Mais uma contribuição do saudoso padre Nonato Pinheiro, da Academia Amazonense de Letras, produzida no Jornal do Commercio (31 ago. 1980). O tema veio a propósito do dia do padroeiro do bairro de São Raimundo.
SÃO RAIMUNDO NONATO
Há dois Raimundos nos altares: São Raimundo Nonato e São Raimundo de Penafort, ambos espanhóis, em cuja língua nacional esse antropônimo ganhou muito em sonoridade, pela libertação do "y" ou do "i". Ramon. Isso me evoca a figura de um astro do cinema mudo, que eu ainda alcancei: Ramon Navarro.
Por vezes, pela libertação de uma letra, a palavra lucra em
sonoridade, como foi o caso do nosso vocábulo "lua". Das línguas
novilatinas, só o português não conservou a letra "n" da palavra
latina original luna, que se manteve inalterada em italiano e em
espanhol, passando em francês para "lune". Em português, resultou a
linda palavra "lua", de uma sonoridade espetacular, sobretudo na boca
dos seresteiros.
Tive um professor espanhol que me chamava Ramon. E eu lhe dizia: "Como o meu nome ficou lindo no seu idioma!"
Voltemos aos dois Raimundos canonizados. São Raimundo Nonato era religioso da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que se destinava, primitivamente, à redenção dos cativos. Como religioso, distinguiu-se por sua grande devoção a Nossa Senhora e ao Santíssimo Sacramento. Consta que, à hora da morte, não havendo nenhum sacerdote para administrar-lhe o viático, um anjo levou-lhe a hóstia consagrada. Feito cardeal, nunca usou a púrpura, por humildade, conservando seus simples costumes religiosos.
Ocorreu um fato curioso com relação aos dois santos de nome Raimundo.
O rito litúrgico de São Raimundo Nonato era superior ao de São Raimundo de
Penafort. Com a última reforma do calendário litúrgico, o Penafort suplantou o
Nonato. Penso eu que essa reforma se deu pela circunstância de que São Raimundo
de Penafort fora fundador de ordem religiosa. Tendo sido São Raimundo Nonato
mercedário, era natural que esses religiosos, que estiveram pela Amazônia e por
outras partes do Brasil, divulgassem essa devoção. No Maranhão e no Pará
levantaram igrejas e conventos.
São numerosas, no Brasil, as paróquias dedicadas a São
Raimundo Nonato. Em Belém, oficiam na paróquia de São Raimundo Nonato os padres
lazaristas, da Congregação da Missão. Aqui em Manaus, no bairro de São
Raimundo, administram a paróquia os padres do Espírito Santo.
Lembro-me, com saudade, dos meus dias da infância, quando ia
ao simpático bairro para assistir aos festejos de São Raimundo. Ainda era na
base da catraia: tomava-se a canoa para atravessar. A ligação por terra ficamos
a dever ao governador Leopoldo Neves. Uma festa bonita, com missa solene,
procissão e arraial, não faltando a presença do bispo, o saudoso Dom Basílio
Pereira, que crismava as crianças e abençoava o povo.
Uma explicação sobre o cognome Nonato. São Raimundo foi
extraído do ventre materno, estando a mãe moribunda, no final da gestação. Como
não teve o nascimento natural, foi dado ao menino o cognome Nonato (não
nascido).
Nenhum comentário:
Postar um comentário