CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS
quinta-feira, setembro 30, 2021
DOIS SAUDOSOS ARTISTAS
domingo, setembro 26, 2021
VISITA ILUSTRE
quinta-feira, setembro 23, 2021
REVISTAS CIRCULADAS EM 1930
Sem motivo para estranhamento, afinal este tipo de imprensa circulava com abundância àquele período. "Cabocla" era dirigida por Genesino Braga; "Victoria Regia", por Francisco Bomfim e Mario Ypiranga; e "Estudante", por Aldemir de Miranda e Ariosto de Rezende Rocha. As citadas revistas podem ser encontradas em bibliotecas especializadas, como a Mario Ypiranga, localizada no Centro Cultural Povos da Amazônia.
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Anúncio em revista Estudante |
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Anúncio em Victoria Regia |
terça-feira, setembro 21, 2021
DESPEDIDA DE AMIGOS: LUTO
A semana passada me alcançou pesadamente com o falecimento de dois amigos: primeiro, na quarta-feira (15), a Mara Ayres, e, no domingo (19), o doutor Amazonilo Castro.
Mara Ayres (55a) era há anos Colaboradora da Polícia Militar do Estado, lotada na Diretoria de Comunicação Social (DCS). Conhecedora de minhas pesquisas e publicações sobre a corporação, mantinha meu contato para oferecer aos interessados, quando não pudesse responder a inquirição. Em contrapartida, recorria a ela para informações de bastidores.
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Mara Ayres |
Sempre que visitava o comando-geral,
passava pela sala da DCS para trocar um papo com a Mara. Após o cafezinho, e
sanados algumas questões, a conversa entrava pelo trivial, quando eu para
instigar a amiga “falava mal” da Polícia. A defesa que ela fazia era intransigente,
com fidelidade absoluta pela corporação.
Proclamo tal caráter, pois vi chegar
as primeiras funcionárias civis na PMAM, lá se vão mais de 50 anos. Mara marcou
seu tempo e sua posição no quadro desses profissionais no quartel de Petrópolis.
A postura dela foi bem desenhada pelos colegas de batente na despedida lançada
nas redes sociais: “Agradecemos a ti por tudo, pela irreverência, pelos sorrisos,
pelas gargalhadas, pelo perfume que invadia o ar que respirávamos, pela elegância,
pelo bom gosto de cerimonialista profissional, formada na escola de refinadas lições
que nos ensinaste”.
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Na formatura de Amazonilo (dir.) e do amigo Raimundo Melo (esq.) |
Doutor Amazonilo Castro (83a) foi meu
colega inicial na Faculdade de Direito do Amazonas, em 1969, ainda no seriado,
do primeiro ao quinto ano. Fomos juntos até o terceiro, quando me desloquei para
Fortaleza, a fim de cumprir curso policial militar. Foi quando perdi o passo, e
ele chegou primeiro ao diploma e ao escritório de advocacia. Aliás, eu nunca
cheguei a tanto, logrei apenas o bacharelado. Todavia, ficou a amizade e o
respeito.
Quando ele conquistou o departamento jurídico
da Beta (a famosa fabricante de joias) na entrada rua Belo Horizonte, desfrutamos
de confortáveis momentos, que se realizavam aos sábados. A farra era simples:
consistia em reunir os colaboradores dele, aos quais me juntava, e buscávamos ao
igarapé do Mindu, então em boas condições, era um oásis.
Depois, lembro-me dele no escritório da
rua Saldanha Marinho. Ele disputando com os juristas da época, tentando se impor
dentro do possível. Adiante voltei a me encontrar com ele na Assembleia
Legislativa: ele, no Departamento Jurídico, eu, major chefe da Casa Militar e
consequentemente da Segurança.
Então, o tempo nos afastou, pelas
mudanças domiciliares, pelas mudanças conjugais, pela idade que vai nos
tornando domésticos, enfim, pela velhice, que nada tem de “melhor idade”. Despedi-me
dele, faz poucos anos, antes da pandemia, quando o alcancei em local de moradia
imprópria situada na Cachoeirinha.
Aos dois amigos que partiram, a minha
promessa de revê-los na eternidade.
sexta-feira, setembro 17, 2021
CLUBE FILATÉLICO DO AMAZONAS (CFA)
Há um mês o CFA vem conquistando adequados resultados: entre 18 e 28 de agosto promoveu a Amostra Filatélica, abrigada no Palacete Provincial. Após este evento, o CFA manteve contato com a superintendência estadual do Amazonas, na pessoa de Elias de Araújo Vieira, para tratar da reabertura da Sala de Filatelia na agência Monsenhor Coutinho, afinal efetivada dia 15. E, nesta sexta-feira, o Clube esteve presente na Reitoria da Universidade Federal para o lançamento do selo personalizado, que marca o 30º aniversário do Museu Amazônico.
Selo do CFA
A reabertura da
sala filatélica que, nos bons tempos do colecionismo de selos, funcionava
diariamente, com atendimento exclusivo, voltou atendendo apenas a cada sexta-feira.
O fato é compreensível, pois, o desinteresse pelo colecionismo diante do avanço
tecnológico, acrescido da pandemia, liquidaram os negócios. O Clube com seus
poucos membros tenta revitalizar o local, não será fácil, porém, estamos confiantes
em novos passos bem-sucedidos.
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Assembleia presente à reabertura |
Hoje, compareci
junto com o secretário do CFA, Adriel França, ao lançamento do selo
personalizado do Museu Amazônico, ocorrido na Reitoria. Presente o Reitor da
Universidade, Sylvio Puga, o diretor do Museu e outros membros daquele Centro
de Ensino Superior. Ao falar, relembrei a fundação do CFA, em 1969, e seu
primeiro presidente, que foi professor e diretor da Faculdade de Engenharia,
Nelson Porto.
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Convite do lançamento |
Adriel falou de
sua gratidão em ter incentivado a produção daquele selo, do entusiasmo com o
movimento que se tenta estabelecer. Ao encerrar, o Reitor Sylvio Puga não
somente agradeceu a nossa participação, como dispôs as dependências da Casa e
seus recursos técnicos em prol da divulgação da Filatelia.
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Reitor Sylvio Puga (ao centro) e os dirigentes do CFA (à direita) |
quarta-feira, setembro 15, 2021
SALA FILATÉLICA DOS CORREIOS
Aconteceu hoje pela tarde a reabertura da Sala Filatélica situada na agência dos correios Monsenhor Coutinho. Como indica a denominação, destina-se a atender aos cultores da Filatelia, aos encantados pelos selos postais e outros derivados.
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Antonio Loureiro, Jorge Bargas, Rosseti e Adriel França, a partir da esquerda |
Esteve presente bom número de afiliados do Clube Filatélico do Amazonas (CFA): Antonio e José Augusto Loureiro, Jorge Bargas (vice-presidente), Moysés Garcia, Ismael Alexandre (acompanhado de um cinegrafista); Daniel Sousa; Adriel França e Rosseti; Iona. Além do representante da direção-geral dos Correios, da dirigente da mencionada agência, Eudija Cunha, da Natividade (ex-atendente desta sala) e a Ritacley, que passa a acolher os filatelistas. ´
A sala estava fechada desde a explosão da Covid19, portanto, há mais de um ano. Desse modo, os filatelistas tiveram que se encontrar em diversos destinos, obviamente, sem os recursos do local adequado. Com o funcionamento, o CFA espera organizar novos encontros, a fim de divulgar do melhor modo a paixão pelos Selos Postais.
Enfim, restou estabelecido que a reunião semanal do CFA acontece na Sala cada sexta-feira, entre as 13 e 16 horas.
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Roberto Mendonça, presidente CFA |
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Material exposto pela Sala |
sexta-feira, setembro 10, 2021
BATEDORES DA PMAM (4)
Sargento Gaio – Raimundo Gaio de Moraes Filho – marcou seu caminho na Polícia Militar do Amazonas na condução de motocicletas, no controle de trânsito. Foi um Batedor, como se intitula este profissional em âmbito militar.
Um dos pioneiros, ocasião em que o governo estadual adquiriu as primeiras Halley-Davidson, em 1972. Para melhor aproveitamento, os primeiros especialistas foram aprovados em curso realizado na Cia de Polícia do Exército (PE), então situada na estrada da Ponta da Negra, hoje avenida Jorge Teixeira.
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Ficha de identificação |
O então sargento Gaio foi dessa primeira turma e acredito que o único graduado, pois os demais eram oficiais oriundos do NPOR, os conhecidos oficiais R/2. Outros sargentos certamente foram batedores, estou buscando-os. Assim como os destinos das primeiras motocicletas Harley-Davidson empregadas na Polícia Militar. Hei de encontrar, ainda que sejam somente os registros delas.
Gaio Filho nasceu em 7 de maio
de 1949, portanto, ainda vive aos 72 anos. É amazonense de Manaus, tendo
ingressado na PMAM em julho de 1969, e dela passou a reserva em 1991, como 1º
sargento. Dados de sua ficha de ingresso na corporação consta que ele possuía cor
parda e 1m70 de altura.
A história dos Batedores vai
prosseguir, ainda há muito para narrar.
terça-feira, setembro 07, 2021
POEMA NO SETE DE SETEMBRO
Sempre há surpresa, como aconteceu hoje com a comemoração do Dia da Independência. Este ano, sem desfile militar, fomos obrigados a assistir a uma fúnebre e enganosa reunião de encamisados de verde-amarelos.
Para amenizar o disparate, vou postar um poema escrito pelo saudoso jornalista Ramayana de Chevalier. E foi de raridade sua incursão nesta arte. Poema encontrado na revista A Selva, circulada em Manaus.
Vi milhões de coqueiros!
Cocares verdes de tuxauas
ou sivahs de braços vegetais!
Vi rasgões de estradas brancas ou lágrimas deslizantes
de rios colossais
que vieram do olhar enoitecido da Terra!...
Ouvi gritos de gaivotas!
Vi sombras ao crepúsculo, de lavradores de bronze,
no socalco das serras!
Vi gigantes de pedra que representavam na quietude granítica
a indolência da gente!
Vi dez corpos,
cem corpos
dez milhões de corpos
morenos como coivaras,
loiros como trechos de sol na vidraça dos rasga-céus,
alvos como retratos de luar
na esclerótica cochilante dos brejos do sertão!
Volúveis na cor
como o pensamento nacional!...
Vi vazios de tabuleiros, milionários de sol, a olharem o azul
[sem nuvens
as gargantas com febre!...
Vi o olhar longínquo dos zebus
espreitando da alma a tragédia da seca.
Vi o proletário que cospe todo o dia o amargor desiludido da vida.
Vi o burguês que fuma charutos enormes
e humilha os humildes para não parecer escravo dos "yankees".
Vi o caboclo que sonha
O malandro que samba
O negro que soluça no ritmo monotônico de atabaques sem som
que adormecem
de tedio...
Vi o sangue fervendo, e ancas batendo, e seios de chumbo. Mulher brasileira
Tisnada de luz, vestida de cor,
Jaboticaba, sumo verde, meu amor,
que envenena e delicia...
Vi a saudade com sono espiando o crepúsculo...
Vi o orador que nasce em esquina e não sabe o que diz.
Vi o poeta, olhos que escondem mil anos de sentimentalismo, escorado à porta de um restaurante chinês
assoviando a revérie dc Schumann...
Vi um grande, um imenso rosto pálido
de maceração endêmica
trechos verdes de sangue mau
trechos rubros de sangue bom
sorrindo nos olhos tristes
chorando na boca exangue
que chupa cana, come pé de moleque, ginga o corpo no [samba
faz versos, faz versos, faz versos,
com uma vontade doida de ser feliz
e faz o sinal da cruz
para ir de noite ao candomblé.
Vi o Brasil!
domingo, setembro 05, 2021
O MERCADO PÚBLICO (2)
Complemento da postagem de ontem, que publicou texto de Ramayana de Chevalier.
Veem elas de longe, léguas e léguas d’água, ao arrojo dos músculos. ao léu dos descantos matutos, ao sabor da paisagem escancarada como um grito, vencendo a corrente.
E como que se identificam as origens, pela máscara, pela indumenta dos remeiros.
Brunos uns, sararás outros, rudes todos,
diferem, pelas ademanes e pela conversa, pelo traje e pelo aspecto. Chegam os de Terra-Nova, folgados, prazenteiros, ainda capazes de novas milhas na luta contra a caudal: trazem
parcos que guincham, papagaios faladores. galinhas fartas, ovos sem pinto. Aproximam-se os do Careiro: mais fatigados. ainda
assim oferecem, alegremente, as suas angélicas, os seus pescados, ainda palpitantes, de guelra viva,
resfolegando...
Avançam os do Xiborena, os do Manaquiri, os de Puraquequara, os do Cambixe, os da costa do Rebojão. Refertos de esperança e de resignação, uns
tristes por destino, outros loquazes e comunicativos despejam todos a sua carga: frutos, bichos, artifícios de cipós, estatuarias argilosas, fantasias de penas, quinquilharias feitas de sementes perfumadas, pechisbeques de chifre ou de carapaças de quelônios, minúcias pulverizadas para odorizar roupas íntimas. E tudo se reúne em montes, em ilhotas, no aladeiramento praieiro, ofertado nos gritos. aos dichotes, às gargalhadas, entre anedotas de valentia e recontos de chiste.
De quando em vez uma depreciação gaiata da mercadoria de um colega: "Ei, Nhô Chico! Esse tucunaré já nasceu morto!" E o riso coroa a graçola, sem ressentimentos, sem rancores, sem perfídias. Tudo espontâneo e simples como aquelas almas, nascidas na selva, entre amigos bolanicos (sic) e inimigos civilizados.
O sol já vai alto. Rutilam, ao seu beijo, os vergalhões de ferro dos armazéns, a cabeçorra achatada dos galpões da Manaus Harbour.
As famílias passeiam entre os montes de produtos. Param aqui, além, no indagar pelo custo do cento de laranjas do Purupuru, pelo custo das mangas amarelas, dos cajus vermelhos e cheirosos.
E uma festa. Diária, permanente. humilde e majestosa na harmonia das almas e das coisas, uma festa amazônica, pacata e sedutora, onde não falta, por nenhum motivo, a sagrada cachaça.
Do Janauacá vem ela aos garrafões, barata, pura, transparente, para cobrir da humidade das noites o corpo dos que dormem ao leu, e do calor do dia a pele dos que não têm sombras, nem palácios...
Serve para tudo e acompanha, por toda a parte, os remadores audazes da minha terra. Ela é como o beijo de certas mulheres: eterniza um instante de satisfação e reduz a um instante a longitude de uma vida...
É a amiga melhor e a melhor inimiga. Depois que se queimam nela, perdem os caboclos a resistência ao mosquito. Qualquer paludismo é uma condenação. qualquer inflamação do fígado: a morte. O que seria, no entanto, sem ela, os pobres caboclos, desamparados e tristes por nascimento? Com ela o Mercado vive e se inflama de surpresas, na algaravia dos narradores de histórias de bate, de boiuna, de assombrações.
À tarde, morre a "praia". O sol
esquenta e cai, em flexus verticais, sobre o cansaço dos atletas morenos.
Eles então, antes de partirem, para retornar, de novo, às carícias da lua ou às carrancas do céu tempestuoso, procuram
o repouso, gozando as últimas horas da cidade. Ou dormem,
descuidosos, ao mormaço, no fundo das
embarcações quietas, ou farejam, solertes e dissimulados, as ruas suspeitas, à cata de um corpo vago e de uma cama tosca.
E levam, não raro, sob o paletó de mescla. ou
a blusa de madapolão, ou em embrulhos opressados, o seu melhor quinhão, tambaqui gordinho ou bananas doiradas,
para a oferenda régia às suas morenas.
Sem o Mercado, Manaus seria uma imitação grotesca de cidade
grande. Com o Mercado, ela é um berço de ineditísmos
e uma reserva gloriosa de brasilidade amazônica.
E como que se identificam as origens, pela máscara, pela indumenta dos remeiros.
Brunos uns, sararás outros, rudes todos,
diferem, pelas ademanes e pela conversa, pelo traje e pelo aspecto. Chegam os de Terra-Nova, folgados, prazenteiros, ainda capazes de novas milhas na luta contra a caudal: trazem
parcos que guincham, papagaios faladores. galinhas fartas, ovos sem pinto. Aproximam-se os do Careiro: mais fatigados. ainda
assim oferecem, alegremente, as suas angélicas, os seus pescados, ainda palpitantes, de guelra viva,
resfolegando...
Avançam os do Xiborena, os do Manaquiri, os de Puraquequara, os do Cambixe, os da costa do Rebojão. Refertos de esperança e de resignação, uns
tristes por destino, outros loquazes e comunicativos despejam todos a sua carga: frutos, bichos, artifícios de cipós, estatuarias argilosas, fantasias de penas, quinquilharias feitas de sementes perfumadas, pechisbeques de chifre ou de carapaças de quelônios, minúcias pulverizadas para odorizar roupas íntimas. E tudo se reúne em montes, em ilhotas, no aladeiramento praieiro, ofertado nos gritos. aos dichotes, às gargalhadas, entre anedotas de valentia e recontos de chiste.
De quando em vez uma depreciação gaiata da mercadoria de um colega: "Ei, Nhô Chico! Esse tucunaré já nasceu morto!" E o riso coroa a graçola, sem ressentimentos, sem rancores, sem perfídias. Tudo espontâneo e simples como aquelas almas, nascidas na selva, entre amigos bolanicos (sic) e inimigos civilizados.
O sol já vai alto. Rutilam, ao seu beijo, os vergalhões de ferro dos armazéns, a cabeçorra achatada dos galpões da Manaus Harbour.
As famílias passeiam entre os montes de produtos. Param aqui, além, no indagar pelo custo do cento de laranjas do Purupuru, pelo custo das mangas amarelas, dos cajus vermelhos e cheirosos.
E uma festa. Diária, permanente. humilde e majestosa na harmonia das almas e das coisas, uma festa amazônica, pacata e sedutora, onde não falta, por nenhum motivo, a sagrada cachaça.
Do Janauacá vem ela aos garrafões, barata, pura, transparente, para cobrir da humidade das noites o corpo dos que dormem ao leu, e do calor do dia a pele dos que não têm sombras, nem palácios...
Serve para tudo e acompanha, por toda a parte, os remadores audazes da minha terra.
Ela é como o beijo de certas mulheres: eterniza um instante de satisfação e reduz a um instante a
longitude de uma vida...
É a amiga melhor e a melhor inimiga.
Depois que se queimam nela, perdem os caboclos a resistência ao mosquito.
Qualquer paludismo é uma condenação.
qualquer inflamação do fígado: a morte. O que seria, no entanto, sem ela, os pobres caboclos, desamparados e tristes por nascimento? Com ela o Mercado vive e se inflama de surpresas, na algaravia dos narradores de histórias de bate, de boiuna, de assombrações.
À tarde, morre a "praia". O sol
esquenta e cai, em flexus verticais, sobre o cansaço dos atletas morenos.
Eles então, antes de partirem, para retornar, de novo, às carícias da lua ou às carrancas do céu tempestuoso, procuram
o repouso, gozando as últimas horas da cidade. Ou dormem,
descuidosos, ao mormaço, no fundo das
embarcações quietas, ou farejam, solertes e dissimulados, as ruas suspeitas, à cata de um corpo vago e de uma cama tosca.
E levam, não raro, sob o paletó de mescla. ou
a blusa de madapolão, ou em embrulhos opressados, o seu melhor quinhão, tambaqui gordinho ou bananas doiradas,
para a oferenda régia às suas morenas.
Sem o Mercado, Manaus seria uma imitação grotesca de cidade
grande. Com o Mercado, ela é um berço de ineditísmos
e uma reserva gloriosa de brasilidade amazônica.