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terça-feira, julho 31, 2018

EPHIGENIO SALLES

Capa do folheto
Efigênio Salles foi governador do Amazonas no quadriênio 1926-30. Nascido em Minas Gerais, desembarcou ainda jovem na "capital da borracha", e nela fez amplo progresso. Ele próprio conta sua rocambolesca passagem pela vida, no folheto Ao serviço do Amazonas, publicado em 1934. 
A reprodução deste será feita em etapas.

Título geral do capítulo



Limitar-me-ei, todavia, a uma simples enumeração de fatos, expostos à luz da verdade sabida de todos, com referência precisa a datas, figuras e documentos, mas em geral desacompanhados de quaisquer comentários, que, aliás, não comportaria a natureza sucinta desta narrativa.

Trata-se apenas de avivar, na justa oportunidade, o que está na consciência dos bons amazonenses, sem atenção e com desprezo absoluto aos desmemoriados, que se negam a si mesmos, negando a própria evidência do dia de ontem.

*  *  *
Cheguei a Manaus em abril de 1896, com 17 anos de idade apenas e sem nenhuma carta de apresentação ou recomendação, como um pobre imigrante que era, dentro do meu país. E aqui aportando, iniciei desde logo a minha vida, muito modestamente, como mero aprendiz de tipógrafo nas oficinas do Diário Oficial do Estado. Mas, logo no ano seguinte, regressava ao Rio, precisamente quando mais intensa ia a luta de Canudos, entre os fanáticos de Antonio Conselheiro e as tropas do governo, constituídas de batalhões do Exército e das forças policiais de diferentes unidades da República. Moço, cheio de ardente civismo, imediatamente ingressei na coluna Arthur Oscar, seguindo para a Bahia incorporado ao 22° BI, sob o comando do coronel Bento Thomaz Gonçalves e, em seguida, por substituição, do seu bravo fiscal, major Lydio Porto, debaixo de cujos ordens servi até vitória final dos legais. Terminada essa sangrenta biela, de tão doloroso registro na história dos primeiros dias do regime, voltei ao Amazonas.

Dispondo, já então, de um círculo maior de relações, fui convidado pelo major Euzébio Caldas, gerente do jornal “Amazonas”, para incumbir-me, como repórter, da parte noticiosa daquela folha, dirigida e redigida, à época, pelos saudosos amazonenses, coronéis Antonio Bittencourt e Antonio Salgado dos Santos. Fastidioso fora rememorar, nestas linhas, a crônica do velho e tradicional órgão de publicidade, que durante certa fase foi forçado a suspender sua publicação. Seria necessário volver toda uma página movimentada da vida política do Estado. É tarefa para o historiador de amanhã.

Entre 1898 e 1899, no governo Ramalho Junior, partia eu para o Acre, em companhia de Luiz Galvez Gonçalves d'Arias, afim de tomar parte na reação que, sob a orientação do mesmo Galvez, ali se organizou para expulsar os bolivianos que haviam invadido a região, de lá desalojando grande número de famílias brasileiras, cearenses, naquelas paragens radicadas desde muitos anos.
Não há lugar também, aqui, para a rememoração desse capítulo.
Gravemente enfermo, desci do Acre, diretamente com destino ao Rio de Janeiro, de onde tornei a estas plagas, de meados para o fim de 99, retomando o meu obscuro posto de auxiliar da imprensa, na redação do “Amazonas”.

Eis que, já no governo Silvério Nery, são os acreanos de novo deslocados de suas antigas propriedades, vindo refugiar-se nas cercanias de Puerto Alonso, um pouco abaixo da linha Cunha Gomes, em Caquetá, Esperança e outros pontos. Tangiam-nos, ainda uma vez, os bolivianos, comandados pelo general Rojas, com a presença até dos generais Pando e Monte, aquele presidente e este ministro da guerra da Bolívia.

A opinião brasileira, como é natural, alvoroçou-se com esses sucessos de repercussão viva e imediata na capital amazonense, onde para logo se formou uma expedição patriótica, sob os auspícios do governador Silvério Nery e direção do denodado Dr. Orlando Corrêa Lopes.

Não vacilei em participar espontânea e entusiasticamente dessa coluna, que se compunha de elementos de escol no jornalismo e nas letras, e tenho o orgulho de ter sido nela o voluntário número 1, ao lado de vultos brilhantes, logo depois incorporados, tais, entre muitos outros, o grande Plácido de Castro, que viria mais tarde a desempenhar papel de extraordinária relevância nos acontecimentos do Acre; João Barreto de Menezes, José Maria dos Santos, comandante Pery Delamare, Trajano Chacon, Ribeiro de Castro, José dos Anjos, Arnaldo Machado, Guilherme Souto, Inácio José de Carvalho, Gentil Norberto, Avelino Chaves, para citar dos maiores alguns já desaparecidos, e bem assim o atual diretor-proprietário da “União Portugueza”, senhor Manoel Domingos dos Passos Gomes na gloriosa jornada, dizem mais alto que tudo as promoções que sucessivamente obtive, passando de cabo-sargenteante da primeira guerrilha, posto em que daqui saíra, a capitão assistente do cominando geral de todas as forças acicatais, e sempre por atos de bravura em árduas refregas e no desempenho de arriscadas missões de que fui encarregado. 

Em princípios de 1901, baixava, porém, a Manaus, com outros companheiros na causa comum, e isto por solidariedade ao comandante em chefe das nossas tropas, Dr. Orlando Lopes, em divergência, com o comando de algumas unidades provisórias organizadas pelos próprios elementos da região.

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