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sexta-feira, novembro 08, 2024

DOIS INTELECTUAIS AMAZONENSES: NONATO E ÁLVARO (1)

 
Meses após a morte do acadêmico Álvaro Botelho Maia, padre Nonato Pinheiro (foto), também acadêmico e membro do IGHA (Instituto Geográfico do Amazonas) publicou em O Jornal, (domingo, 19 de outubro de 1969), uma sinopse das obras do falecido. O alongado artigo vai aqui compartilhado em duas assentadas. Efetuei a atualização da ortografia e introduzi ligeiros detalhes, que espero não comprometam a obra do saudoso articulista.

Recorte do jornal indicado

Quando cursava humanidades no Ginásio Amazonense, Álvaro Maia, colaborando na revista AURA, costumava dedicar seus poemas à Ermila. Teria tido alguma colega ou amiga com esse nome? Tratar-se-ia de um nome fictício para ocultar um verdadeiro romance? Creio que meu amigo e confrade Cosme Ferreira esteja, em condições de dissipar a dúvida. O fato é que esse nome era uma constante nos versos do talentoso ginasiano.

No ano de 1915, a 22 de janeiro, conduzido pelas mãos amigos de Cosme Alves Ferreira Filho, Álvaro Maia ingressa no JORNAL DO COMMERCIO, como redator. Um ano depois, precisamente a 22 de janeiro de 1916, a bordo do vapor Bahia, viajava para o Rio de Janeiro. Regressou a 2 de abril do mesmo ano, a bordo do navio Ceará. Em 1917, verificou-se seu bacharelamento em Direito, na ex-capital da República. Estava formado. A flor de sua cultura e de sua sensibilidade de orador e poeta alcançava logo a plenitude do seu colorido e a pujança de sua inebriante fragrância.

O marco luminoso de seus triunfos intelectuais foi indisputavelmente sua famosa Canção da Fé e Esperança, pulquérrima oração proferida no Teatro Amazonas, em nome da mocidade amazonense, na solenidade do centenário da adesão do Amazonas à Independência Nacional. Foi um triunfo oratório de excepcional claridade, que a imprensa recebeu com estrepitoso alvoroço. A comissão promotora dos festejas era composta do coronel Bernardo da Silva Ramos, presidente do IGHA, professores Agnello Bittencourt, Manuel de Miranda Leão, coronel Antônio Bitencourt, padre José Tomás de Aquino Menezes, Drs. Aprígio de Menezes, Vicente Reis, João Batista de Faria e Souza, Arthur César Ferreira Réis, major Licínio Silva e jovens Aguinaldo Ribeiro, Antóvila Vieira, Cássio Dantas, Jorge Andrade, Galdino Mendes Filho e José de Alencar.

Em 1924, em sessão promovida pela Academia Amazonense de Letras, no Ideal Clube, saudou Álvaro Maia o eminente general João de Deus Menna Barreto. Discurso primoroso que o homenageado agradeceu com comovente oração. Como professor do Ginásio Amazonense, apresentou, no ano de 1925, duas teses de real valor, que lhe garantiram as cátedras de português (O Português-Lusitano e o Português-Brasileiro, léxica e sintaticamente considerados) e de instrução moral e cívica (A Bandeira Nacional como símbolo e emblema da Pátria). Não omitirei que, quando o Ginásio Amazonense passou a denominar-se Ginásio Amazonense Pedro II, foi Álvaro Maia o orador designado pela Congregação para falar na solenidade de 2 de dezembro de 1925, ocasião em que foi inaugurado o retrato do magnânimo Imperador. Presidiram a sessão o Interventor Federal Alfredo Sá e o diretor Prof. Plácido Serrano.

A 12 de julho de 1927, no Ideal Clube, Álvaro Maia proferia seu discurso - Após A Campanha..., na sessão cívica em homenagem aos implicados no movimento de 23 de julho de 1924. Em 1926, a 23 de julho, dirige uma carta aberta ao presidente eleito do Brasil, Dr. Washington Luiz, a pedidos dos estudantes Deoclides de Carvalho Leal, Arthur César Ferreira Reis, Rui Gama e Silva, Diogo Belfort Santos, João de Paula Gonçalves, Fernando Ribeiro, Mário Libório Pereira e José Freitas Ramos. Em novembro de 1930 estava nomeado Interventor Federal. Em agosto de 1931, publicou no Rio o folheto Em torno do caso do Amazonas. Já a 28 de janeiro desse ano havia publicado no JORNAL DO COMMERCIO seu trabalho - Em minha defesa, republicado depois em folheto, defendendo-se da matilha esfaimada que lhe ladrava aos calcanhares pelo crime de haver assumido o Poder Executivo de seu estado natal.

Em 1934, publicou seu discurso na Assembleia Nacional Constituinte, com o título - Panorama Real do Amazonas: A Voz Amazonense Que Se Levanta em Prol dos Luminosos Destinos do Berço Verde. Em 1942, Dom João da Mata de Andrade e Amaral realizava memorável Congresso Eucarístico Diocesano. Na sessão noturna de 3 de junho, convidado pelo zeloso Bispo, o Interventor Federal proferiu um soberbo discurso, na inauguração do monumento de Nossa Senhora da Conceição. Em 1944, saiu a lume a maravilhosa plaqueta Noite de Redenção, uma página de impressionante meditação. Data de 1945 seu belo folheto O Cântaro da Samaritana, enternecedora meditação evangélica. Seus livros de poesia e ficção aí estão, prenhes de emoção e encantamento, escritos por um homem de letras que moldou suas preferências mentais na escola dos egrégios mestres do estilo: Beiradão, Gente dos Seringais, Banco de Canoa, Nas Barras do Pretório, Buzinas dos Paranás, Nas Tendas de Emaus. Tive a satisfação de preencher a orelha de Buzina dos Paranás, a convite dos editores Sérgio Cardoso & Cia. Ltda.

Com paciência beneditina, percorri toda a coleção das revistas REDEMPÇÃO, de Clóvis Barbosa, e AMAZÔNIA, de Carlos Mesquita, e dei com numerosas flores literárias esparzidas pelo magnífico prosador e inspirado bardo. Asseguro que tais trabalhos dariam um ou mais volumes. Guardo-lhe com emoção um poema que me ofereceu publicado na página literária de O JORNAL, de 10 de maio de 1965, intitulado Latim Redivivo, cujos originais entregou a seu sobrinho Heliandro Maia. Esta relação está longe de ser completa. Foi um primeiro levantamento que empreendi para meu livro em preparo. Sua inteligência foi fecunda e admirável e sua pena surpreendentemente privilegiada. Como o sol, como os astros, como os parques e jardins floridos, passou a vida a esbanjar clarões, lampejos e a semear com mãos pródigas flores pelos caminhos, em troca dos espinhos que lhe atiravam os eternos invejosos, que não suportam remígios de condores nem cintilações de astros que incomodam...

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