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Sant´Ana Nery, desenho de Ed Lincon |
Apesar das incorreções, como a que confunde o barão de Sant´Ana Nery com
o compositor Carlos Gomes, além da data da homenagem, nada disso atrapalha a
notícia sobre a demolição da praça Osvaldo Cruz. Atendendo à solicitação, o
melhor ponto de referencia é que esta ficava em frente ao Porto de Manaus. Onde
o governo construiu um elevado para o trânsito de pessoas em direção aos
barcos.
No local existe um estacionamento e um quarteirão de prédios abandonados,
contendo somente as paredes frontais. Nesses edifícios funcionaram algumas
repartições importantes, a mais lembrada é a da Companhia de Eletricidade. Em
uma das esquinas, funcionou a agência da Booth Line (empresa de navegação),
depois supermercado com o mesmo nome. Também a Loteria Estadual. Sim, esse tipo
de “roleta oficial” funcionou longo tempo em Manaus.
Enfim, o monumento ao barão de Sant´Ana Nery desapareceu, restando
somente o busto, creio que recolhido ao Centro Cultural Palácio Rio Negro (a
confirmar).
O texto, publicado há mais de 40 anos e extraído de A Crítica, conta um tanto mais dos costumes de nossos pais e avós.
ESTA
PRAÇA VAI ACABAR
POR
CAUSA DO TRÂNSITO (*)
O Serviço de
Transportes Coletivos de Manaus está tomando providências no sentido de que,
ainda nesta segunda quinzena de janeiro, seja criado no centro de Manaus, dois
estacionamentos destinados a táxis, e carros particulares.
O chefe do
Serviço de Transportes Coletivos de Manaus, Sr. Rui Barroso declarou que a
medida é urgente e, para tanto, a secretaria de Obras da Prefeitura de Manaus,
irá tomar a frente dos trabalhos de demolição parcial da praça Osvaldo Cruz.
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Praça Osvaldo Cruz antes da reforma projetada, c1971 |
Por que a
Osvaldo Cruz
A praça
Osvaldo Cruz foi escolhida para os dois estacionamentos porque é localizada no
centro de maior movimentação da cidade. A praça Osvaldo Cruz que é dividida em
três partes, sendo distribuídas desta forma: Tabuleiro da Baiana (antiga
Estação dos Bondes), Palácio do Café (defronte ao porto de Manaus), as duas
partes a serem aproveitadas para o serviço de estacionamento.
Enquanto que
a outra parte restante, ou seja, aquela que fica defronte ao Parque Infantil,
não será afetada pelas obras a serem introduzidas no local.
Alargamento
O local foi
escolhido por oferecer condições de alargamento para colocar os veículos que
estacionam nas ruas próximas ao local, como área do Banco do Brasil, Relógio
Municipal, Marquês de Santa Cruz e Monteiro de Souza (próximo a Fazenda).
As duas
praças ficarão com pequenas áreas inferiores a 5 metros, no Palácio do Café, na
área do Tabuleiro da Baiana, a lanchonete vai permanecer, e o restante da praça
será demolido, o mesmo acontecendo com o Palácio do Café.
Praça
Osvaldo Cruz
Há quase um
século a praça Osvaldo Cruz foi criada. Na época, estavam chegando a Manaus os
mais belos ornamentos de bronze e mármore vindos da Inglaterra. Era o período
áureo da borracha. Belos conjuntos foram colocados em diversos trechos da
cidade, como na praça da Saudade e praça São Sebastião. A mais bela, foi
instalada, na Estação dos Bondes, a praça Osvaldo Cruz. Os chafarizes ali
instalados tinham o mais perfeito serviço de iluminação elétrica, fornecido
pela Manaus Electric Lighting Company, depois encampada pelo governo e
explorada pela The Manáos Tramways and Light Co. Ltd. A praça Osvaldo Cruz
continuou a ser o lugar preferido pelos manauenses para espairecimento físico e
espiritual.
No tempo dos
bondes
Foi
exatamente no tempo dos bondinhos, que a praça Osvaldo Cruz passou a ser
chamada a praça dos Bondes. Havia muito movimento, naquela época, naquele
local. A juventude da cidade de Manaus esperava nos seus 10 bancos, localizados
próximo ao Tabuleiro da Baiana, a abertura das portas da Mimosa, onde jogava
bilhar toda a rapaziada, disse o Sr. José Rodrigues, engraxate que trabalha no
local há mais de 20 anos.
Disse o
engraxate, aqui era um belo local de atrações aos domingos. Toda a criançada
dos bairros, vinha pela tarde para distrair-se com os ornamentos instalados.
Local de encontro de programas festivos na cidade.
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Praça Osvaldo Cruz, 1950 |
Depois,
ônibus
“Com a
retirada dos bondes de circulação das linhas da cidade de Manaus, vieram os
ônibus. Foram criados diversos abrigos aqui. Dois deles foram retirados nos
últimos dois anos”, afirmou o engraxate José Rodrigues, que conta com 57 anos.
“Muitos engraxates que trabalharam aqui, já abandonaram o serviço e estão
movimentando outros negócios. Eu continuo aqui até quando me derem o fora do
local”. Disse: “aqui estacionavam os ônibus do Circular Cachoeirinha, Flores,
Chapada, São Raimundo e Beco do Macedo. Na linha do Circular e Beco do Macedo,
eram as mais preferidas pelos torcedores amazonenses para assistir os maiores
clássicos do ‘pebol’ local”.
Para onde
vão
Os
vendedores que estão localizados na praça Osvaldo Cruz, estão um tanto
preocupados com o que a Prefeitura vai acabar em uma certa área da praça
Osvaldo Cruz, na parte do Tabuleiro da Baiana e do Palácio do Café. Sabem que a
medida é muito justa, mas pensam todo instante para onde vão. Pipoqueiros,
engraxates, garapeiros e cambistas da loteria do Estado. Sabem que tudo vai
mudar de vez.
A pergunta
surge a todo instante, para onde vai o busto de Carlos Gomes (Barão de
Sant”Anna Nery), uma homenagem prestada pelo Estado do Amazonas, nos idos de
1849, ao ilustre barão (sic). Ali está sua efígie em bronze ao alto do monumento. Ao
lado esquerdo, embaixo, uma mulher segurando dois galhos de café, o produto que
simboliza a principal economia do país. Tanto que está gravado, em letras
graúdas: BRASIL, TERRA DO CAFÉ.
Segundo
palavras dos vendedores do local, possivelmente a prefeitura vai colocar a
estátua no outro lado da praça, defronte ao parque infantil Dom Basílio
Pereira.
Hoje é feira
de frutas
A Prefeitura
resolveu ceder a Praça Osvaldo Cruz no final de ano para os importadores de
frutas sulinas para a venda durante as festas de fim de ano. Assim é que deu um
prazo para a venda até o dia 31 de dezembro, recém-findo. E, não se sabe até
que dia vai ficar. Será até o dia da demolição da praça?
Durante a
noite
A Praça,
durante a noite não é ambiente de tranquilidade. Muitos embriagados,
prostitutas durante a noite exploram o local. Enfim está transformada num
ambiente antissocial. As pessoas que desejam
durante a noite passear pela praça, deixam de fazer essa higiene mental
devido os maus procedimentos ali registrados a todo instante. Durante a noite
toda espécie de boemia toma conta da praça e usa e abusa das autoridades.
As sestas
vão terminar
Os
trabalhadores no porto de Manaus, principalmente aqueles que não vão a casa
fazer sua refeição ao meio dia, após comer nos restaurantes mais próximos do
porto, vão fazer suas sestas até a hora do almoço, próximo ao Palácio do Café.
Agora tudo vai terminar. Agora terão que ir as suas casas ou pelo contrário,
vão deitar nos arredores dos armazéns da Administração do Porto de Manaus.
Manaus está
mudando. É o trânsito.
(*) A Crítica – 6
de janeiro de 1971
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