvério José Nery. Esse era um parlamentar e um homem de Governo. Fora
militar, e reformara-se como tenente do Exército, ajudante de ordens do general
comandante da 1ª Região Militar. Fizera o curso de agrimensor. Inteligente e
culto, honrou sempre o brasão dos Nery.
Observador arguto, esclarecido,
conhecia bem todos os problemas do Brasil político, social e econômico. Fez
toda a carreira que a política pode oferecer: vereador municipal, deputado
estadual, deputado federal, reeleito, senador da República reeleito. Governador
do Estado, chefe de partido.
Sempre 1º secretário do Senado do
país, ou quase sempre e muita vez presidiu as suas sessões. Não era um
frequentador assíduo da tribuna, mas os seus discursos foram sempre serenos e
com conteúdo, em defesa dos problemas do Amazonas, que conhecia como poucos, e
do País. Era um agricultor. Amigos deram-lhe um sítio, em frente a Manaus.
Plantou-o todo e colhia três vezes por ano.
Silvério José Nery era um jornalista
atilado, um cronista risonho e um escritor seguro. Sempre colaborou nos jornais
que fundamos e chefiamos no Amazonas, na sua capital, Manaus, ex “cidade
risonha”, hoje dizem que é “cidade tristonha”, o Diário de Notícias,
o Rio Negro, a Folha do Amazonas,
e O Globo. Ou os que
dirigimos ou fomos redator-chefe, o Comércio
do Amazonas, o Amazonas
Commercial, a Federação, o Amazonas,
o Estado do Amazonas.
Usava às vezes o pseudônimo de Yren. Num dos nossos livros –Meu livro de saudades, há traçado, com certas
minúcias, o perfil desse homem público, educadíssimo, viajado, vestindo-se à
inglesa, elegante, na palestra, bem humorado. Revelou-se um administrador
capaz.
Lembram-se
da sua frase que ficou célebre no País, no dia em que assumiu o Governo do
Amazonas? “Menos política e mais administração”. Receita, para o Brasil de
hoje.
A
sua administração foi fecunda e salutar, e acompanhamo-la, com uma situação na
Assembleia Legislativa e postos de confiança. Éramos o seu substituto na chefia
do Partido. Logo ao assumir o governo, baixou o decreto obrigando em Manaus o
beneficiamento da borracha amazonense, que passava toda como paraense.
Regularizou a matéria, que beneficiou moral e materialmente o Estado. Fez o
maravilhoso porto flutuante de Manaus, que ainda hoje lá está, beneficiando, a
terra e os homens, através da empresa “Manaus Harbour”.
Conseguiu
a construção do edifício da Alfandega, cláusula contratual com a referida
empresa. Cuidou dos problemas básicos do Estado e da Cidade, — serviços de
água, luz, bondes, telefones, higiene, calçamentos, esgotos, plantando,
arborizando, melhorando-os e fazendo os seus pagamentos em dia, cuidando das
artes, e dando relevo à sociedade. Ao seu tempo, o Teatro Amazonas não se
fechava. Construiu escolas e grupos escolares.
E
teve uma grande e definitiva ação na questão do Acre. Sucessor do
vice-governador Ramalho Junior, em exercício no cargo de governador, ele foi
também um dos maiores lutadores pela integridade do território nacional. Foi
ele quem ajudou e auxiliou Plácido de Castro e Gentil Norberto na campanha
sangrenta para que não tirassem o Acre do Amazonas e do Brasil.
Na
sua primeira Mensagem à Assembleia Legislativa ele tem uma página
forte e feliz comprovando que o Acre era e é brasileiro. E a sua ação.
A
época era, de paixões, mas ele venceu-as. Um oligarca? Mas se todos fossem
assim, que bom seria para os estados e para a Pátria!
Morreu
a 23 de junho de 1934. (segue)
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