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sábado, outubro 10, 2015

PMAM - COSME E DAMIÃO

Recorte de jornal A Crítica
De fato, aconteceu uma renovação a implantação do policiamento a pé, em dupla, conhecido por Cosme e Damião. Foi implantado na Capital estadual, quando do governo de Plínio Ramos Coelho (1955-59) e, sendo comandante da Polícia Militar do Amazonas, o tenente-coronel Cleto Veras.

A pequena tropa estava constituída de policiais escolhidos pela presença física e pelo treinamento. As duplas, que circulavam pelo Centro, ampliavam a segurança dos moradores, moradores que constituíam a classe dirigente do Estado.

Afonso de Carvalho, autor da crônica, integrava a família de André Araújo, cuja filha Ritta Araújo, hoje dirige o matutino A Crítica. Todos eram moradores da rua Tapajós, nas proximidades da igreja de São Sebastião e do Teatro Amazonas.

Os Cosme e Damião foram empregados pela PMAM por anos, até 1972, quando a Rádio Patrulha rouba-lhes essa primazia. A partir desse ano, Manaus passou a ser vigiada pelo policiamento motorizado.    

Cosme e Damião: Bons Amigos (*)

Crônica de Afonso de Carvalho

DOU NOTÍCIAS ao leitor do funcionamento dos Cosme-e-Damião nesta cidade. Mais de uma vintena dos simpáticos policiais já se acham em função em nossas ruas e praças, as mãos para trás, sérios, compenetrados do seu papel, com a missão precípua de manter a boa ordem, proteger os velhos, as crianças e as árvores, satisfazendo, assim, um justo anseio da boa gente manauense, que há tempos implorava segurança e tranquilidade, sem que ninguém a ouvisse nem de tal tomasse conhecimento.
Os Cosme-e-Damião já chegaram, porém, e chegaram em boa hora. Eles devem conhecer, nas maiores minúcias, as responsabilidades do seu posto, responsabilidades que são grandes, de todas as horas, de todos os minutos. Manaus vinha sendo, lamentavelmente, uma cidade sem proteção, uma cidade, por assim dizer, entregue aos maus elementos, que lhe destruíam as belezas ainda restantes, seus monumentos, seus jardins, suas árvores, suas instalações elétricas e telefônicas e até a propriedade particular se sentia abandonada, porque as autoridades não davam nenhuma atenção a um problema tão importante, como é esse, assistindo, a tudo, impassíveis e indiferentes como se não fosse sua obrigação zelar por aquilo que foi construído com o dinheiro do povo, arrancado, Deus sabe, a tão duras penas. 
Dupla de Cosme e Damião
Tínhamos uma Guarda Civil e tínhamos (ou temos) uma Guarda de Parques e Jardins, esta última sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal — mas infelizmente esses órgãos não preenchiam suas finalidades por motivos bem fáceis de imaginar. Agora vem de ser criada a organização dos Cosme-e-Damião nos moldes da que existe na capital da República e outros centros adiantados do País. Os Cosme-e-Damião são cavalheiros que de nós merecem toda a consideração. 
Devemos prestigiá-los, estimulando-os na sua ação, pois eles vieram para, como dissemos, manter a ordem na cidade, corrigindo os malfeitos (que são muitos entre nós), pondo freio igualmente à molecagem destruidora e vieram também para proteger os pequeninos, os fracos e os indefesos — que são, no caso, as crianças, os velhos, as árvores, os passarinhos, que enfeitam e dão vida aos nossos pobres jardins. 
Dizem que, por enquanto, os simpáticos policiais de mãos-atrás-das-costas só estão agindo nas horas silenciosas da noite. Seu número ainda é pequeno e isso se explica pelo fato do trabalho de seleção dos seus membros ser bastante rigoroso. Cosme ou Damião só pode ser quem tenha um caráter à prova de fogo, quem possua bons sentimentos no coração, quem conheça deveres cívicos e possua, outro tanto, boa fortaleza física, calma, ponderação e coragem. Esses são os homens, leitor, que agora nos estão protegendo. Faço votos para que eles obtenham prestígio no seio da população da cidade. 
Que cada um de nós, de hoje por diante, tenha um sono mais tranquilo e uma existência mais segura, só em pensar que ali na esquina existe um homem fardado que lhe garanta a vida, a propriedade, o bom silêncio, a tranquilidade tão necessária que todos almejam. 
Cosme-e-Damião são policiais de elite, todos fiquem certos dessa verdade. São homens educados, cavalheiros, com uma missão consciente e uma vontade firme a executar. Deixo a eles, aqui, a minha mensagem de solidariedade e o meu pedido bem compreensível e modesto: não esqueçam a minha rua, a rua Tapajós. Ela é uma rua como as outras, abandonada, triste, terrivelmente escura e necessita da proteção de vocês, bons amigos que chegaram. Nas noites escuras gostarei de ouvir seus trinados e suas passadas cadenciadas pelo calçamento em frente à minha casa. Dormirei assim mais contente, terei mais confiança no dia de amanhã. 
Salve, pois, os Cosme-e-Damião.
(*) A Crítica, 28 de agosto de 1956

 

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