Tenente músico do Exército José Arnaud |
Outro
adventício, José Arnaud nasceu em Sobral (CE), em 27 de fevereiro de 1895,
filho de Henrique Manoel Arnaud e de Maria de Jesus Castro. Certamente já iniciado
na arte musical, aos 15 anos alcançou Fortaleza, e naquele porto embarcou para
a capital do Amazonas, que assistia aos derradeiros resplendores do período
áureo da borracha. Em Manaus permaneceu até 1950.
A
meu ver, deve ter desembarcado em Manaus, no final de 1912. Um pouco antes de
sua inclusão, aos 18 anos e, ainda, solteiro, na Polícia Militar do Amazonas, na
condição de músico de 2.ª classe. Seu ingresso ocorreu em 24 de janeiro de 1913,
na abertura do governo de Jonatas Pedrosa, quando este governante impôs uma reorganização
à Força Estadual, levado pela rebelião promovida por oficiais desta corporação,
em dezembro de 1912.
Arnaud
foi elevado a músico de 1.ª classe, em 2 de janeiro de 1915. Nesse nível
permaneceria mais dois anos, sendo “excluído por conclusão de tempo”, em 1.º de
março de 1917. Desse modo, nessa
primeira etapa, Arnaud integrou a Banda de Música do então Batalhão de
Segurança, hoje Polícia Militar do Amazonas, por mais de quatro anos. Voltaria
mais tarde como oficial, para exercer a regência da mesma.
Certamente
trocou a Banda da Polícia pela do Exército, ao se engajar no 27.º BC, então a
unidade da Força Terrestre mais representativa em Manaus. Nela prosseguiu
exercitando a arte musical, e tanto prosperou que a deixou na condição de oficial
(2.º tenente músico da reserva do Exército).
É
fato, pois compartilhou com os camaradas na Rebelião de Ribeiro Junior, em
julho de 1924. Também é de conhecimento geral, que os rebelados foram punidos. Ao
tenente Arnaud coube o exilo na cidade de Boa Vista (atualmente, a próspera
capital do Estado de Roraima), então sede do município amazonense esquecido nas
dobras do rio Branco. Ali permaneceu por anos, junto com a família do primeiro
casamento (do qual nasceram três filhos), consumado com Luzia Menezes Arnaud, até
ser alcançado pela anistia. Anistiado, conta sua família, recebeu da União uma
“indenização” que lhe permitiu adquirir residência própria em Manaus.
O
segundo casamento ocorreu em junho de 1931, com Caetana de Magalhães, com a
qual gerou os filhos: Vandyr de Jesus e Lacy Arnaud Soares. Foi esta sua filha,
residente no Rio de Janeiro, quem me forneceu parte destes dados, talvez os
mais destacados. Lembrou a atividade do professor Arnaud, que ensinou a arte
musical tanto em escola pública (Instituto de Educação do Amazonas), quanto particulares
(Colégio Santa Doroteia e Nossa Senhora Auxiliadora), incluídas as aulas em sua
residência, localizada a rua Dez de Julho esquina da rua Costa Azevedo, no largo
de São Sebastião, onde hoje temos um restaurante japonês.
Da
produção musical deste maestro, quase nada existe. Para o trabalho sobre a
Banda de Música da PMAM, a própria Lacy Arnaud efetuou uma garimpagem entre os
familiares para descobrir poucas fotos e duas obras completas. Indicou-me ela o
Santa Doroteia como um dos locais de possível “descoberta”, porque seu pai
havia musicado alguns poemas e hinos escritos pela diretora desta escola, nos
idos de 1940. Minha primeira tentativa, porém, foi amarga. Nada. Mas, ainda não
me confrontei com a diretora atual, que sei vai me ajudar.
Semelhante
empecilho, a ausência de subsídios, também eu encontrei junto aos arquivos da
Banda da PMAM. Aliás, nada encontrei, porque sequer foi-me permitido pesquisar.
Somente fui informado pelo mestre atual que, da lavra do tenente Arnaud, nada
existia! Minha próxima parada ou local de busca será a Banda do CMA, cuja
origem repousa nos músicos pertencentes à Banda do 27º BC, e em cuja regência esteve
o tenente Arnaud.
Tenente
Arnaud voltou à Força Policial trinta anos depois. Em 4 de julho de 1945, ele aceitou
o convite do interventor federal, Álvaro Maia, para dirigir a Banda de Música
da corporação, “sendo-lhe conferidas as honras de 2.º tenente desta Força”. No dia
imediato assumiu o encargo. Contudo, somente a 29 de janeiro seguinte foi
nomeado para “o cargo de 2.º tenente mestre de música”. Era comandante da Força
Policial o capitão do Exército Manoel Expedito Sampaio, no posto de tenente-coronel
PM.
Como
sempre fizera, este regente cumpriu seus deveres com determinação, pois vibrava
com a sua posição de Mestre, a frente da Banda, abrindo os desfiles, em
especial o do Dia da Pátria. porém, não chegou
a completar o terceiro ano de atividade na Banda. Solicitou dispensa e foi
“dispensado da comissão que vinha exercendo”, em 11 de março de 1948. Em 1950,
retirou-se de Manaus, para acompanhar seus filhos em cursos universitários. Passou
primeiro por Belo Horizonte, para depois se fixar no Rio de Janeiro, até seu
falecimento no Hospital Central do Exército, em 11 de junho de 1978, aos 83
anos.
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