Entrevistado
para a edição especial sobre a Amazonia, divulgada pela extinta revista Manchete
(setembro de 1989), o saudoso amazonólogo Samuel Benchimol (1923-2002) deixou
registrado os pensamentos aqui compartilhados, bem como sua bem expressiva foto.
"Para conhecer a Amazônia é necessário pisar no
seu chão. Mergulhar no rio Amazonas, andar pela mata e chegar à essência. Ela entra
em você e toma
conta de tudo" – ensina
um caboclo ribeirinho em Óbidos, no Pará.
Nada deve ser feito sem humildade, sem um trabalho de
observação e pesquisa, repensando até o conceito da ecologia em seu mais puro
significado. Afinal, existe o homem – protagonista, réu e vítima do processo de ocupação daquele território. Trata-se de uma tarefa
multidisciplinar, que exige a estreita cooperação entre a comunidade científica
e os detentores do poder político.
Residente em Manaus, [Samuel] Benchimol concorda que o nível de desmatamento
alcançado em Rondônia, norte de Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, sul do Pará,
e em menor escala no Acre e mínimo no Amazonas, é preocupante. "Mas não a
ponto de se profetizar a destruição total da floresta amazônica no espaço de
duas décadas, conforme a previsão de muitos ecólogos, climatologistas e
políticos alarmistas" –
ressalta.Samuel Benchimol, no registro da revista Manchete
A perspectiva apocalíptica toma forma, porém, quando
a área desflorestada é comparada com a superfície de pequenos países europeus
(Holanda, Bélgica, Suíça, Dinamarca) ou com a de médios (França, Alemanha,
Itália). Na ótica desses países, o quadro torna-se literalmente devastador.
Em outra dimensão - que estimula o desperdício —, o
Brasil sequer chegou a uma conclusão da abrangência territorial da floresta
amazônica.
Clara Pandolfo ("Amazônia Brasileira e suas
Potencialidades", Belém:
1979) a estende por 260 milhões de hectares. Os botânicos Murça Pires, do Museu
Goeldi, e William Rodrigues, do Instituto [Nacional] de Pesquisas Amazônicas (INPA), avaliam essa
cobertura vegetal em 350 milhões de hectares. O inventário geobotânico do IBGE
aponta para 538 milhões de hectares. Tomando como referência os 251.429
quilômetros quadrados desmatados,
detectados pelo Instituto [Nacional] de Pesquisas Espaciais (INPE), podem-se fazer várias
leituras em termos percentuais.
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