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sábado, setembro 07, 2013

BANDA DE MÚSICA DA PMAM: 120 ANOS (8)

Recorte de A Crítica, 7 setembro 1993
Há 20 anos, no Dia da Pátria, o jornal A Crítica publicou um texto de minha autoria sobre a Banda de Música da Polícia Militar do Estado, que completava o primeiro centenário. Lembro ainda, foi no tempo em que este matutino abria suas páginas para todos os colaboradores, sem distinção de tema e tamanho do texto.
Aquela publicação, confesso agora, deu-me grande satisfação ao ver minha primeira investida na literatura bem sucedida. Vou repetir o texto, porém com as correções que o tempo e as pesquisas me obrigaram a fazê-las.



A Guarda Policial (hoje Polícia Militar do Amazonas) reinstalada em 26 de abril de 1876 prosperou, ainda que claudicante, quer pela necessidade de efetivo, quer pela expansão da tropa pelo interior, porém, até o advento da República, a (banda de) Música ainda não fora nela organizada. “Julgo que a criação de uma música no Corpo Policial seria já oportuno”, ambicionava o comandante deste corpo, major Tertuliano Mello, em relatório de 5 de agosto de 1888.
Com a instalação do estado do Amazonas e, mais, com a presença de governantes militares na primeira década de sua existência, a Força Policial foi amplamente impulsionada.

Recorte do livro de assentamentos de regente
 
Em 1892, ao tomar posse no governo, o tenente Eduardo Ribeiro recebeu um substancial relatório da Comissão que apurou o Tesouro Estadual. Por intermédio deste, foi informado que, por ofício de 25 de janeiro, a Casa J. H. Andresen, por seu representante na Europa, José Cláudio Mesquita, havia recebido através do London Bank Limited, a quantia de sessenta e oito contos de réis, destinada à aquisição de armamento para a tropa e de instrumental para a Banda de Música do Batalhão de Polícia. (Trata-se da primeira denominação imposta à PMAM no governo republicano.) Diante do exposto, quatro anos depois, o anseio do comandante Tertuliano afigurava-se realizar.

A realização foi confirmada pelo major Raimundo Afonso de Carvalho, comandante do Batalhão Militar de Segurança (segunda denominação), em relatório de 3 de junho de 1893. Todavia, em razão deste comandante não ter apontado o dia efetivo da criação, mas, com sua exposição apenas delimitou o período, entendo que, admitir a data deste revelador documento como de tão grata efeméride para os integrantes da Banda, é, pois, justíssima. 

A adoção desta sugestão permitirá à garbosa corporação musical aproveitar o ano do centenário (1993) para os merecidos festejos. As autoridades estaduais, à frente o comandante da Polícia Militar, hão de propiciar esse privilégio. Afinal, a secular organização, raras são as que ultrapassam essa idade, ainda projeta venturoso futuro, reiterando as palavras plenas de euforia do coronel Afonso de Carvalho.

O nominado, além de comandante da Polícia Militar, no ciclo de governo de Eduardo Ribeiro, foi deputado no Congresso Estadual e, sendo seu presidente, assumiu o governo do Estado, em 1907. Há muito deveria ter sido homenageado pela corporação militar estadual, a ocasião parece propicia, quando se celebra a primeira centúria da Banda de Música. A meu ver, é supinamente merecido denominá-la de “Coronel Afonso de Carvalho”. 

Criada a banda, a corporação militar à qual esta se incorporava teve oportunidade de ampliar o quadro de músicos. Em 1897, no governo de Fileto Pires, constituía-se no Regimento Militar do Estado, composto de dois batalhões, dos quais, o 1.º, sob o comando do tenente-coronel Cândido José Mariano, seguiu em 4 de agosto para combater os conselheiristas em Canudos.
Nesse mesmo ano, pelo Decreto n.º 203, de 30 de outubro, foi dado regulamento provisório para as bandas de música dos batalhões de polícia do Estado. Sim, cada batalhão dispunha de uma banda.  Suponho que o provisório se tornou definitivo, uma vez que, na transposição do século, mandava a lei que o regimento tivesse “um inspetor-geral das bandas de música, com uma gratificação arbitrada pelo governador”. Em outro relatório, sabe-se que “mantinha o Estado duas bandas de música nos dois batalhões, mais tarde, porém, houve V. Exa., por bem, mandar organizar uma terceira banda para o Corpo de Bombeiros”. Esta chegou a funcionar, porém teve vida efêmera. 

Encerrado o fausto produzido pela exploração da borracha, a metrópole regrediu e, conjuntamente, a corporação musical.  Perseverou, contudo, servindo à Força Policial, assim como às farras de Manaus; prestou as ordens de estilo na recepção às autoridades visitantes, do mesmo modo que animou os ágapes oferecidos a estas; acompanhou as procissões religiosas; compareceu ao Teatro Amazonas para preencher o intervalo das peças em exibição. Realizou passeio (desfile) pelas ruas centrais, com acompanhamento do batalhão policial. Até que a Revolução de 1930 extinguiu a ambas: a Força e a Banda.

Esta ainda prosseguiu sob o patrocínio da prefeitura local, porém foram anos difíceis, porque os componentes desta, para sobreviver e alimentar o seus, tocavam pelas esquinas em busca de donativos. Era intitulada de a “banda dos abandonados”.

Pesquiso para estabelecer os nomes dos regentes da Banda, especialmente os anteriores à cessação em 1930. Marcio Páscoa concluiu e publicou trabalho sobre a Música no período áureo da borracha, do qual me louvei para esclarecer alguns pontos negros.

Nesse sentido, transcrevo o convite publicado em Diário Oficial do Estado (18 fevereiro 1894) convidando para assistir a banda de música do Batalhão Militar de Segurança, sob a regência do hábil professor Aristides Bayma, às quatro horas da tarde, no coreto do jardim da Praça da República (atual Pedro II). Aventurei-me a indicar este professor como o primeiro regente da Banda coronel Afonso de Carvalho. Não foi. O primeiro foi Cincinato Ferreira da Silva. 

Para recordar, relacionei alguns regentes, cuja relação ainda se encontra incompleta: tenente Albino Ferreira Dantas, pernambucano de Quipapá, o qual em janeiro de 1944 circulou pelo Nordeste em busca de músicos. Seu sucessor foi o tenente José Arnaud, de Sobral-CE, que assumiu em 3 de julho de 1945. A seguir, o tenente Mirtillo Fricke de Lyra, alagoano, nomeado em 1950. Sua gestão durou apenas um ano, sendo substituído pelo tenente Nicanor Puga Barbosa, cuja família (pai e irmão) emprestou à mesma Banda a força dessa arte. Veio, então, tenente Joaquim Henrique de Souza, regente entre 1954-60. No ano seguinte, a regência coube ao capitão (da PM do Pará) Manoel Belarmino da Costa.
Então, a Polícia Militar implantou uma novidade, contratou para esse serviço ao maestro Dirson Costa, em 1962. O tenente Ernani Puga conduziu os músicos entre 1962-67, restando-lhe a primazia de brindar a corporação com o arranjo de seu hino oficial. Foi seguido pelo tenente Raimundo Alves Bezerra, de Fortaleza-CE, por quase dez anos (1967-76), que trouxe de sua terra alguns dos músicos que dirigiram a Banda. Hoje, a regência cabe ao tenente José Antônio Valério da Silva.  
 
Banda de Música apresenta-se no coreto
da Praça da Polícia (foto de Carlos Navarro) 

Enfim, para rememorar um “regente” popularíssimo, protagonista de desfiles memoráveis, valho-me do saudoso escritor Artur Engrácio: “Como disse, ele não perdia um desfile de tropas da Polícia Militar. Nas datas das comemorações cívicas daquela corporação, era o primeiro a chegar ao quartel. De um pedaço de vara fazia a sua batuta e, iniciada a marcha, punha-se à frente da banda de música manejando imponente o seu instrumento de maestro improvisado”.
O Bombala foi essa figura excêntrica. Em seu nome, cumprimento aos maestros, regentes e músicos da Banda de Música Coronel Afonso de Carvalho pelos 120 anos de sonoridade derramada sobre o Amazonas.

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