CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS
domingo, dezembro 18, 2016
CARICATURAS DE ONTEM E HOJE
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sábado, dezembro 10, 2016
APARIÇÃO DO CLOWN: INTÉRPRETE
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Alencar e Silva |
O poeta
Jorge Tufic ajudou-me bastante na publicação da plaqueta Intérpretes de Aparição do Clown, que apreciava o livro-poema de
L. Ruas. A publicação ocorreu em 2010. Havia eu organizado os textos de quatro “intérpretes”; eis que surgiu o quinto.
Trata-se do
falecido poeta Alencar e Silva, autor de Quadros
da Moderna Poesia Amazonense (2011). Este post foi dali retirado.
A primeira amostra da poesia de L.
Ruas (Pe. Luiz Augusto de Lima Ruas) foi-nos dada em 1958, ano de grande
significação para a poesia amazonense, com o aparecimento da Pequena Antologia Madrugada, em que o poeta
Jorge Tufic, seu organizador, nos oferece, nos sete poetas ali reunidos, a
primeira visão de conjunto dos novos quadros da poesia amazonense, ou, como se
lê em sua apresentação, "uma nítida visão do que tem sido o trabalho deste
grupo que, há aproximadamente três anos, se organiza sob a égide do Clube da
Madrugada".
L. Ruas está ali representado por
quatro poemas — Versos à Margem de Um
Poema de Rainer Maria Rilke, Sinos,
Possível Noturno em Lá Menor e Evocação da França — aos quais retornei,
muitos anos depois para, com brilho nos olhos, constatar quão pura, quão
autêntica e definitiva me parece essa pequena amostra de sua poesia! Poesia que
conserva inalterado o mesmo primitivo frescor e o mesmo sopro de eternidade que
lhe infundem os valores que informam todo o labor intelectual de seu autor.
L. Ruas forma na linha de frente do
modernismo amazonense, já em razão da participação no movimento madrugada, desde
as primeiras horas, já pela notável contribuição expressa em sua poesia. Como
ocorre com todos os verdadeiros artistas, poetas e escritores, L. Ruas deixa
impresso, definitivamente, em toda a sua experiência convertida em expressão
artística, o selo pessoal da identidade própria, chancela sem a qual ninguém
pode aspirar à cidadania universal que as letras e as artes conferem a seus representantes.
Quer isto significar que estamos,
efetivamente, diante de um grande poeta e escritor. Diante de um dos
temperamentos intelectuais mais notáveis e mais completos/complexos já surgidos
entre nós. (...)
Também de 1958 é o livro de estreia
de L. Ruas: Aparição do Clown, poema
cristão — ou crístico — dos mais belos que já se escreveram e que o autor quer
que seja "um ato de adoração ao Cristo quando Herodes o chamar de
louco". Poema que considero o seu magnum
opus e de cujo foco luminoso ouso aproximar-me agora, dezessete anos
depois, e não sem uma ponta de temor.
Não de que se possa trair em exagero
e superestima a admiração que voto ao extraordinário texto, mas, sim, de que a
tarefa esteja além do meu alcance, dada a realidade estonteante e quase
inabarcável desse poema verdadeiramente belo e majestoso, e de brilho
arrebatador.
Disse que se trata de um poema
crístico. Mas ficou implícito, também, que não se trata de um poema fácil, que
logo se entregue à nossa fruição. Ao contrário. Diria mesmo ser este um texto
tremendamente difícil e labiríntico em seu maravilhoso hermetismo, visto que os
seus vários segmentos luminosos podem, com efeito, confundir-nos (numa leitura
menos atenta) e fazer-nos caminhar por seus desvios, afastando-nos,
consequentemente, de seu núcleo, de seu tema fundamental, de sua significação
humana e divina, assim como se, em vez da estrada real, tomássemos por atalhos
que apenas nos deixassem perceber, ao longe, o rumor e as luzes da festa...
E é este o grande desafio que o
poema nos propõe. Ou lhe identificamos os símbolos, ou sua chuva não nos
molhará.
Começa pela circunstância de que por
ele perpassa inominadamente o espírito do Cristo, que é a um tempo sua
respiração e seu mistério fundamental.
Como identificá-lo, se seu nome não
é uma só vez modulado? Na alusão dos signos? Nos símbolos? Na atmosfera
prestigiosa do poema? Certamente que sim. Inclusive porque uma tal forma de
mostrar-se — a um tempo incógnita e inconfundível — era/é, porventura, a mais
consentânea com o feitio e a doce índole do Mestre. Não foi assim, porventura,
na antemanhã da ressurreição? E assim também na estrada de Emaus? E no caminho
de Roma? E no episódio da pesca milagrosa (E nenhum dos discípulos ousava
perguntar: Quem és? sabendo que era o Senhor [João, XXI:12])?
Tenho para mim que é assim também
que ele perpassa pelo poema. E que podemos adivinhá-lo na figura do pássaro
ferido, vagando antes que surja a madrugada. Na hora em que não é dia nem é
noite. No lusco-fusco crepuscular. Na hora da luz azul.
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L. Ruas, autor de Aparição do Clown |
É bom que se tenha presente, no
entanto, que a poesia é também um pássaro, estrela ou fonte. E que o poema é
também um hino à poesia. Da mesma forma que é um ato de adoração ao Cristo.
Temos, aí, portanto, as duas
intenções, os dois segmentos ou impulsos básicos do poema — polos cuja
distinção se impõe à atenção e sensibilidade do leitor interessado na
compreensão plena do texto, porquanto uma leitura meramente hedonística, além
de ser chuva que não molha, poderá, com efeito, fazer-nos tomar, equivocadamente,
aquelas com realidades por uma só.
Dir-se-á que para isso concorrerá a
própria complexidade do poema. Sem dúvida. Mas deve-se ver que, no caso, a
complexidade e seu teor de mistério são positivamente elementos consubstanciais
ao poema, à falta dos quais este não se consumaria, da mesma forma que a
impossibilidade do perfume frustraria a perfeição da rosa.
É claro que um poema é o que é, e
até o que não é; nunca, porém, o que poderia ser. Assim, no primeiro caso, o
poema é (o que é): o que a compreensão plena do seu texto nos revela. No segundo,
ele é (o que não é): o que o mistério da leitura nos sugere. No terceiro, ele
não é (o que poderia ser): o que não está expresso nem sugerido no seu texto.
Ou, ainda: No primeiro caso, teremos mergulhado em sua realidade. No segundo,
apenas vivido a ilusão do mergulho. No terceiro, porém, teremos ficado completamente
por fora da realidade do poema, circulando-lhe à volta, longe da possibilidade
ou da ilusão do mergulho, a tentar impossivelmente captar-lhe uma realidade que
não é a sua.
Donde se infere que somente uma
leitura eficiente nos possibilitará a compreensão verdadeira do poema de L.
Ruas, seguidas as indicações subliminares que ele mesmo nos fornece. Será
preciso, por exemplo, atentarmos duplamente para a advertência do poeta, num
dos pontos culminante do poema:
“lê de novo o poema. desce. vai ao fundo. / (...) não
te afadigues. / o ritmo do meu nome é longo. majestoso. / quando souberes
quantas rosas floriram / na paisagem perdida e de novo descobrires / o sonho
inquieto e a aurora prateada /alegra-te, então, pois caminhas certo / rumo ao
mistério inexprimível do meu nome.”
Quem fala assim é ainda a poesia,
por cujos pés misteriosos (de fauno grego
ou de arcanjo bizantino) o espírito humano movimenta-se no ritmo apolíneo
ou na dança dionisíaca.
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Símbolo do Clube da Madrugada |
Nesses dois mistérios, o da poesia e
o do Cristo, estarão os polos do poema de L. Ruas. E é por ambos que nos virá a
salvação: pela condição de cativos do pássaro ferido (ser livre em essência é ser cativo) ou pelo incessante modelar
daquela chama que nos queima a alma e as mãos, sem deixar que se perca uma só
de suas fagulhas: “pois uma delas pode ser a luz que salvará tua face
passageira quando raiar o sempiterno dia.”
A salvação — eis o sentido profundo
da aventura do espírito. Eis o supremo anelo da condição humana. Eis o
substrato do poema de L. Ruas.
Creio que muito se há de escrever
sobre esse grande e torturante poema, cuja extraordinária plasticidade, aliás,
não faria senão a fortuna do artista que se decidisse a transpô-la para a linguagem
das tintas. Ou recriá-la em seus traços.
A obra de L. Ruas, longe de
esgotar-se nesse poema, estende-se pelo ensaio, gênero em que já nos deu os
volumes Linha d'água e Os Graus do Poético, e prossegue com Poemeu, coletânea de poemas em que nos
reencontramos com a sua grande poesia e de cuja apresentação fomos o
privilegiado subscritor e cujo texto transcrevemos a seguir, por refletir com
precisão o nosso pensamento acerca do Autor — pássaro de altos remígios silenciado
quando ia em pleno voo.
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domingo, dezembro 04, 2016
180 ANOS DA PMAM: ALGUNS QUARTÉIS
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terça-feira, novembro 29, 2016
BANDE DE MÚSICA PMAM: SUBSÍDIOS
Albino Dantas foi o regente da Banda de Música da PMAM entre os anos de 1942-45. Pernambucano de Quipapa, em Manaus, depois de servir ao Exército, chegou à Força Policial, em ambos dirigindo a Banda.
Costumava escrever nos periódicos da cidade sobre o assunto de sua especialidade: a Música. No entanto, numa dessas publicações, aqui postada, em defesa de seus músicos fez comentários, críticas mesmo, ao comando da corporação.
A publicação, circulada no Diário da Tarde (06 fev. 1942), não foi aceita no quartel, razão pela qual foi punido disciplinarmente.
Ninguém desconhece que, em Decreto-lei recente, o Exmo. Sr. Presidente da
República equiparou os músicos do Exército, Aeronáutica, Marinha de Guerra,
Policia Militar e Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, ao posto de sargento.
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Banda da PMAM, com o carneiro-mascote, início dos 1950 |
Costumava escrever nos periódicos da cidade sobre o assunto de sua especialidade: a Música. No entanto, numa dessas publicações, aqui postada, em defesa de seus músicos fez comentários, críticas mesmo, ao comando da corporação.
A publicação, circulada no Diário da Tarde (06 fev. 1942), não foi aceita no quartel, razão pela qual foi punido disciplinarmente.
A Força Policial do Amazonas é reserva do Exército?
Albino Dantas
Consoante o citado decreto, todas as Forças Policiais já promoveram os seus
músicos, baseados em que são reservas do Exército brasileiro.
No Amazonas, entretanto, os músicos da Milícia Estadual não tiveram ainda
as vantagens dos seus colegas artistas dos outros Estados. Continuam eles como
simples soldados músicos, e, ao que se fala, sem nenhuma esperança de promoção!
Analisando-se bem o caso, chegamos à conclusão lógica de que, não sendo os músicos
em questão promovidos, vai surgir um impasse difícil de resolver quando alguns
forem licenciados do serviço ativo.
Suponhamos que, hoje, tenha baixa um músico de 1ª classe. O certificado não
será a Força quem fornece, pois não tem atribuições para isso.
Segue o ofício para a CR [Circunscrição de Recrutamento], dizendo que o homem foi licenciado como soldado-músico
de 1ª classe. A CR não expedirá o documento, uma vez que existe um decreto
dando o direito de ser sargento, para todos os efeitos, aos músicos do Exército!
Tudo estaria certo se a Força Policial tivesse reserva, mas pertencendo à
reserva do Exército, tem, forçosamente, que o acompanhar, é mais do que lógico!
Acreditamos mesmo, que o Sr. Interventor Federal baixará um decreto tornando
extensivo aso músicos da Força Policial, o que preceitua o Decreto Federal que
equipara os músicas a sargento. E, fazendo isto, o Sr. Interventor lavra mais
um benefício em favor de uma classe humilde, mas sincera!
Não é a Força Policial do Amazonas reserva do Exército? Eis, portanto, a
melhor defesa dos seus abnegados músicos!
domingo, novembro 27, 2016
CAPAS DE REVISTAS DE MANAUS
sábado, novembro 26, 2016
PROVÍNCIA DO AMAZONAS: 1871-72 (1)

BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO
AMAZONAS
A Província do Amazonas e sua Capital
em 1871 e 1872
Agnello Bittencourt
A Assembleia Provincial cumpria a
feitura dos orçamentos municipais, cujas despesas foram fixadas para esse ano.
(1871):
Capital (Manaus) Cr$ 36.895,00
Maués (Conceição) “ 3.450,00
Tefé (Ega) “ 12.180,00
Serpa (Itacoatiara) “ 4.770,00
Serpa “ 1.450,00
Parintins (Vila Bela) “ 2.930,00
Barcelos “ 2.930,00
Em 1869, a importação subiu a Cr$ 6.902.422,50,
mais do que o do ano anterior em Cr$ 619. 293,40. E a exportação também naquele
ano (1869) elevou-se a Cr$ 8.531.384,40, superior a do exercício antecedente em
Cr$ 1.976.470,40. Tudo através da Alfandega e da praça de Belém, pois, como
dissemos atrás, os barcos estrangeiros ainda não chegavam ao porto de Manaus.
II - MANAUS
Já vimos que Manaus era a sede de um
dos 7 grandes municípios que formavam a Província. Estendia-se das terras de
Silves às de Barcelos, no Rio Negro, às de Tefé no Solimões, empreendendo parte
do Purus e do Madeira. Uma imensidão!
Como se sebe, as despesas totais da Câmara
limitavam-se a Cr$ 36.895,00. Convém observar que os dispêndios de maior vulto
corriam à custa da Província.
Iluminação pública
A cidade era iluminada por 120 lampiões
a querosene. O contratante do serviço recebia dos cofres da Província,
anualmente, Cr$ 20.000,00. Paro ampliar e melhorar a rede dos combustores,
foi-lhe aumentado o pagamento para Cr$ 40.000,00.
Nas noites de luar, não se acendiam
os lampiões. Esse péssimo serviço perdurou por muitos anos, até que, a 15 de
outubro de 1896, foi inaugurado a luz elétrica de Manaus, sob o governo de
Fileto Pires Ferreira.
População de Manaus
Como resultado do recenseamento de 1°
de agosto de 1872, a que aludimos, verificou-se que a população da Capital da
Província era de 16.383 brasileiros e 645 estrangeiros, num total de 17.028. Deste
cômputo, 493 eram escravos. População livre 16.535 habitantes.
Câmara Municipal
Superintendente (hoje Prefeito
Municipal) – Tenente-Coronel João José de Freitas Guimarães. Vereadores:
Guilherme José Moreira, João Ignácio Rodrigues do Carmo, Antônio José Barroso,
José Pereira de Moraes, Eusébio Luiz Antônio de Menezes, João Fleury da Silva
Brabo, Antonio da Cunha Mendes e Hilário Pereira de Jesus. Igual número de suplentes,
como os titulares, eleitos bienalmente.
Topografia
A Capital baré foi certamente a
cidade brasileira que mais sofreu na sua topografia. No escopo de higiene, conforto
e embelezamento. Foi aquele militar que iniciou as
grandes obras, tendo deixado prontas algumas. Muito realizou, podendo dizer: “Encontrei
Manaus uma grande aldeia e fiz dela uma cidade moderna”.
Onde é, hoje, a principal artéria da
cidade, a avenida Eduardo Ribeiro, achava-se em 1871, o igarapé do Aterro, que
podia ser percorrido por pequenas embarcações (canoas, lanchas), ao
tempo das enchentes (junho e julho). No verão, seu leito era um imundo
pantanal, que começava onde está o atual edifício do “Jornal do Comércio”, indo
terminar onde se estende o flutuante da Manaus Harbour Limited.
No lugar em que estão as avenidas
Floriano Peixoto e Getúlio Vargas prolongava-se o igarapé do Espírito Santo. No
inverno, os embarcações subiam o seu curso até onde se edificou o cinema Politeama.
Duas extensas pontes de madeira atravessavam-na: uma, no altura em que se encontra
o “Hotel Amazonas”, e, outra, na rua da Glória (hoje Quintino Bocaiuva).
O litoral também se modificou profundamente. Havia, na época, um trecho arrampado correspondente à praça da
Imperatriz (praça 15 de Novembro), na sua descida para o Rio Negro: a “rampa
dos carroceiros”. Era o desembarcadouro situado à foz do igarapé do Aterro, à
extremidade ocidental de uma ponte de madeira, ligando o prolongamento da rua dos
Barés (prolongamento que é a atual rua Marquês de Santa Cruz) à praça referida.
Todo esse litoral era uma suave descida da rua dos Barés para o rio. Nada o
ocupava.
No litoral ou “praia”, aportavam
centenas de “igarités” e “montarias”, chegadas do interior da Província, máxime
aos sábados, repletas de gêneros alimentícios e outros. Praticamente, não
existindo mercado, esse conjunto de pequenas embarcações era a feira dos
caboclos.
Companhia de
Aprendizes Marinheiros
Foi criado por Decreto n° 4.861, de
17 de janeiro de 1871. Instalada no mesmo ano. Funcionou com 50 alunos. Teve
duração efêmera.
Seminário Episcopal
Situado à praça da Imperatriz, sob a
reitoria do Pe. Dr. Frederico Celani, que regia a cadeira de Latim criada e subvencionada
pelo governo Imperial. Aí, também se ensinavam Português, Francês, Geografia e
História.
O Liceu Provincial, instituído pelo
Regulamento n° 18, de 14 de março de 1869, funcionou, por alguns anos no
Seminário, transferindo-se para outro prédio igualmente particular e impróprio,
até que teve casa adequada, a do atual Colégio Estadual, inaugurada, com grandes
festas, em 5 de Setembro de 1886.
Sociedades diversas
Existiam as seguintes “Ateneu das
Artes” fundado em 6 de janeiro de 1869, sob a presidência do professor José
Justiniano Braule Pinto; “Nacional Beneficente do Amazonas” criada em 6 de
novembro do mesmo ano, sob a direção de João Wilkens de Mattos; “Harmonia
Amazonense”, sob a presidência de Nicolau José de Castro e Costa; “Emancipadora
Amazonense”, a primeira que se criou para o fim especial de libertar os
escravos existentes no Província, para cuja finalidade muito realizou.
Advogados
Apenas quatro pleiteavam no Foro:
Dr. Gustavo Adolfo Ramos Ferreira, Alfredo Sergio Ferreira, Candido Antonio
Pereira e o major Clementino José Pereira Guimarães.
Médicos
Dr. Aprigio Martins de Menezes, João
Pedro Maduro da Fonseca e Joaquim Januario dos Santos Pereira. (...)
Como os “regatões” que enxameavam o
interior da Província, navegando nas suas “cobertas”, de sítio em sítio, isto
é, de porto em porto, assim, na Capitel baré, os “teque-teques”, com suas
caixas às costas de fazendas e quinquilharias, atravessando a cidade de
habitação em habitação. Esse comércio ambulante era exercido por sírios e
libaneses.
Não havia ainda um mercado
(edifício) para a venda de gêneros alimentícios. O peixe, as frutas, a farinha
d’água, o feijão fresco etc., etc., eram vendidos no litoral da cidade, quase
sempre pelos próprios produtores. Outros gêneros negociavam ou eram adquiridos
nos “mercearias” ou tabernas. Não se falava em metro, quilograma e litro, mas
em “côvado”, “libra”, “quartilho”, “canado” etc., em se tratando de negócios.
Casaria em geral
Manaus, em 1871, época fixada em
nossas referências, era uma cidade pobre, continuando assim ainda por muitos
anos, como acentuou Eduardo Ribeiro, dizendo-a "uma grande aldeia".
Numerosos casebres cobertos de palha pululavam, mesmo no centro da cidade.
Poucas, as casas assobradadas. Nelas residiam as autoridades mais graduadas e a
gente rica. O sobrado era uma habitação nobre.
Àquele tempo, Manaus não tinha um
edifício condigno para a sede do Governo. O que, pomposamente, possuía o nome
de Palácio do Governo, não passava de um casarão particular, tomado por
aluguel. No pavimento térreo, estava a Secretaria Geral, no superior, a
residência do Presidente. A cidade não conhecia canalização d’água, esgoto,
telefone, telégrafo, nem jardins.
Suas praças públicas enchiam-se de
capinzais e formigueiros. Calçamento das ruas, uma novidade, um luxo...
Quase tudo, que Manaus tem de
melhor, apareceu depois de 1889, a ponto de provocar, do saudoso Afonso Pena, que
a visitou em 1906, vendo e sendo informado que as obras importantes eram
recentes, a sentença: "Manaus é uma revelação da República".
Costumes
Apesar de se tratar de uma cidade
modesta, bem falha dos confortos que a civilização oferece, integrada nos
hábitos simplórios dos seus 17.028 habitantes, era, contudo, um pequeno mundo
de atividades e alegrias, realizando as suas constantes reuniões domésticas,
religiosas e cívicas.
Cultivava em alto grau, o espírito
de fraternidade, estima e respeito. As pugnas eleitorais entre "liberais"
e "conservadores", não deixavam ressentimentos. Após um pleito
renhido, não mais havia adversários. Uma palavra empenhada valia por uma escritura.
As festas familiares sucediam-se e
prolongavam-se até a madrugada. O carnaval, com seus “entrudos”, brutais,
invadindo os casas, sujando-as, alagando-as muitas vezes, também não molestava
ninguém.
Nas noites de Santo Antonio e São
João, as ruas (ainda calçadas) pontilhavam-se de fogueiras. Pode-se dizer que,
em frente a cada residência, lá estavam os labaredas. E, na sala principal, uma
grande mesa repleta de iguarias destinada aos parentes e amigos que,
infalivelmente, apareciam.
Como eram frequentes, ainda, as “festas
de arraial”, em frente às igrejas, com seus leilões de “prendas” e barracas de “sorteio”.
Faziam-se “pic-nics” no longínquo bairro da Cachoeirinha, em cujo igarapé a
gente grã-fina da época ia banhar-se e distrair-se.
Velhas famílias
amazonenses
Numa relação inevitavelmente omissa,
vejamos abaixo, os nomes de algumas famílias colhidas nos raros registros da
época: Nomes — Chefes ou representantes:
Antony – Henrique
Antony;
Aguiar – João José de
Aguiar;
Augusto Bitencourt –
Gentil Augusto Bitencourt;
Barbosa de Amorim – Mateus
Barbosa de Amorim;
Brito Amorim – Alexandre
Paulo de Brito Amorim;
Botelho do Cunha – Álvaro
Botelho da Cunha;
Bacury – Sebastião de
Melo Bacury;
Braule Pinto – José
Justiniano Braule Pinto;
Barroso – José Antonio
Barroso;
Batista Bitencourt –
Antonio Batista Bitencourt;
Batista Pereira –
Manoel Batista Pereira;
Castro e Costa – Nicolau
José de Castro e Costa;
Cascaes – Antônio José
Ribeiro Cascaes;
Faria Teixeira – Cosme
de Faria Teixeira;
Fleury – José Ferreira
Fleury;
Faria e Souza – Gentil
Batista de Faria e Souza;
Ferreira dos Anjos –
Manoel Ferreira dos Anjos;
Fonseca – Deodato da
Fonseca;
Gonçalves Pinheiro –
Febronio Gonçalves Pinheiro;
Lopes Braga – Antônio
Lopes Braga;
Langbeck – Ludovico
Langbeck;
Menezes – Dr. Aprígio
Martins de Menezes;
Miranda Leão – José
Coelho de Miranda Leão;
Mavignier – Aristides
Justo Mavignier;
Moreira – Emílio José
Moreira;
Matos Ribeiro –
Francisco Leopoldo de Matos;
Monteiro Tapajós –
Francisco A. Monteiro Tapajós;
Melo Cardoso – Nuno
Alves de Mello Cardoso;
Moraes – Gregorio José
de Moraes;
Malcher – Leonardo
Antônio Malcher;
Nery – Silvério José
Nery (capitão reformado);
Oliveira Horta –
Bernardino de Oliveira Horta;
Pucu – Geraldo José
Joaquim Pucu;
Pereira Guimarães –
Clementino José Pereira Guimarães;
Pau Brasil – João Marcelino
T. Pau Brasil;
Pinto Ribeiro – José
Arthur Pinto Ribeiro;
Paula Ribeiro –
Maximiano Paula Ribeiro;
Ponce de Leão – José
Vicente Ponce de Leão;
Ribeiro Bitencourt –
José Ferreira Ribeiro Bittencourt;
Ribeiro Guimarães –
Gabriel A. Ribeiro Guimarães;
Rebello – Raymundo
José Rebelo;
Ramos Ferreira – Dr.
Gustavo A. Ramos Ferreira;
Sarmento – Joaquim
José Paes da Silva Sarmento;
Silva Ramos – Manoel
de Azevedo da Silva Ramos;
Thury – José Manoel da
Rocha Thury;
Zuany – José Anacleto
Zuany.
Hóspedes ilustres
À época em apreço, Manaus hospedou
alguns militares já notáveis nos fastos do guerra. Aí esteve o Tenente-Coronel
Floriano Peixoto, bravo da guerra do Paraguai, comandando o 3° Batalhão de
Artilharia a pé. Também o Coronel Antônio Tibúrcio de Souza, na Comissão de
Inspeção de Fronteiras e Obras Militares, e o Brigadeiro João Guilherme Bruce.
Jornais
Não obstante a Capital da Província
ser então uma cidade modesta, como dissemos atrás, já possuía homens cultos,
que visavam os superiores horizontes de sua terra e do Brasil, o que se infere
da imprensa indígena. No Arquivo do Instituto Geográfico e Histórico do
Amazonas, colecionados, encontram-se os seguintes jornais: "Comércio do
Amazonas" (diário), "Catequista" (semanal), "Amazonas"
(diário, semioficial), "Reformo Liberal" (semanal), "Jornal do
Norte" (diário) e "Argos" (semanal). A leitura desses órgãos da
imprensa regional patenteia cultura, discernimento e patriotismo.
Cemitério de São José
Ao tempo em que se instalou a
Província (1852), servia de necrópole à Capital o terreno que se estende por
trás da Igreja dos Remédios, no local em que está o edifício da extinta
Faculdade de Farmácia e Odontologia, prolongando-se pelas adjacências da rua
Leovigildo Coelho (antiga da Cruz).
Em 1871, estava, há muito encerrado,
porque os inumações passaram a ser feitas no Cemitério de São José, também
fechado, salvo engano, em 1898, e ficava situado onde, depois da 1930, se
construiu a atual sede do "Rio Negro Clube", sociedade de esportes e
diversões.
Que contraste no destino do local!
Onde, outrora, se derramaram lágrimas, no adeus da separação eterna, onde
repousaram na quietude dos túmulos os nossos avós, hoje, ali mesmo, dança-se e
bebe-se.
E aqui, encerramos esta breve
síntese, de fundo histórico, uma despretensiosa revivescência para que os
rapazes de hoje se identifiquem nos virtudes e compreensões dos homens de 1871,
na ânsia de um Amazonas integrado nos desígnios da moral, do progresso e do
patriotismo.
Rio de Janeiro, julho de 1956.
Labels:
Agnello Bittencourt,
Amazonas,
Assembleia,
Associação Comercial do Amazonas,
Provincia do Amazonas
sexta-feira, novembro 25, 2016
PROVÍNCIA DO AMAZONAS: 1871-72

Esta veio em
recorte de matéria publicada pela Associação Comercial do Amazonas, em 1956,
quando esta comemorava seu 85º aniversário.
A autoria pertence
a Agnello Bittencourt, autoridade competente da história amazonense. Desejo apenas
efetuar uma observação, diz respeito a denominação e a forma de apresentar a moeda da
época. Em vez de “réis”, ele preferiu “cruzeiro”, que somente existiu em 1942. Entendo que o mestre desejou fazer compreensível estes valores, mas, a meu ver, pode causar
incompreensão.
No mais,
encontrei detalhes sobre os enterramentos da época. Estes, porém, vão na
segunda parte desta postagem.
BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO
AMAZONAS
A Província do Amazonas e sua Capital
em 1871 e 1872
Agnello Bittencourt
Em homenagem à Diretoria da
Associação Comercial do Amazonas.
1 A PROVÍNCIA
No momento em que a benemérita
Associação Comercial do Amazonas comemora o seu 85.º aniversário de utilíssima
existência, queremos por em relevo alguns traços do que eram a Província do
Amazonas e sua capital no biênio 1871-1872.
Presidia a Província, a esse tempo,
o general José Miranda da Silva Reis, empossado em 08.06.1870, deixando o governo
em 08.07.1872. No Senado Nacional representava o Amazonas o desembargador
Ambrósio Leitão da Cunha. Na Assembleia Geral preenchiam a nossa representação
os deputados Angelo Thomaz do Amaral e Leonel Martiniano de Alencar.
Divisão Política
A Província constituía um só
Distrito Eleitoral dividido em seis Colégios: Manaus, Vila Bela ou Parintins,
Tefé ou Solimões, Barcelos ou Rio Negro, Itacoatiara e Borba, com um total de
111 eleitores. O Colégio de Manaus dava 23.
Divisão Administrativa
Compreendia sete municípios: Manaus,
Barcelos, Itacoatiara (Serpa), Tefé (Ega), Silves, Parintins (Vila Bela da
Imperatriz) e Maués (Conceição).
Divisão Judiciária
Toda a vasta região da Província
abrangia três Comarcas: Manaus, Parintins e Tefé. A Comarca da Capital (Manaus)
constituía-se de 3 Termos: Manaus, Barcelos e Itacoatiara. Parintins, de 2
Termos: Parintins e Maués. Tefé, de 1 Termo: Tefé ou Solimões. Em cada Comarca
havia um Juiz formado, e nos Termos serviam juízes substitutos, meros
preparadores de processos.
A Província não possuía, nesse tempo,
um Tribunal de Justiça. Tudo que escapava à competência funcional dos juízes amazonenses
seguia para a Relação do Pará (Belém). Além de sua divisão policial, o Amazonas
dividia-se também em Distritos de Paz, em número de 18, com seus juízes eleitos
na forma da Lei.
Divisão eclesiástica
Era constituída por uma Vigararia-Geral
dependente do bispado do Pará. Compreendia 23 freguesias, cada uma com seu vigário,
mas, na sua maioria, vagas. Era Vigário-Geral o Pe. José Manoel dos Santos
Pereira.
População
O primeiro recenseamento nacional
foi realizado em 19 de agosto de 1872. Verificou-se possuir o Amazonas uma
população de 57.610 habitantes, sendo 31.470 homens e 26.140 mulheres.
Autoridades
governamentais
Assembleia Provincial – Composta de 20 deputados,
eleitos bienalmente. Na época, serviam os seguintes: Major Clementino José
Pereira Guimarães, Dr. Gustavo Adolfo Ramos Ferreira, Tenente-Coronel José de
Miranda Leão, Tenente Henrique Barbosa de Amorim, Major Francisco Antônio
Monteiro Tapajós, Capitão Nicolau José de Castro e Costa, Tenente João Carlos
da Silva Pinheiro, Padre Manoel Ferreira Barreto, Padre Daniel Pedro Marques de
Oliveira, Tenente Irenio Porfírio da Costa, Major Gabriel Antônio Ribeiro
Guimarães, Major Manoel Pereira de Sá, Capitão Antônio Augusto Alves, Delfino
Flávio Portugal, Major Antônio Lopes Braga, Major Dâmaso de Souza Barriga,
Capitão João Evangelista Cavalcante, Tenente Tomaz Luiz Simpson, Capitão José
Arthur Pinto Ribeiro, Capitão Francisco Leopoldo de Matos Ribeiro.
A despesa total com a Assembleia
Legislativa, compreendendo a Secretaria, taquígrafo, material de expediente
etc., elevou-se a Cr$ 22.900,00.
Não raro, se faziam vivos os debates
entre as duas correntes políticas, "liberais" e "conservadores".
Chefia de Polícia – Desempenhava as
respectivas funções o Dr. José Antonio Rodrigues, que foi substituído pelo Dr.
Felipe Honorato da Cunha Mininéa, bem mais tarde desembargador do Tribunal de
Justiça do Amazonas, logo que esta Corte foi criada. Em Manaus, havia duas subdelegacias
policiais, e, no interior, 23, compreendendo os limites das freguesias
eclesiásticas.
Comando das Armas – Compreendia o conjunto
das forças militares, do Governo Imperial, na Província. Esse comando cabia ao
Presidente da Província, no momento o general de brigada Miranda Reis.
Para o exercício de 1871-1872, a
receita se estimou em Cr$ 540.395,00, e a despesa em igual quantia.
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