Meses após a morte do acadêmico Álvaro Botelho
Maia, padre Nonato Pinheiro (foto), também acadêmico e membro do IGHA (Instituto
Geográfico do Amazonas) publicou em O Jornal, (domingo, 19 de outubro de
1969), uma sinopse das obras do falecido. O alongado artigo vai aqui
compartilhado em duas assentadas. Efetuei a atualização da ortografia e
introduzi ligeiros detalhes, que espero não comprometam a obra do saudoso
articulista.
Quando
cursava humanidades no Ginásio Amazonense, Álvaro Maia, colaborando na revista
AURA, costumava dedicar seus poemas à Ermila. Teria tido alguma colega
ou amiga com esse nome? Tratar-se-ia de um nome fictício para ocultar um
verdadeiro romance? Creio que meu amigo e confrade Cosme Ferreira esteja, em condições
de dissipar a dúvida. O fato é que esse nome era uma constante nos versos do
talentoso ginasiano.
No
ano de 1915, a 22 de janeiro, conduzido pelas mãos amigos de Cosme Alves Ferreira
Filho, Álvaro Maia ingressa no JORNAL DO COMMERCIO, como redator. Um ano
depois, precisamente a 22 de janeiro de 1916, a bordo do vapor Bahia, viajava
para o Rio de Janeiro. Regressou a 2 de abril do mesmo ano, a bordo do navio Ceará.
Em 1917, verificou-se seu bacharelamento em Direito, na ex-capital da República.
Estava formado. A flor de sua cultura e de sua sensibilidade de orador e poeta
alcançava logo a plenitude do seu colorido e a pujança de sua inebriante
fragrância.
O
marco luminoso de seus triunfos intelectuais foi indisputavelmente sua famosa Canção
da Fé e Esperança, pulquérrima oração proferida no Teatro Amazonas, em nome
da mocidade amazonense, na solenidade do centenário da adesão do Amazonas à Independência
Nacional. Foi um triunfo oratório de excepcional claridade, que a imprensa
recebeu com estrepitoso alvoroço. A comissão promotora dos festejas era
composta do coronel Bernardo da Silva Ramos, presidente do IGHA, professores Agnello
Bittencourt, Manuel de Miranda Leão, coronel Antônio Bitencourt, padre José
Tomás de Aquino Menezes, Drs. Aprígio de Menezes, Vicente Reis, João Batista de
Faria e Souza, Arthur César Ferreira Réis, major Licínio Silva e jovens Aguinaldo
Ribeiro, Antóvila Vieira, Cássio Dantas, Jorge Andrade, Galdino Mendes Filho e José
de Alencar.
Em
1924, em sessão promovida pela Academia Amazonense de Letras, no Ideal Clube,
saudou Álvaro Maia o eminente general João de Deus Menna Barreto. Discurso
primoroso que o homenageado agradeceu com comovente oração. Como professor do Ginásio
Amazonense, apresentou, no ano de 1925, duas teses de real valor, que lhe garantiram
as cátedras de português (O Português-Lusitano e o Português-Brasileiro, léxica
e sintaticamente considerados) e de instrução moral e cívica (A Bandeira
Nacional como símbolo e emblema da Pátria). Não omitirei que, quando o Ginásio
Amazonense passou a denominar-se Ginásio Amazonense Pedro II, foi Álvaro Maia o
orador designado pela Congregação para falar na solenidade de 2 de dezembro de
1925, ocasião em que foi inaugurado o retrato do magnânimo Imperador.
Presidiram a sessão o Interventor Federal Alfredo Sá e o diretor Prof. Plácido
Serrano.
A
12 de julho de 1927, no Ideal Clube, Álvaro Maia proferia seu discurso - Após A Campanha..., na sessão cívica em
homenagem aos implicados no movimento de 23 de julho de 1924. Em 1926, a 23 de
julho, dirige uma carta aberta ao presidente eleito do Brasil, Dr. Washington Luiz,
a pedidos dos estudantes Deoclides de Carvalho Leal, Arthur César Ferreira
Reis, Rui Gama e Silva, Diogo Belfort Santos, João de Paula Gonçalves, Fernando
Ribeiro, Mário Libório Pereira e José Freitas Ramos. Em novembro de 1930 estava
nomeado Interventor Federal. Em agosto de 1931, publicou no Rio o folheto Em
torno do caso do Amazonas. Já a 28 de janeiro desse ano havia publicado no
JORNAL DO COMMERCIO seu trabalho - Em minha defesa, republicado depois
em folheto, defendendo-se da matilha esfaimada que lhe ladrava aos calcanhares
pelo crime de haver assumido o Poder Executivo de seu estado natal.
Em
1934, publicou seu discurso na Assembleia Nacional Constituinte, com o título -
Panorama Real do Amazonas: A Voz Amazonense Que Se Levanta em Prol dos
Luminosos Destinos do Berço Verde. Em 1942, Dom João da Mata de Andrade e
Amaral realizava memorável Congresso Eucarístico Diocesano. Na sessão noturna
de 3 de junho, convidado pelo zeloso Bispo, o Interventor Federal proferiu um
soberbo discurso, na inauguração do monumento de Nossa Senhora da Conceição. Em
1944, saiu a lume a maravilhosa plaqueta Noite de Redenção, uma página
de impressionante meditação. Data de 1945 seu belo folheto O Cântaro da
Samaritana, enternecedora meditação evangélica. Seus livros de poesia e
ficção aí estão, prenhes de emoção e encantamento, escritos por um homem de letras
que moldou suas preferências mentais na escola dos egrégios mestres do estilo: Beiradão,
Gente dos Seringais, Banco de Canoa, Nas Barras do Pretório,
Buzinas dos Paranás, Nas Tendas de Emaus. Tive a satisfação de
preencher a orelha de Buzina dos Paranás, a convite dos editores Sérgio
Cardoso & Cia. Ltda.
Com
paciência beneditina, percorri toda a coleção das revistas REDEMPÇÃO, de Clóvis
Barbosa, e AMAZÔNIA, de Carlos Mesquita, e dei com numerosas flores literárias
esparzidas pelo magnífico prosador e inspirado bardo. Asseguro que tais
trabalhos dariam um ou mais volumes. Guardo-lhe com emoção um poema que me
ofereceu publicado na página literária de O JORNAL, de 10 de maio de 1965, intitulado
Latim Redivivo, cujos originais entregou a seu sobrinho Heliandro Maia.
Esta relação está longe de ser completa. Foi um primeiro levantamento que
empreendi para meu livro em preparo. Sua inteligência foi fecunda e admirável e
sua pena surpreendentemente privilegiada. Como o sol, como os astros, como os
parques e jardins floridos, passou a vida a esbanjar clarões, lampejos e a
semear com mãos pródigas flores pelos caminhos, em troca dos espinhos que lhe
atiravam os eternos invejosos, que não suportam remígios de condores nem cintilações
de astros que incomodam...
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