No próximo dia 10, o saudoso padre Raimundo Nonato Pinheiro será lembrado pelo centenário de seu nascimento. Seguindo com a minha homenagem, publico a segunda parte do artigo "Bodas de Ouro", acerca da festa da Igreja de São Sebastião local.
Capa do livro |
Aproveito ainda para lembrar o livro sobre a Ordem dos Capuchinhos da Úmbria, responsáveis pela paróquia de São Sebastião e pela evangelização católica dos municípios do Alto Solimões. Trata-se da obra "a Igreja sobre o rio", cuja capa ilustra esta postagem.
Bodas de Ouro
Padre NONATO PINHEIRO Academia Amazonense
de Letras)
Frei Wenceslau de Spoleto também
foi vigário, e mais tarde Prelado do Alto Solimões, sucumbindo poucos dias
antes de sua Sagração Episcopal. Conservo dele as mais caras recordações, entre
as quais o culto da amizade. Possuía um coração afetuosíssimo. Banhavam-se-lhe
os olhos de lágrimas ao sopro da mais leve emoção. Tive a honra de privar de
sua intimidade, dando-me provas inequívocas de profunda afeição. Atraiu-me sua
Prelazia, em 1948, para pregar o novenário da Senhora da Conceição, na cidade
de Benjamin Constant. Ao anunciar a palavra de Deus comovia os ouvintes pela
unção com que falava.
Entre os vigários falecidos, devo
mencionar o culto Frei Antonino de Perugia, figura nobre de capuchinho, de
conversação atraente e erudita. Notabilizou-se pelos estudes de língua portuguesa,
manifestando particular atração pelos assuntos etimológicos. Conhecendo-me as
preferências, gostava de praticar comigo acerca de questões de linguagem
relativas ao latim, ao italiano e ao português. Uma queda desastrosa na rua de
Silva Ramos, ao dirigir-se à Escola Premonitória do Bom Pastor, que funcionava
num edifício situado ao lado da Igreja Presbiteriana, obrigou-o a usar um
cajado até os últimos dias de sua vida. Era o cronista da comunidade. Esses, os
vigários falecidos, que me deram a honra de sua preciosa amizade, e a cuja
memória presto meu comovido preito de homenagem no modesto soneto que figura na
última página deste caderno.
Ofereço meu ramo de flor aos caros
capuchinhos por motivo do Jubileu, ressaltando de modo particular o Revmo.
Padre Custódio, o piedoso Frei Samuel de Intermesoli; Frei Miguelângelo de
Marenella, que deu à Paróquia muita vitalidade; e ao atual vigário, Frei Lourenço
Maria do Porto, pastor zeloso que muito tem feito pelo florescimento da Paróquia
num apostolado edificante, alicerçado na oração, no jejum e na mortificação.
Quisera ter letras de ouro para
glorificar esses sacerdotes de ouro, a quem a Paróquia e a Arquidiocese muito
devem. Deus não permitiu que minha mãe tomasse parte nos festejos comemorativos
deste solene cinquentenário, como tanto desejava. Do Céu acenará com jubilosa
aquiescência às palavras do filho, recordando-se com saudade de sua querida
igreja, que frequentava diariamente com as mesmas disposições do salmista, ao
celebrar as viagens santas para o templo do Senhor. Qual pardal ou andorinha,
encontrou um delicioso ninho no templo sagrado: "passer invenit domum, et
hirundo nidum sibi”. Como o salmista, encontrava o auxilio de Deus nessas
viagens santas para a igreja: "Beatus vir, cujus auxilium est a te, cum
sacra itinera in animo habet". (...)
Há na esguia e majestosa torre da
igreja de São Sebastião, cuja bela fachada, se deve à competência de um grande
artista, o engenheiro Aluísio Araújo, um sino em que se lê a expressão latina
"concilio laeta": eu canto as alegrias. Suponho que esse bronze
sagrado não ficou silencioso nas áureas Bodas paroquiais. Há de ter bimbalhado
em repiques festivos, elevando aos Céus os cânticos jubilosos dos paroquianos
pelos cinquenta anos de vida paroquial, em que jorraram a flux as bênçãos de
Deus por intercessão do glorioso mártir São Sebastião.
Entrego ao virtuoso vigário estes pequeninos
grãos de incenso, para queimá-los em seu coração sacerdotal, turíbulo vivo da
Divindade, numa homenagem de imperecível afeição ao templo cinquentenário das
núpcias de meus genitores e do meu glorioso batismo!
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