O Núcleo ainda existe, e teve início com
a formação de jovens para a Segunda Guerra, com sede no GE Marechal Hermes, que
existiu na rua José Clemente, na lateral do Teatro Amazonas. Nessa primeira
etapa foram matriculados 100 alunos. Muitos e muitos escreveram respeitáveis páginas
na sociedade amazonense. Hoje tomo o artigo de um aluno, que era filho do inesquecível
Agnello Bittencourt, prefeito de Manaus e fundador do Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas.
Uchoa Bittencourt passou ao Rio de
Janeiro, onde completou sua formação e viveu até sua morte. Apesar da
distância, pertenceu à Academia Amazonense de Letras.
NPOR, ESCOLA DO CORPO E DO CARÁTER (*)
Aluno
nº 61 – Agnello Uchoa Bittencourt
Findo este ano de instrução e trabalho, não
estou arrependido. É claro que ninguém espera viver por lá entre o carinho
maternal dos instrutores. Não creio que alguém aguarde receber mimos em vez de
travar conhecimento com as asperezas naturais da vida militar. Por lá nem tudo
sorri. Um severo programa de instrução foi rigorosamente executado.
Grupo Escolar Marechal Hermes, sem data |
Doutores ventrudos afinaram. Meninos pálidos
tomaram aveia para aguentar o rojão. O rigor e a honestidade profissional dos
examinadores constituíram e constituem um crivo – duro de passar. Afinal de
contas o NPOR não é um bombom. Mas os fins para que foi criado estão sendo
plenamente atingidos.
A primeira turma, a sair em junho de
1944, já evidencia o cuidado e a dedicação de que estiveram possuídos os
encarregados de seu preparo, todos eles profundamente adestrados nas técnicas
do ofício. Professores não apenas de assuntos militares, professores, sobretudo,
de civismo e probidade funcional, não decepcionaram absolutamente o idealismo
dos moços que, em setembro de 194 2, ocorreram à matricula.
Esses moços – é a voz dos entendidos --,
findo o segundo período letivo, estarão perfeitamente aptos à futura condição
de oficiais da reserva, a que se destinam. A sua eficiência foi plenamente revelada
em várias oportunidades, já no período do recente acampamento, já em árduas operações
figuradas, já em quantas provas os tenham submetido os seus instrutores.
Mas o alcance do Núcleo de Preparação de
Oficiais da Reserva não se resume no exercitamento técnico dos seus rapazes. Vai
mais dentro. A aproximação cordial que veiculou entre o elemento militar e o
civil, polindo arestas, reformando conceitos infundamentados, esclarecendo
atitudes, foi talvez a sua melhor obra. Este último, aliás, retemperou-se de saudáveis
virtudes da caserna. Noto, na vida de muitos alunos do Núcleo, uma integração
num sentido de ordem e produtividade, aprendido no exemplo dos superiores e na
sabedoria dos regulamentos.
Cérebros entorpecidos por uma malandragem
intelectual viciosa adquiriram hábitos de trabalho, ganhando expressão e
utilidade. O impenitente espírito de botequim de alguns se curou, em certos
aspectos. Um banho de disciplina banhou-os, beneficamente. Eu mesmo usufrui, e
agradeço algumas melhoras. Em verdade, cada um de nós, individualmente, logrou inúmeras
vantagens. E, se em algum dia reclamamos, fizemo-lo tão somente excitados pela emoção
contrafeita de algum exercício mais puxado.
Agora, em férias, já se pode fazer um juízo
tranquilo. Daí, creio, não receberá o comando nenhum pedido de trancamento de
matrícula. Até porque, sem as atenuantes de alguma circunstância imperiosa,
esse ato de renúncia assumirá um sabor de fraqueza, recuo e fuga. Por outro
lado, documentando a exata compreensão da excelência e virtude de suas
finalidades, há muitos rapazes ansiosos por matricular-se. Como há, também,
alguns hesitantes. Para esses, um conselho apenas, que não sou eu quem dá, nem
os meus colegas do Núcleo, nem os seus dirigentes, mas a sua própria consciência:
Mete a cara!
Não é conselho de urso. Senão,
autopsiemo-lo nos seus motivos práticos, imediatistas, reverenciadores do egoísmo
de cada um. Fala-se, cada vez com maior insistência e sob crescentes visos de
realismo, no envio dum Corpo Expedicionário Brasileiro para operar na arrancada
culminante da guerra. Pois, faça uma pergunta acaciana: Que é melhor – ir como
soldado ou como oficial?
De ambas as maneiras, serve-se ao Brasil,
é claro. Mas, como oficial, parece que a gente serve melhor. E aí estão, para isso, os Núcleos e os
Centros de Preparação. Ademais, não tardará muito e novo lote de “cartas de chamada”
é distribuído, em desenvolvimento de alguma nova convocação. Ainda há pouco
advertiu o ministro da Guerra, Gaspar Dutra, da possibilidade de procurar o
Brasil atingir os limites de sua capacidade normal de mobilização.
Isso, para não falar em razões de são
idealismo patriótico, a cujos apelos imperativos nenhum moço digno se recusará.
O NPOR abriu as suas matrículas desde o
dia 2 (de agosto). Ainda há tempo.
(*) O
Jornal, 10 de agosto de 1943.
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