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Zemaria Pinto, cadeira 27 |
No
almoço festivo dos coronéis da Polícia Militar, ao final de cada mês, há sempre
um colega mais próximo que não se esquece de minha candidatura à Academia
Amazonense de Letras. Para satisfazê-lo, repito o mantra: estou na fila de
espera. Acontece que o deslocamento nesta cobrinha não se faz pela simples chegada
mais cedo, porquanto, as prioridades são extensas, bem mais ressaltadas que no
salão de espera da Amazonprev.
A
propósito deste assunto – eleição na AAL –, reproduzo a Carta do acadêmico Zemaria
Pinto, a qual explica, revela, descobre parte das primazias asiladas na Casa
presidida pelo acadêmico Arlindo Porto.
Obrigado, amigo.
Carta aberta à professora
Márcia Perales,
candidata à cadeira 21 da
Academia Amazonense de Letras
Prezada Senhora,
Começo por me desculpar pelo não uso do tratamento ao qual a Senhora,
como reitora da Universidade Federal do Amazonas, está acostumada, por achá-lo
desprovido de sentido. Na sequência, permita-me que me apresente, pois não
creio que a senhora saiba quem eu sou: Zemaria Pinto, ocupante da cadeira 27 da
Academia Amazonense de Letras, desde 2004, 15 livros publicados (entre ensaios
literários, poesia, teatro e literatura infanto-juvenil), analista de sistemas,
bacharel em economia, especialista em Literatura Brasileira e mestre em Estudos
Literários – estes três últimos, títulos obtidos na UFAM, o que enfatizo para
mostrar minha proximidade e meu respeito para com a instituição que a Senhora
dirige. Agora, aos fatos.
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Luiz Bacellar na AAL |
No
início deste ano, recebi da direção da AAL um boletim que informava que as
inscrições para a cadeira 21, ocupada pelo escritor Luiz Bacellar até 09 de
setembro, aconteceriam entre os dias 08 de março e 08 de abril. Na última
quinta-feira, 21 de fevereiro, entretanto, soube, por mero descuido do acadêmico
que secretariava uma assembleia de rotina naquela casa, que as referidas
inscrições se encerrariam hoje, 25 de fevereiro. Pedi à mesa um esclarecimento,
provocando mal-estar geral, pois ficava claro, pela minha insatisfação, que eu
considerava aquela mudança clandestina mais uma afronta, entre tantas, à memória do meu amigo
Bacellar. O esclarecimento foi singelo: uma decisão da diretoria, que é
soberana nesses assuntos. Mas deveria também ser transparente e não o foi.
O
que a Senhora tem a ver com essas intrigas paroquianas, típicas de uma casa
onde a vaidade paira acima de qualquer virtude? Muito simples. A primeira vez
que ouvi a menção ao seu nome para substituir Bacellar ele ainda agonizava em
seu leito de morte. No dia do enterro, repetiu-se a mesma ladainha, vinda de
vários confrades: “a vaga de Luiz Bacellar é da professora Márcia Perales”. Não
sei se a Senhora tem conhecimento desses fatos. Acredito que não. Mas quando
alguém lhe ofereceu essa eleição, sem sustos, talvez por unanimidade, graças a
essa manobra escusa acima relatada, esqueceu-se que a AAL não é formada só por
carneirinhos. Se não fosse a indiscrição do confrade, professora, hoje a
Senhora seria candidata única, imbatível. Mas não o é.
A
Senhora irá enfrentar dois candidatos. Dois excelentes candidatos escritores.
Eu preciso dizer-lhe que essas duas candidaturas, professora, nasceram na noite
de quinta-feira, como uma reação indignada à manobra escusa. É possível que a
Senhora seja eleita com até 36 dos 38 votos admissíveis. Mas os dois ou mais
votos de diferença – dos articuladores das candidaturas avessas, e dos que não
se curvarão ao pensamento hegemônico – vão escancarar a insatisfação que vai
aos poucos minando a AAL. Por repudiar manobras desse tipo, o poeta Thiago de
Mello renunciou ao seu título de membro do Silogeu. O Bacellar,
que vivia arengando com o Thiago, dizia que a glória suprema seria ser expulso
da Academia.
Para
sua reflexão.
Respeitosamente,
Zemaria Pinto
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