CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, maio 29, 2022

FLA-FLU DE ONTEM E DE HOJE

Há dez anos, o craque Tostão, agora articulista esportivo da Folha, lembrou sua primeira presença no Maracanã como torcedor para assistir um FLA-FLU. Leia o texto e saiba como foi realizada a façanha deste mineiro.

Ao ler este artigo, recordei do meu FLA-FLU, o mesmo que o mineiro descreveu, com uma ligeira disparidade: enquanto ele estava no Maracanã, eu estava no Morro da Liberdade, em casa sem energia elétrica, obrigado a me satisfazer do jogo pelo rádio à pilha, ouvindo a Rádio Globo, que sofria variações de todas as espécies, de sorte(?) que vez outra o sinal desaparecia...

Lembro bem do atleta que "roubou" o jogo: o goleiro Marçal do Flamengo, que depois graduou-se em medicina, como o Tostão.

Hoje tem espetáculo: FLA-FLU, com mando de campo do segundo.

  

Meu melhor Fla-Flu

TOSTÃO

 

 


  

HOJE, TEMOS FIa-Flu. Ontem, o grande clássico completou cem anos. Nesta noite, sonhei com o tricolor Nelson Rodrigues, o mais exagerado e genial cronista esportivo brasileiro.

Fiz a ele a tradicional pergunta: Quem vai ganhar hoje? Ele respondeu: "Desde ontem, o Fluminense. Só um cego, hereditário e póstumo, não enxerga o óbvio ululante. Faço um apelo aos tricolores, vivos ou mortos, para irem ao Engenhão".

Assisti a um grande número de Fla-FIus pela TV. No estádio, meu Fla-Flu inesquecível, primeiro e único, foi em 1963. Empate, na decisão do título carioca. O Flamengo foi campeão. Eu tinha 16 anos e acabado de assinar meu primeiro contrato profissional com o Cruzeiro.

Na sexta-feira, à noite, eu e três amigos do bairro, todos menores de idade, pegamos um ônibus na rodoviária de BH para o Rio. Um tio do meu amigo, que morava no Rio, comprou nossos ingressos.
Chegamos pela manhã. Ficamos hospedados em uma pensão, uma casa antiga e toda branca, em Copacabana, na avenida Atlântica. Atravessávamos a rua e estávamos na praia. Havia só uma pista para carros. Passamos o dia brincando com a bola na praia. Mais tarde, cansados e famintos, fomos para o restaurante Spaghettilândia, onde comemos uma mega macarronada.

No domingo, jogamos mais futebol, pela manhã, na praia, e pegamos um ônibus lotado para o Maracanã. O tio de meu amigo levaria as malas para a rodoviária.

Lembro mais da festa do que do jogo. Ficamos na arquibancada, espremidos, no meio da torcida do Fluminense. Ninguém me conhecia. Éramos todos tricolores, não tão fanáticos para ficar tristes com a perda do título. Marçal, goleiro do Flamengo, médico, mineiro, que, anos depois, encontrei em um hospital de Belo Horizonte, agarrou até pensamento. Foi o maior público da história do Fla-Flu e o segundo maior do Maracanã, com 177.656 pagantes.

Não imaginava que, seis anos depois, jogaria no Maracanã, para o maior público da história do estádio (183.341 pagantes), pela seleção brasileira, contra o Paraguai, na decisão da vaga para a Copa de 1970.

Do Maracanã, fomos para a rodoviária, ainda a tempo de comer um sanduíche, tomar uma cerveja e pegar o ônibus para Belo Horizonte. Chegamos felizes.

Não foi uma aventura irresponsável de quatro adolescentes. Na época, isso era mais comum. O mundo mudou. Ficou pior e melhor, mais moderno.  


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