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quinta-feira, novembro 13, 2014

ESTELITA TAPAJÓS



Igreja de Educandos, 1946

Arthur Reis governou o Amazonas entre 1964-67. Conhecedor da história do Estado, o governador ao concluir a construção de três escolas de ensino médio, deu a uma delas o nome de Estelita Tapajós. Construída na outrora praça da igreja de Educandos ou de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ali continua servindo a juventude educandense.

Estelita Tapajós foi escolhido para patrono de uma Cadeira acadêmica. Meses atrás, o titular da Cadeira, Abrahim Baze, foi encarregado de palestrar sobre o citado patrono. Em busca de subsídios, dirigiu-se a aludida escola. Qual não foi a surpresa deste jornalista, quando os alunos lhe asseguraram que possuíam a foto da Estelita Tapajós.

A falta de informações de certo levara os dirigentes da Escola e aos educandos a esta ridícula conclusão. José Estelita Monteiro Tapajós construiu sua arte na capital do Império, por isso, é fácil entender o desastre narrado.
Por ocasião da escolha do nome desse amazonense “esquecido em sua terra”, O Jornal elaborou o editorial que abaixo vai transcrito.



UM FILOSOFO AMAZONENSE (*)

Estelita Tapajós
O Governador Artur Reis lembrou-se de Estelita Tapajós, que integra a tríade de homens ilustres, cujos nomes crismarão os novos ginásios da capital, que funcionarão nos bairros. Já nos ocupamos, em rápidas pinceladas,  tanto quanto permite a estreiteza de um suelto, de Márcio Nery, eminente médico amazonense, em cujo ano centenário nos encontramos (10-03-1865), e de Dom Romualdo Seixas, o celebrado Marquês de Santa Cruz, sacerdote e parlamentar paraense que tanto batalhou, pela palavra e pela pena, em prol da criação da Província do Amazonas, tendo sido o autor do Decreto, depois transformado em Lei.

Estelita Tapajós foi o maior filósofo amazonense, ou a maior figura do Ama zonas no campo austero da Filosofia, tendo publicado uma obra de mérito, os Ensaios de Filosofia e Ciência (São Paulo, 1898). Como filósofo, abraçou conceitos e pontos de vista de Tobias Barreto e Silvio Romero, aceitando o monismo evolucionista de Hackel.

Dele escreveu o eminente jesuíta padre Leonel Franca, em seu excelente compêndio de História da Filosofia: "o essencial de suas ideias é o monismo haekeliano, com modificações pedidas a Spencer". Estelita Tapajós deixou-nos ainda bons estudos de Antropologia.

Foi feliz o Governador Artur Reis em retirar da sombra ou penumbra do esquecimento um nome que revelou ao país uma vigorosa cerebração de cientista, apaixonado cultor da Filosofia, onde apenas sobrenadam, no Amazonas e no Brasil, os "rari nantes in gurgite vasto"...

Já que nos reportamos aos nomes que vão ilustrar os três novos ateneus amazonenses, por uma associação de ideias, gostaríamos de sugerir, desta feita à Prefeitura Municipal e à Edilidade, que se organizasse urna comissão competente, com inclusão de intelectuais, membros do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, homens conhecedores da nossa História e do nosso De Viris tribus, para fazer uma revisão, que se impõe com imperiosa necessidade, da nomenclatura de nossas ruas e logradouros públicos.

Enquanto a cidade exibe ostensivamente em placas de ruas nomes de figuras inexpressivas, que nada, absolutamente nada fizeram por Manaus ou pelo Amazonas, eminentes vultos do passado, que se notabilizaram em benemerências, em favor da terra e de nossa gente, até hoje não mereceram a menor consagração na cidade e no Município em que tanto realizaram em prol da coletividade.

Ainda mais: ficou moda em Manaus darem-se nomes de pessoas vivas a ruas e instituições, num desrespeito flagrante e aberto a disposições vigentes no país. Não está certo, devemos convir, tal procedimento. Além do aspecto ilegal, há outro não despiciendo, inspirado em recomendações bíblicas: Lauda virum post mortem! (Louva o homem depois de morto!) — frase tão do agrado do padre Antônio Vieira.

Nessa revisão, sugerimos ainda que se especificasse na placa TODO o nome do homenageado, para ficar sempre patente o culto à sua memória, no decurso dos tempos. Chamar-se apenas "Rua Tapajós", sem o respectivo prenome, paira a dúvida no espírito de quem passa: Torquato Tapajós ou Estelita Tapajós?! Mas esse assunto ficará para outro suelto... 

(*) O Jornal, 25 março 1965

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