CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, setembro 23, 2013

NPOR - PRIMEIRA ETAPA


O Núcleo ainda existe, e teve início com a formação de jovens para a Segunda Guerra, com sede no GE Marechal Hermes, que existiu na rua José Clemente, na lateral do Teatro Amazonas. Nessa primeira etapa foram matriculados 100 alunos. Muitos e muitos escreveram respeitáveis páginas na sociedade amazonense. Hoje tomo o artigo de um aluno, que era filho do inesquecível Agnello Bittencourt, prefeito de Manaus e fundador do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.
Uchoa Bittencourt passou ao Rio de Janeiro, onde completou sua formação e viveu até sua morte. Apesar da distância, pertenceu à Academia Amazonense de Letras. 

NPOR, ESCOLA DO CORPO E DO CARÁTER (*)


Aluno  nº 61 – Agnello Uchoa Bittencourt

Findo este ano de instrução e trabalho, não estou arrependido. É claro que ninguém espera viver por lá entre o carinho maternal dos instrutores. Não creio que alguém aguarde receber mimos em vez de travar conhecimento com as asperezas naturais da vida militar. Por lá nem tudo sorri. Um severo programa de instrução foi rigorosamente executado.
Grupo Escolar Marechal Hermes, sem data
Doutores ventrudos afinaram. Meninos pálidos tomaram aveia para aguentar o rojão. O rigor e a honestidade profissional dos examinadores constituíram e constituem um crivo – duro de passar. Afinal de contas o NPOR não é um bombom. Mas os fins para que foi criado estão sendo plenamente atingidos.
A primeira turma, a sair em junho de 1944, já evidencia o cuidado e a dedicação de que estiveram possuídos os encarregados de seu preparo, todos eles profundamente adestrados nas técnicas do ofício. Professores não apenas de assuntos militares, professores, sobretudo, de civismo e probidade funcional, não decepcionaram absolutamente o idealismo dos moços que, em setembro de 194 2, ocorreram à matricula.
Esses moços – é a voz dos entendidos --, findo o segundo período letivo, estarão perfeitamente aptos à futura condição de oficiais da reserva, a que se destinam. A sua eficiência foi plenamente revelada em várias oportunidades, já no período do recente acampamento, já em árduas operações figuradas, já em quantas provas os tenham submetido os seus instrutores.
Mas o alcance do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva não se resume no exercitamento técnico dos seus rapazes. Vai mais dentro. A aproximação cordial que veiculou entre o elemento militar e o civil, polindo arestas, reformando conceitos infundamentados, esclarecendo atitudes, foi talvez a sua melhor obra. Este último, aliás, retemperou-se de saudáveis virtudes da caserna. Noto, na vida de muitos alunos do Núcleo, uma integração num sentido de ordem e produtividade, aprendido no exemplo dos superiores e na sabedoria dos regulamentos.
Cérebros entorpecidos por uma malandragem intelectual viciosa adquiriram hábitos de trabalho, ganhando expressão e utilidade. O impenitente espírito de botequim de alguns se curou, em certos aspectos. Um banho de disciplina banhou-os, beneficamente. Eu mesmo usufrui, e agradeço algumas melhoras. Em verdade, cada um de nós, individualmente, logrou inúmeras vantagens. E, se em algum dia reclamamos, fizemo-lo tão somente excitados pela emoção contrafeita de algum exercício mais puxado.

Agora, em férias, já se pode fazer um juízo tranquilo. Daí, creio, não receberá o comando nenhum pedido de trancamento de matrícula. Até porque, sem as atenuantes de alguma circunstância imperiosa, esse ato de renúncia assumirá um sabor de fraqueza, recuo e fuga. Por outro lado, documentando a exata compreensão da excelência e virtude de suas finalidades, há muitos rapazes ansiosos por matricular-se. Como há, também, alguns hesitantes. Para esses, um conselho apenas, que não sou eu quem dá, nem os meus colegas do Núcleo, nem os seus dirigentes, mas a sua própria consciência: Mete a cara!
Não é conselho de urso. Senão, autopsiemo-lo nos seus motivos práticos, imediatistas, reverenciadores do egoísmo de cada um. Fala-se, cada vez com maior insistência e sob crescentes visos de realismo, no envio dum Corpo Expedicionário Brasileiro para operar na arrancada culminante da guerra. Pois, faça uma pergunta acaciana: Que é melhor – ir como soldado ou como oficial?

De ambas as maneiras, serve-se ao Brasil, é claro. Mas, como oficial, parece que a gente serve melhor.   E aí estão, para isso, os Núcleos e os Centros de Preparação. Ademais, não tardará muito e novo lote de “cartas de chamada” é distribuído, em desenvolvimento de alguma nova convocação. Ainda há pouco advertiu o ministro da Guerra, Gaspar Dutra, da possibilidade de procurar o Brasil atingir os limites de sua capacidade normal de mobilização.
Isso, para não falar em razões de são idealismo patriótico, a cujos apelos imperativos nenhum moço digno se recusará.

O NPOR abriu as suas matrículas desde o dia 2 (de agosto). Ainda há tempo.
(*) O Jornal, 10 de agosto de 1943.

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