CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, julho 31, 2024

ANÚNCIOS NO PALITO DE MANAUS: 1902

 Recortados do jornal O PALITO, de sua edição inaugural - 1º de junho de 1902 -, que apesar de exercer a "troça", necessitava para circular de anunciantes. E como se pode observar, conquistou alguns respeitáveis, que deixaram fama, ainda em nossa época lembrados: Casa 22 Paulista, Fotografia Alemã e Casa Panhola. 

Cabeçalho da edição e anúncios (abaixo), acervo da 
Biblioteca Nacional



terça-feira, julho 30, 2024

SERINGAL À VENDA: QUEM DÁ MAIS?

Entre tantos anúncios comerciais e particulares publicados no jornal O NORTE DO BRASIL (edição de 27 jun. 1888), portanto, ao tempo da província, destaquei este pela singularidade das medidas do seringal posto à venda. Não consegui identificar o rio principal, pior ainda, seu "braço". A leitura nos possibilita várias deduções, talvez a mais pertinente seja a do abandono desta vasta região. Enfim, "gringos" (pelos nomes expostos) vendendo enorme área "ao deus dará", sem qualquer titulação ou proteção do poder provincial.  Quem dá++++?

Detalhes: A edição deste periódico pertence ao acervo digital da Biblioteca Nacional. Creio que o rio Taranacá mencionado seja o Tarauacá, que circula entre o Acre e o Amazonas. 

Recorte do citado jornal

SERINGAL

Rodolpho von Tobil vende as benfeitorias de seu seringal denominado Muaná, no braço Embira do rio Taranacá (sic) sendo: 15 estradas, 4 barracas; roça, árvores frutíferas. A extensão do terreno é de vinte praias com seringais virgens para mais de 30 estradas.

A tratar nesta cidade com os srs. Schramm & Cia., e no lugar com o sr. Ferdinand Lumere.

Manaus, junho 1888.


domingo, julho 28, 2024

REVISTA DO AMAZONAS: 1876

Vinte e quatro anos após a instalação da província do Amazonas, um grupo de autoridades constituídas, em sua maioria acadêmicos do Recife, inauguraram a REVISTA DO AMAZONAS, objetivando analisar os assuntos pertinentes a nova unidade do Império e, obviamente, abonar orientação. Desconheço por quanto tempo persistiu essa iniciativa, conheço somente o exemplar aqui postado, retirado do acervo virtual da Biblioteca Pública.

Edição inaugural em 4 abril 1876


REVISTA DO AMAZONAS - 
CONDIÇÕES DA ASSINATURA

A REVISTA DO AMAZONAS sai uma vez por mês com 16 ou mais páginas de impressão no formato deste número, e só se recebe assinaturas por semestre, pagas adiantadas, pelo preço de 30$000 réis. O número avulso vende-se a 800 réis.

Ilustração da Revista do Amazonas nº 1 ano I


sábado, julho 27, 2024

SEMINÁRIO SÃO JOSÉ: NOTA HISTÓRICA

Quando assumi uma cadeira no IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) há quase 30 anos (novembro de 1994), registrei em discurso de posse que iria produzir a história do Seminário São José de Manaus, onde estudei o então curso ginasial, cuja promessa ainda não cumpri. Passeando dias desse pelos periódicos do Amazonas, esbarrei com este anúncio do primitivo educandário para o sacerdócio. De pronto, percebe-se que o Seminário havia se transformado em escola para quem pudesse pagar. As referências não registram a ordenação de um só padre, mas enfatizam a formação de até engenheiros.

O registro compartilhei do jornal O Norte do Brazil, edição nº 57 Ano I, circulada em 27 junho de 1888, existente na Biblioteca Nacional.

 

 J. M. J.

Seminário de S. José

REITOR e ECÔNOMO - Padre Luiz Gonzaga de Oliveira.

VICE-REITOR - Padre dr. Israel Freire da Silva. 

Este estabelecimento escolar foi fundado a 11 de maio de 1848 pelo falecido bispo d. José Afonso de Moraes Torres. Conta hoje 38 anos de existência e nele tem sido educado grande número de cidadãos que ocupam atualmente posição no funcionalismo da província, na engenharia, nas artes e nas indústrias.

O seu corpo docente compõe-se de habilíssimos professores, e funciona à praça da Imperatriz, e que acaba de ser restaurado nas melhores condições higiênicas. As matérias do ensino primário e secundário dividem-se assim:

ENSINO PRIMÁRIO

Leitura, caligrafia, elementos de Gramatica Portuguesa, noções de Geografia e especialmente do Brasil, resumo da História Pátria, elementos de Aritmética.

Professores: Francisco Xavier de Lacerda, diplomado pela escola normal do Pará, e Joaquim Freire da Silva.

CURSO SECUNDÁRIO

Português: O reitor, padre Luiz Gonzaga de Oliveira.

Francês: Padre Dr. Israel Freire da Silva.

Inglês: Dr. Henrique Moers.

Latim: O reitor padre Luiz Gonzaga de Oliveira e Dr. Henrique Moers.

História Universal e Pátria - Padre dr. Israel Freire da Silva

Matemáticas: Dr. Henrique Moers.

Retorica: Bertino Miranda Lima.

Geografia Universal: Física Elementar e Desenho: Henrique Moers.

Filosofia, Religião e Civilidade: O reitor padre Luiz Gonzaga de Oliveira Música e Canto: Napoleão Lavor. 

Os alunos do curso secundário são todos internos ou meio pensionistas; no primário, admitem-se externos.

PENSÃO

I.º - Aluno interno por todo ano letivo / Meio pensionista / Externo

As pensões são pagas em três prestações, em janeiro, abril e julho. O mês começado entende-se vencido quanto ao pagamento.

2.º - Pagarão mais os internos, no ato da matrícula, a joia de 30$000 réis, e terão direito, durante todo o ano, ao fornecimento de papel, pena, tinta, caneta, lápis, régua, lavatório, cama e corte de cabelos uma vez por mês. Os meio-pensionistas pagarão a joia de 20$000 réis, e terão direito ao fornecimento de papel, pena, tinta etc.

3.º - Quando houver dois ou mais irmãos, far-se-á na última prestação uma redução de 5% sobre a pensão.

4.º - Os alunos que passarem as férias no Seminário, pagarão a pensão de 100$000 réis, por todo o tempo das férias.

ENXOVAL

1 Travesseiro / 4 Fronhas / 2 Lençóis e 2 cobertas / 12 Camisas / 12 Ceroulas / 12 Pares de meias / 6 Calças pardas / 6 Paletós pardos / 12 Lenços / 6 Toalhas de rosto / 4 Camisões de dormir / 2 Calções de riscado para banho / 2 Sacos para roupa servida / 6 Guardanapos de mesa / 2 Pares de sapatos para casa, 1 para sair à rua / 1 Espelho, 1 pente de alisar, 1 pente fino, 1 tesourinha, 1 escova para dentes, 1 para unhas, 1 para fatos, 1 para sapatos.

O uniforme constará de calça preta, paletó preto com gola de veludo da mesma cor, colete preto fechado até em cima, gravata e chapéu de massa igualmente pretos.

OBSERVAÇÕES

1.º - A roupa dos alunos é toda guardada em armários apropriados e debaixo de chave. Deve vir toda marcada ao menos com as iniciais do nome.

2.° - A roupa limpa pode vir em qualquer dia das quatro e meia à 6 da tarde, rotulada com o nome do aluno a quem deverá ser entregue. A roupa servida só sairá nas quintas-feiras e domingos, das 8 às 10 horas da manhã e das 4 às 6 da tarde.

3.º - Cada aluno interno deve trazer um bauzinho de folha de 40 centímetros de cumprimento, para guardar pequenos objetos que devem estar sempre à mão.

4.º - Os livros serão fornecidos pelos pais dos alunos, protetores ou correspondentes.

5.º - O ensino de música vocal é dado a todos os alunos internos e meio-pensionistas, sem aumento de despesa para os pais; haverá duas lições por semana. Os que quiserem aprender música instrumental pagarão o que for convencionado.

6.° - Os externos devem apresentar-se no Seminário de manhã às 7h. e três quartos, de tarde às 2 e três quartos; retiram-se de manhã, às 10h, de tarde às 4h e meia.

O ano letivo começa em janeiro e acaba em outubro

Manaus, 10 de Janeiro de 1888.

O Reitor, Padre Luiz Gonzaga d’Oliveira.

terça-feira, julho 23, 2024

REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR (3)

 
Este movimento centenário teve partida no final desse dia 23, com o deslocamento do 27 BC, sob o comando do capitão José Carlos Dubois, aquartelado onde hoje funciona o Colégio Militar de Manaus. Como havia a necessidade de transpor o quartel da Polícia Militar, situado na sua conhecida praça, a tropa após descer a avenida Eduardo Ribeiro, tomou a rua Henrique Martins em direção à avenida 13 de Maio (hoje Getúlio Vargas), estabelecendo um bivaque atrás do Ginásio Amazonense Pedro II, hoje Colégio Estadual, a fim de submeter a Força Estadual.

Diante da resistência da Força, não obstante a desproporcionalidade de forças, conforme documento escrito pelo capitão Augusto Vaz Sodré da Costa, oficial de dia, que ainda assinalou a presença do comandante – coronel Pedro José de Souza, que recebeu ferimentos juntamente com o tenente Manuel Correa da Silva, os defensores do quartel decidiram contemporizar, facilitando que os revoltosos alcançassem o Palácio Rio Negro.

Deposto o governador interino, o tenente Ribeiro Júnior assumiu o governo estadual, cuja administração durou pouco mais de um mês, todavia trouxe enorme contentamento à população, diante do descalabro do governo deposto. O governo da república, no cumprimento da legislação, remeteu a Expedição do Norte, sob o comando do general Mena Barreto, que prendeu os oficiais revoltosos.

Na despedida de Ribeiro Junior do Palácio Rio Negro, houve uma manifestação popular, quando foram ouvidas diversas vozes. Desse acontecimento foi elaborada uma composição pelo fotógrafo Gil, que ilustra este registro (acima).

domingo, julho 21, 2024

REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR (2)

Creio que foram poucos os nomes de autoridades que seguiram o tenente EB Ribeiro Junior na administração estadual, entre julho e agosto de 1924. Todavia, entre estes, destaca-se Coriolano Durand (1878-1938), “professor, poeta, advogado e dramaturgo”, assinala dele Robério Braga, em Fundadores da Academia Amazonense de Letras (2019). E sobre aquela rebelião, complementa Braga: “Em 1924, quando do movimento militar e popular que afastou o governador Cesar do Rego Monteiro, pronunciou inflamado discurso a favor do tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior, chegando a ser preso, pouco depois, quando da interventoria Alfredo Sá (1925).”
Coriolano Durand,
in Fundadores...

Parte desse “inflamado discurso” foi impresso na oficina fotográfica de GIL GR, que efetuou a distribuição pela cidade. Do lado direito do gravado, Durand se dirige ao general Mena Barreto, chefe da Expedição do Norte, encarregado de desmobilizar a rebelião em Manaus:

Impresso organizado por Gil GR (Casa Rodriguez)

(...) Aqui a tendes, sr. General, pedindo-vos, pela força germinativa de cada um dos seus cristais, bençãos, em vez de sangue; sementes, em vez de balas; em lugar do braço que maneja o canhão, braços que norteiam o arado, para que se lhe arranquem das feridas por ela mesma suplicadas como uma esmola ao seu infinito amor de mãe, as fartas messes concebidas, com despedaçamento do seu sacrificado seio, sob as carícias desse sol ardente, amante seu, eterno e enamorado.”

Do outro, encerra a homenagem, proclamando:

“Tenente Alfredo Augusto Ribeiro Junior, agora que descestes as escadas do poder para galgares os primeiros degraus do martírio e da imortalidade, o Povo Amazonense, usando de sua soberania, por mim te aclama e sagra ‘Cidadão do Amazonas’ – tu, que pela sua libertação oferecestes em holocausto a tua liberdade e, quiçá, a tua vida; tu, heroico defensor da pátria dos Manaus; tu, oh! doce Jesus da minha desventurada terra!” Manaus, 28 agosto 1924. Coriolano Durand.

sábado, julho 20, 2024

REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR (1)

Ainda são palavras de João Nogueira da Matta, insertas em
Manaus por dentro (1988), lembrando alguns nomes de partícipes da revolta militar que depôs o governador Rego Monteiro (1921-24) e seus filhos, instalados em postos de destaque da administração. Houve por parte da população uma aprovação unanime, tanto que os dirigentes da revolta foram aclamados em Belém (PA), Magalhães Barata, e em Porto Velho (RO), Aloizio Magalhães, sem olvidar Ribeiro Junior em Manaus, eleito deputado federal e lembrado em logradouro público (1954) que a Prefeitura adiante desmontou.
Ribeiro Junior

 "Tradicionais os conciões (sic) políticos desde os primeiros anos do século [20]. Com o eclodir da Revolução Amazonense, em 1924, tornaram-se inesquecíveis as reuniões de Ribeiro Junior, que durante 34 dias dirigiu os destinos do Amazonas. Além desse militar, cuja voz se fez ouvir com eloquência, usaram da palavra vários oradores, como Hemetério Cabrinha, Chagas Aguiar, Crisanto Jobim, Pereira da Silva e Osvaldo Viana." 


quinta-feira, julho 18, 2024

REBELIÃO DE RIBEIRO JUNIOR - CENTENÁRIO

Primeiro foi em São Paulo, em 9 de julho, quando este se rebelou, mas foi destroçado pelas Forças Federais. Este movimento acolá ficou alcunhado de "Revolução Esquecida". Duas semanas depois eclodiu no outro lado do país, em Manaus, quando oficiais do Exército e da Marinha se aliaram para depor o governador Rego Monteiro. Muito já se escreveu sobre este agitação política-militar na capital amazonense, igualmente já efetuei várias postagens sobre o tema - Rebelião de Ribeiro Junior.

Prossigo nesta semana, iniciando hoje com a crônica do saudoso João Nogueira da Matta, que pertenceu a Academia Amazonense de Letras e foi governador interino, compartilhada de seu livro Manaus por dentro (Manaus: Ed. Calderaro, 1988), que assistiu o desenrolar desta intentona.    

DURANTE A REVOLUÇÃO DE 24

 Com a chegada a Manaus da Expedição do Norte, em 1924, numerosa e esmagadora, deram as autoridades legalistas caçada aos “revoltosos”, que haviam retornado de Óbidos. Retornaram destroçados pela adversidade, após longos dias embrenhados no soturno da selva. Quase todos jovens de nossas tradicionais famílias, convocados pelo comando revolucionário, no atropelo da viagem de 27 BC empreendida com destino a Belém do Pará.

As turmas dos patrulheiros nordestinos, barbudos e cabeludos, de fuzil e facão do mato — diziam que para maior êxito nos combates corpo-a-corpo — passaram a vasculhar a cidade do centro aos subúrbios mais distantes, com a intolerância de todos os vencedores. Infelizmente, em momentos que tais, existem denunciantes que hoje chamam de “dedos duros”, prontos para o papel de judas, continuadores daquele que adquiriu triste notoriedade em decorrência do beijo maldito.

Naquela manhã, o perigo que já assediara outras áreas da cidade, chegou à Parada Campelo. Parada de bondes que vinham do centro urbano — cujo fulcro era a avenida Eduardo Ribeiro — e para ele retornavam até à estação, no amplo Largo da Matriz. Chegados àquele local, sempre frequentado por populares, rumaram pela rua Humaitá, como quem vai para a rua Carvalho Leal, na direção do igarapé. De casa em casa, à semelhança de quem procura agulha em palheiro, foram ter à residência de Dionésio Marinho, sargento que fazia parte dos insurretos. Como de praxe, entraram sem licença de qualquer natureza, com armas em punho, certos e recertos que eram os homens mais corajosos do planeta.

Dionésio Marinho chegara ao seio da família, no dia anterior, quase irreconhecível. Cabelos nos ombros, barba igualmente crescida, magro e pálido, para rever a mulher e os filhinhos. Fala quase imperceptível em consequência dos dias passados sem comer — só mais nítida quando se dirigia aos parentes e amigos íntimos. Nada de pormenores sobre os acontecimentos na longa via crucis empreendida até Óbidos. Ao que informaram alguns rebeldes, assim que chegaram a Manaus, o comando da tropa de Óbidos aconselhara a dispersão e o salve-se quem puder, em face da Expedição do Norte, esmagadora em todos os sentidos. Com o avultado número de vasos de guerra, paquetes do Lóide Brasileiro transformados em transportes e homens armados até os dentes.

Quando os patrulheiros chegaram, Dionésio Marinho já havia sido avisado por pessoas da vizinhança, de maneira que conseguiu passar para a casa de sua comadre Rosmarina, ao lado. Essa senhora de grande confiança, que se prontificara a dar-lhe a necessária guarida. -- Deixe tudo por minha conta, compadre, que saberei parlamentar com os perseguidores sem entranhas.

Lépida, com admirável acuidade mental, soube preparar tudo muito bem. No quartinho em que costumava trabalhar, desocupou o baú de roupa lavada e nele escondeu o homem procurado. Por sobre o baú colocou a roupa, sem qualquer arrumação. Em sentido diagonal, armou a rede da filha mais nova, a Dila, e fê-la deitar-se, com recomendação de que estava para todos os efeitos enferma. Não se assustasse com a presença dos intrusos. Amarrou a cabeça da pequena com um lenção, depois de untá-la com óleo de andiroba ou copaíba. Disfarce irrecusável.

Momentos depois, eis os patrulheiros mal encarados na casa de Rosmarina, bisbilhotando todos os recantos. Ao entrar o sargento no quarto, dona Rosmarina rompeu com a bateria: -- Pelo amor de Deus, respeite meu lar! Esta aí é minha filhinha convalescente de sarampo! O militar estancou, tomado de surpresa. Levantou o lençol que cobria a pequena enferma. Realmente, de cabeça amarrada, o corpo tresandando a unguento, convenceu o homem de farda que se tratava de um caso a ser respeitado. E logo de sarampo! Não foi além. Deixou até de indagar se o baú estava ocupado. Dali mesmo resolveu dirigir-se aos inferiores, dando por terminada a diligência.

Dentro em pouco seguiram os patrulheiros pelo bairro, à procura de outros fugitivos, por determinação expressa dos homens encarregados do restabelecimento da ordem no país. Ah! o restabelecimento da ordem interna! Revoltosos jogados nas enxovias de Paricatuba, às margens do Rio Negro, e mais tarde levados para as ilhas penumbrosas do Rio, onde aguardaram julgamento.

Dionésio Marinho, como excelente sargento, não dormia no ponto. Reunindo forças, com a colaboração de dois amigos, preparou-se para seguir com destino ao Curari. Viagem de canoa, na base do remo, e assim evitou nova ameaça de prisão. Quando chegaram ao flutuante no Xiborena, encostaram para comprar alguns maços de cigarro. Enquanto um dos tripulantes da frágil embarcação pedia os maços de cigarro, dois investigadores da Polícia, travestidos de caboclos, procuraram interpelar: -- De onde vêm os senhores? -- De Manaus, respondeu Dionésio. -- E para onde se dirigem? -- Vamos para casa, no Curari.

Os policiais quase surpreenderam os viajantes. Um chegou a perguntar: --Que atividade exercem? -- Somos agricultores. -- Com essa pele tão bem conservada? Dionésio Marinho não se intimidou, acostumado que estava à franqueza da linguagem de caserna. E desvencilhou-se: -- Estamos habituados aos contatos com a natureza. Usamos, na luta dos roçados, o chapéu de tucumã de abas largas. Com o trabalho, por várias semanas, à sombra da “casa de farinha”, a fisionomia ficou assim como o senhor vê.

Dada a explicação, com firmeza, foram os "agricultores” saindo de banda, como diz o caboclo, entraram na canoa, e deram as primeiras remadas. Nada de se preocuparem com o rio que se estendia à frente, com aquela imensidão de águas para navegar. Assim se livrou Dionésio Marinho do torpe assédio das forças chegadas do Rio de Janeiro, numa perseguição que só cessaria em 1930 — seis anos depois do movimento redentor do Amazonas com a anistia ampla de Getúlio Vargas no comando da Revolução de Outubro.

quarta-feira, julho 17, 2024

CMA: INSTALAÇÃO EM MANAUS

Em 4 de julho (data nacional norte americana), marca a posse do CMA (Comando Militar da Amazônia) em Manaus. Aconteceu há 55 anos, em 1969, quando foi extinto o GEF (Grupamento de Elementos de Fronteira), em prol desta nova grande unidade das Forças Terrestres. Dias depois ocorreu a solenidade de posse do primeiro comandante: general Rodrigo Otavio Jordão Ramos, singularmente conhecido por RO.

Manaus, 4 de julho de 1969

segunda-feira, julho 15, 2024

EM MANAUS, O MARITIMO (JORNAL)

 Mais um jornal lançado em Manaus, no início da segunda década do século passado. Desconheço quanto tempo subsistiu. Intitulado de O MARITIMO, reunia os integrantes da Marinha Mercante, que obviamente possuía um número expressivo, dado a quantidade desses profissionais à época. De outro modo, era o único meio de comunicação entre as distintas agremiações. A folha dos marítimos amazonenses foi lançada em 27 de abril de 1911, publicada aos sábados.

Título do jornal, acervo da Biblioteca Nacional
Na segunda página deste periódico encontrei um poema de Maranhão Sobrinho, já membro da Academia Maranhense, mas que zanzava pela capital da borracha, onde faleceu ainda jovem no Natal de 1915. A composição me parece ser inédita, dado o descuido que o autor dispensava à sua produção. 

Recorte da página 2, cópia abaixo

 O coração do mar

Ao caro amigo Serra Freire 

Ouve. O mar escarpando as rochas, na agonia

do sol, parece ter na voz o humano acento

de dor. Reza, talvez; vai recolher-se. O dia

se ajoelha e a noite, em sonho, abraça o firmamento. 

Como nós pode ser que a tristeza e a alegria

o mar sinta também: precisa em movimento

trazer um coração: quem sabe o que irradia

no seu íntimo em doce e azul recolhimento! 

Escuta. Uma onda vem beijar-te os pés. Não há de

calma os seios rasgar sobre os basaltos; quérulas

as ondas todas são. Ouve-lhe a voz. Piedade! 

O mar leva-me a crer que tem paixões mortais

em que rolam, brilhando as lágrimas das pérolas

e palpita, fervendo, o sangue dos corais...  

Maranhão Sobrinho

(Da Academia Maranhense) 

domingo, julho 14, 2024

HUMAITÁ E UM SEU PERIÓDICO:1918

Raymundo Monteiro 
Compartilhei este jornal da Biblioteca Nacional virtual, nada mais sei. Como este trazia o Madrigal de Raymundo [de Castro] Monteiro, decidi expandir a pequena informação sobre este poeta. Monteiro nasceu em Humaitá, município à margem esquerda do rio Madeira, em 24 de outubro de 1882. Pertenceu à Academia Amazonense de Letras. Quando do lançamento deste jornal (1918) possuía 36 anos de idade, e não mais estaria vivendo naquela cidade, até em razão de ter sido, naquele ano, fundador do Silogeu Amazonense, na cadeira 16. E mais: frequentou com assiduidade a então Capital Federal. Faleceu em Manaus, em 20 de junho de 1932. Para saber mais: Robério Braga: Fundadores da Academia Amazonense de Letras. Manaus: Reggo, 2019.

Capa de O Madeirense, lançado no
município amazonense de Humaitá

 

MADRIGAL

Bruno donzel, ou donzela / Bruna, floris na loquela / Parnasiana, em rima bela!

 Rima adaptável à Artista / Prodigiosa! — Transformista / De vários dons de conquista...

 Mas, a beleza fulgura / Na vossa alegre figura / De Tália em miniatura!

 E é tanta a graça de Musa / Por vossos gestos difusa, / Que sai a estrofe confusa...

 E a Língua em vão se rebela / Contra a pobreza daquela / Rima oportuna... Sois bela!

 Toda fulgis no meu Verso / Com o mago aspecto diverso, / Das ondas verdes ao luar!

Cosmopolita! — Universo / De almas! — Eu sei admirar...

 Raymundo MONTEIRO


sexta-feira, julho 12, 2024

MANAUS: REBELIÃO POLICIAL MILITAR

Bittencourt
Comentando sobre o impresso distribuído pela SEC (Secretaria de Educação e Cultura) acerca do governador Antonio Bittencourt, que oficializa a praça que a população conhece por praça do Congresso, esqueceu-se de registrar o fato acontecido em 22 de dezembro de 1912. Nesta data, oficiais da Polícia Militar do Estado, mancomunados com políticos adversários de Bittencourt, promoveram uma rebelião no Estado.

Os amotinados depuseram o comandante da Força, coronel Pedro José de Souza, assumindo o quartel da Praça da Polícia. Em seguida, constituído o triunvirato sob as ordens do coronel Onofre Cidade, marchou sobre o Palácio do Governador, instalado na Praça de Dom Pedro II, antigo Paço da Liberdade, sede da prefeitura de Manaus. O governador Bittencourt desertou, alegando temer por sua vida e de seus familiares. Convocado o vice-governador, desembargador Sá Peixoto, este igualmente seguiu o mesmo caminho. Assim, essa Junta assumiu o governo do Amazonas, cuja duração foi de 48 horas de turbulências. 

Este acontecimento inusitado pode aparentar lenda urbana, todavia, encontra-se registrado em jornais e no Diário Oficial do Estado. E a mestra Etelvina Garcia, ao inventariar os governadores de nosso Estado, registra o triunvirato (coronel José Onofre Cidade, majores João Fragoso Monteiro e Amâncio Clementino Fernandes) na condição de governantes. Não obstante a Wikipèdia não o listar entre os governadores.  


Jornal de 4 páginas, em sua edição inaugural

Esses dias, bisbilhotando a Biblioteca Nacional (virtual) encontrei o jornal O Democrata, em sua edição inaugural, datado da véspera do Natal daquele ano. Trazia uma coluna reproduzindo Boletins (policiais) circulados então, aclarando a situação política. Como não há indicação do comandante da Polícia Militar, fica “o dito pelo não dito”. Certo mesmo é que o Amazonas foi governado – ainda que por dois dias - por um triunvirato de policiais militares.

Quem foi o coronel Onofre Cidade, que sequer deixou uma foto para a posteridade?.

quinta-feira, julho 11, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (34)

Novo capítulo da história da Polícia Militar do Amazonas, relativo ao período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

 

 
Conrado Niemeyer, foto IHGB

Reorganização da Guarda

Coronel Niemeyer promulga a Lei 761, em 16 de junho de 1887, fixando “a força na Guarda Policial para o ano de 1888”, todavia, é singelo observar que se trata de apreciável reorganização desta instituição. Entre outros detalhamentos, estabelece o efetivo de onze oficiais e 187 praças e a organização estruturada, de acordo com o artigo 1º, em “um corpo com duas companhias, (que) será comandado por um oficial com a graduação de major”.

 

O artigo 9º impõe aos oficiais do Corpo Policial a incompatibilidade “para o exercício de qualquer outro emprego público”. Finalmente, o artigo 10 estabelece ao presidente provincial o encargo de reformar “o regulamento da Guarda Policial de acordo com a presente lei, plano e tabelas anexas”. Tem mais. Se a autoridade delegada julgar conveniente para a boa marcha do serviço, poderá pô-lo em execução. A execução deste artigo consubstanciou-se com a promulgação do Regulamento 57, que adiante será abordado. 

Corpo Policial do Amazonas

O presidente coronel Niemeyer põe em execução o Regulamento 57, em 26 de agosto. O artigo 2º disciplina a mudança de nomenclatura da corporação e assinala sua destinação: “Este corpo denominar-se-á Corpo Policial do Amazonas e terá por fim manter a ordem pública, garantir a segurança individual e de propriedade e auxiliar a Justiça”. De fato, aqui ocorre a primeira mudança na designação da Força Militar estadual, havia passado onze anos desde seu soerguimento.

O estatuto não apresenta maiores divergências comparado aos anteriores, apenas organiza a Força Estadual em duas companhias. Certamente para facilitar o serviço ou distribuir com mais coerência o pessoal. De novidade, acredito, foi o estabelecimento de prêmios, regra do artigo 22 e seguintes, “a todo o indivíduo que se alistar no Corpo Policial (...) se abonará o prêmio de duzentos mil-réis que lhe será pago integralmente, quando tiver concluído o tempo de serviço a que se obrigar”. Uma espécie de “fundo de garantia”, garantia de que o policial cumprisse o tempo de serviço, sem desertar, muito comum então.

A iniciativa visava aumentar o fascínio de policiais, diante do soldo pago que era pouco atrativo para tanto e desgastante serviço. Nesse sentido, sempre foi um dos queixumes dos governantes, pois, no comércio, única fonte de emprego fora do governo, remunerava-se bem mais. A questão salarial continua recorrente na corporação. O pagamento pela atividade de policiamento, exigida em situação nem sempre compreendida pelo policial militar, produz o desconforto dos vencimentos.

Tratando do uniforme, este regulamento foi enfático. O art. 45 resume a questão: “o uniforme do Corpo Policial será designado pelo Presidente da Província, que o poderá alterar quando julgar conveniente”; os distintivos dos oficiais serão sempre iguais aos que usa o Exército. Decisão vulgar, pois quem fabricaria alguns distintivos para “meia dúzia” de oficiais amazonenses?

terça-feira, julho 09, 2024

MANAUS: JORNAL GREMIAL EM 1936 (2)

 O GRÊMIO, periódico lançado pelos integrantes do Grêmio Estudantal Humberto de Campos, alunos do Ginásio Amazonense Pedro II, traz no 2º número do primeiro ano, circulado em julho de 1936, um poema de Moacyr Rosas (futuro odontólogo e membro de várias Academias e autor de diversos livros), aqui postado.

Cabeçalho do jornal

Jovens bem relacionados, obtiveram o anúncio como se observa da fábrica de cervejas da família Miranda Corrêa.

Anúncio da XPTO e o poema de Moacyr Rosas

TEU LAÇO DE FITA

À D. L.

Apanha a essência destas fundas mágoas / 

Concentra o fogo nos teus seios nus.  (Castro Alves)

        Menina bonita!

Teu laço de fita

Prendido à cabeça

Igual borboleta

Pousada na flor...

Menina bonita!

Teu laço de fita

É mesmo um primor

É um laço de amor

Que já me prendeu... (segue)