Publicado na revista Victoria Regia (abril de 1932), o longo artigo do autor de Faiscador de Vernáculo trata da linguagem de nossos indígenas e, na transposição para o segundo tópico, assegurava a existência de uma barafunda neste campo linguístico. Então, com a palavra o saudoso filólogo João Leda, que pertenceu a Academia Amazonense de Letras, para esclarecer a “etimologia de caboclo”.
Como acertar, em semelhante barafunda, a etimologia de “caboclo”?
Amadeu Amaral [Amadeu Ataliba Arruda Amaral Leite Penteado, 1875-1929],
prudentemente, põe-lhe uma interrogação indicativa de quem tem dúvidas, e até a
própria significação de caboclo não está ainda apurada, pois o rol de
brasileirismos, inserto na Revista da Academia Brasileira de Letras (outubro
de 1910) pergunta: é tapuia, gentio, mestiço de índio e português?
E onde haveria sido forjado o vocábulo? Na metrópole portuguesa,
ou em terras da antiga colônia? Que significaria ele, primitivamente? Em que
livro, genuinamente brasileiro, surgiu pela primeira vez?
Nossas investigações lograram averiguar somente que a
palavra teve curso no alvará régio de 4 de abril de 1755, determinando que aos vassalos
casados com índias ficava rigorosamente proibido dar o nome de “caboclos”, ou
outro semelhante, que se pudesse tornar por injurioso. Da legislação portuguesa,
portanto, se deduz que o vocábulo era tido como pejorativo e usado para
designar o colono matrimoniado com indígena.
Recorte do texto publicado na revista Victoria Regia
Qual a trajetória semântica de “caboclo” e como fixar o seu
significado fundamental através dos documentos escritos?
Aí fica um interessante problema a tentar as laboriosas
pesquisas dos competentes.
Qualquer que seja a solução encontrada, o certo é que, em
nossos dias, pelo menos na região amazônica, “caboclo” é a expressão viva do
homem calmo, de admirável espírito de resignação, mas possuindo no mais alto
grau as qualidades da resistência e da perseverança, que lhe permitem vencer a
hostilidade circundante, sorrindo às rebeldias do vale e domando a temerosa
braveza da selva. Março, 1932.
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