O poema deste domingo foi elaborado por Carlos Farias Ouro de Carvalho (1930-97),
consagrado ao amigo intelectual, desembargador André Araújo, tendo sido publicado
há 55 anos, no Jornal do Commercio
(19 out. 1969). Recorte da página do JC, 19 out. 1969
Recorte da página do JC, 19 out. 1969 |
Eis-me aqui.
Aqui. Sobre esta gávea de assombros,
carcomido de vento e de
silêncio,
tão duramente cego ainda,
como no instante estúpido do
espasmo
que me trouxe a este mar do não-saber.
Meteoro ignoto,
cumpro-me em rotas claras de
estilhaços
Nesse buscar-se atônito e
remoto,
ande a trilha das traças nas
estantes
mais escurece o abismo dos
instantes
distantes, do saber; mergulho
inútil,
esse naufrágio em lagos
bolorentos
rebuscando o esqueleto das
palavras
nos seus sarcófagos frios e
poeirentos.
De que serve a mecânica dos astros
esculpida nos riscos e equações
desses mapas de humana
geometria
se sobre o pântano, a corola
fria
do lótus guarda mais sabedoria
do que todos os ciosos pergaminhos
que se hoje são, é porque ontem
foram
sombra e ninho à margem dos caminhos?
OH! Os relâmpagos do caos, por
essas messes,
que não sabemos, mas, em nós,
enfuna as bujarronas do viajar
por esses mares todos feitos de
ar!
OH! Os relâmpagos do caos, por
essas messes,
onde a inútil colheita apodrece
nos desastres da busca, palimpsestos
acolhendo em seu ventre, como
cestos,
essa poeira vã dos cérebros aflitos
que as lunetas gastaram, pobres
gritos
afogados nas noites desse lodo,
onde ainda orquestramos nosso engodo.
O melhor é gozar entre os crepúsculos
incêndio do festim, e nesse ir
de desastre em desastre,
plantar musgo sobre
o muro da pálpebra, e dormir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário