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sexta-feira, maio 06, 2022

PADRE NONATO PINHEIRO: CENTENÁRIO (2)

No próximo dia 10, o saudoso padre Raimundo Nonato Pinheiro será lembrado pelo centenário de seu nascimento. Seguindo com a minha homenagem, publico a segunda parte do artigo "Bodas de Ouro", acerca da festa da Igreja de São Sebastião local.

Capa do livro

Aproveito ainda para lembrar o livro sobre a Ordem dos Capuchinhos da Úmbria, responsáveis pela paróquia de São Sebastião e pela evangelização católica dos municípios do Alto Solimões. Trata-se da obra "a Igreja sobre o rio", cuja capa ilustra esta postagem.

Bodas de Ouro

Padre NONATO PINHEIRO Academia Amazonense de Letras)

Frei Wenceslau de Spoleto também foi vigário, e mais tarde Prelado do Alto Solimões, sucumbindo poucos dias antes de sua Sagração Episcopal. Conservo dele as mais caras recordações, entre as quais o culto da amizade. Possuía um coração afetuosíssimo. Banhavam-se-lhe os olhos de lágrimas ao sopro da mais leve emoção. Tive a honra de privar de sua intimidade, dando-me provas inequívocas de profunda afeição. Atraiu-me sua Prelazia, em 1948, para pregar o novenário da Senhora da Conceição, na cidade de Benjamin Constant. Ao anunciar a palavra de Deus comovia os ouvintes pela unção com que falava.

Entre os vigários falecidos, devo mencionar o culto Frei Antonino de Perugia, figura nobre de capuchinho, de conversação atraente e erudita. Notabilizou-se pelos estudes de língua portuguesa, manifestando particular atração pelos assuntos etimológicos. Conhecendo-me as preferências, gostava de praticar comigo acerca de questões de linguagem relativas ao latim, ao italiano e ao português. Uma queda desastrosa na rua de Silva Ramos, ao dirigir-se à Escola Premonitória do Bom Pastor, que funcionava num edifício situado ao lado da Igreja Presbiteriana, obrigou-o a usar um cajado até os últimos dias de sua vida. Era o cronista da comunidade. Esses, os vigários falecidos, que me deram a honra de sua preciosa amizade, e a cuja memória presto meu comovido preito de homenagem no modesto soneto que figura na última página deste caderno.

Ofereço meu ramo de flor aos caros capuchinhos por motivo do Jubileu, ressaltando de modo particular o Revmo. Padre Custódio, o piedoso Frei Samuel de Intermesoli; Frei Miguelângelo de Marenella, que deu à Paróquia muita vitalidade; e ao atual vigário, Frei Lourenço Maria do Porto, pastor zeloso que muito tem feito pelo florescimento da Paróquia num apostolado edificante, alicerçado na oração, no jejum e na mortificação.

Quisera ter letras de ouro para glorificar esses sacerdotes de ouro, a quem a Paróquia e a Arquidiocese muito devem. Deus não permitiu que minha mãe tomasse parte nos festejos comemorativos deste solene cinquentenário, como tanto desejava. Do Céu acenará com jubilosa aquiescência às palavras do filho, recordando-se com saudade de sua querida igreja, que frequentava diariamente com as mesmas disposições do salmista, ao celebrar as viagens santas para o templo do Senhor. Qual pardal ou andorinha, encontrou um delicioso ninho no templo sagrado: "passer invenit domum, et hirundo nidum sibi”. Como o salmista, encontrava o auxilio de Deus nessas viagens santas para a igreja: "Beatus vir, cujus auxilium est a te, cum sacra itinera in animo habet". (...)

Há na esguia e majestosa torre da igreja de São Sebastião, cuja bela fachada, se deve à competência de um grande artista, o engenheiro Aluísio Araújo, um sino em que se lê a expressão latina "concilio laeta": eu canto as alegrias. Suponho que esse bronze sagrado não ficou silencioso nas áureas Bodas paroquiais. Há de ter bimbalhado em repiques festivos, elevando aos Céus os cânticos jubilosos dos paroquianos pelos cinquenta anos de vida paroquial, em que jorraram a flux as bênçãos de Deus por intercessão do glorioso mártir São Sebastião.

 Entrego ao virtuoso vigário estes pequeninos grãos de incenso, para queimá-los em seu coração sacerdotal, turíbulo vivo da Divindade, numa homenagem de imperecível afeição ao templo cinquentenário das núpcias de meus genitores e do meu glorioso batismo!

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