Encerrando a postagem de ontem, em que o Renato (meu irmão) reproduziu com brilhantismo o quintal o melhor quintal que desfrutamos. A imagem mostra parte da área, com a família reunida, e a cerca de acariquara.
O Quintal
06.10.2020
Renato Mendonça
Esse
grande “amigo” quintal abrigava uma privada, junto com a sala de banho. Ele
ainda aceitava um chiqueiro para porcos e um galinheiro que, ao sabor do tempo,
mudavam de lugar. Uma fartura de episódios acontecia dentro daquele pequeno
universo. Um mundo infantil a nos envolver, e nos ensinar a lidar com a
natureza, com os animais e com a vida. O mundo fora dali era tão estranho para todos
nós, meninos, e para os cachorros, que faziam nossa escolta à noite para irmos
até o banheiro.
Hoje,
quando olho o mapa do Google, vejo que a solidão o consumiu, sufocado
por construções às avessas, por calçamento inescrupuloso na sua superfície.
Apenas o número 29, a mesma placa de madeira antiga, está fixada ao
portão de ferro, e detém a memória viva de outras eras. Vejo-o como um
ancião angustiado pelo tempo e pelo inevitável abandono das mentes infantis que
ali o preencheram de vida. O quintal envelheceu, assim como os garotos que ali
habitaram desde o seu nascedouro. Vimos cercá-lo de estacas de acariquara;
testemunhamos, por duas vezes, escavarem suas entranhas para alojar os
sumidouros das privadas, em épocas distintas. Vimos também, lhe amputarem uma
pequena área, para emprestar e depois vender à tia Luzia. O quintal aceitou
alojar a nossa casa de várias maneiras, em diversas posições e ângulos. A tudo
isso, ele respondeu calado, realizando o seu importante papel de criar e educar,
dentro do ecossistema, aquele grupo de garotos e rapazes. Há uma enorme gratidão
em cena, onde nem mil palavras poderão expressá-la por completo.
Com
certeza, José Manoel, Miguel Jorge, Luís Carlos e João
Ricardo lembrarão dele com saudade. Henrique Antonio, Manoel
Roberto e o cronista que vos escreve, também acalentam os mesmos
sentimentos. Apenas Ronaldo César, um anjo que nos deixou muito
precoce — antes de completar um ano — e Carlos Alberto, nascido tempos
depois em São Paulo, longe daquele sítio, não poderão experimentar essa
nostalgia.
Se um dia puderem ir até lá, olhem-no com carinho, digam seus nomes em voz alta. Ele os ouvirá e, com certeza, também lembrará de vós. Não é uma mera prosopopeia, o quintal é um membro da família e lembrará de um passado tão lúdico, tão alegre e pueril, de meninos querendo aprender as coisas da vida.
E como aprenderam!
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