Os frades capuchinhos da província de Úmbria (ITA) chegaram a Manaus em 1909, propostos à evangelização do Alto Rio Negro. A pobreza generalizada da região os desencorajou. Aceitaram, no entanto, mudar-se para o Rio Solimões, localizando a Missão à entrada deste portentoso curso d’água no Brasil. A conquista exigiu renúncia, espírito missionário, acarretou a morte de jovens apóstolos, contudo conseguiram se estabelecer. Ainda em nossos dias cabe aos capuchinhos umbros a direção da Igreja católica nos municípios da tríplice fronteira.
Para celebrar esse triunfo, relembrando as fases superadas com
ingentes esforços, Mário Tosti (professor de História Moderna na Universidade
dos Estudos de Perugia e docente de História da Igreja Moderna e Contemporânea
no Instituto Teológico de Assis, Itália) escreveu o livro a Igreja sobre o
rio (Manaus: Secretaria de Cultura do Estado, 2012), no qual relata “A
missão dos Capuchinhos da Úmbria no Amazonas”.
Capa do livro
O livro foi escrito a partir de relatos enviados pelos frades
missionários, remetidos de Manaus e de outras localidades do rio Solimões. A numerosa
correspondência arquivada e examinada se deve à recomendação imposta aos religiosos,
em particular aos dirigentes, pela direção-geral da Ordem.
Sua leitura revela um tanto enorme da história do Amazonas, por isso, recolhi alguns parágrafos que julguei oportunos. Outros, se trata de curiosidades. Enfim, espero ter contribuído com a divulgação da “conquista espiritual da Amazônia”.
Manaus, 8 dicembre 1912. Mais detalhado é o acerto de contas que o mesmo prefeito
[religioso superior] faz no seu relatório de 1912, do qual emergem
interessantes e curiosas considerações sobre a presença e a atividade dos
italianos em Manaus: "em Manaus existe uma colônia italiana muito
numerosa, mas que infelizmente não honra a própria bandeira.
Na quase totalidade é composta por meridionais que, emigrando para
Manaus com o único objetivo de fazer dinheiro e para obter isso não se
interessam pelo decoro civil nem com o sentimento religioso. Quase todos se
submetem a fazer os serviços mais abjetos, como de estivadores, garis e
engraxates, de modo que em Manaus a palavra italiano é sinônimo de estivador.
Agora, o cônsul italiano, para tentar remediar esta situação, tinha
prometido fazer-me possuir gratuitamente uma casa com local apto para um
colégio, com a condição que eu estabelecesse neste uma secção especial para os
filhos dos italianos. Eu aceitei, e ele ocupou-se realmente da coisa: mas até
agora não vi algum resultado".
Frei Jocundo |
Em sua viagem transatlântica rumo ao
Brasil, em 1912, frei Jocundo de Soliera repassa uma informação sobre o
tratamento dispensado a ele pelos passageiros de 1ª classe e os de 3ª.
Nota 249 "Todos se aproximavam
de nós — escreve Fr. Jocundo — e esses maltratando o idioma italiano e nós
estragando a língua portuguesa e inglesa, conseguíamos conversar suficientemente".
A mesma coisa não podia afirmar dos passageiros de terceira classe, uma centena
de portugueses que se dirigia ao Pará e a Manaus, embarcados em Lisboa,
barulhentos e incômodos que não hesitavam em gritar, assoviar e pronunciar
palavras injuriosas toda vez que no horizonte apareciam os religiosos, foi em
vão o protesto de Fr. Jocundo ao capitão que respondeu de modo gentil, mas
inconsequente, por isso, a única solução foi "não passar mais daqueles
lados".
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