CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, setembro 18, 2017

LÁBREA (AM)


Igreja de Lábrea (AM)
Esta postagem saquei do extinto O Jornal (18 de abril de 1982), cuja edição dominical circulava com páginas fartamente literárias.   


À Margem de um Livro

Padre Nonato Pinheiro
(da Academia Amazonense de Letras)

Li o livro LÁBREA, de autoria do Irmão Sebastião A. Ferrarini, religioso marista, membro de uma congregação fundada pelo padre Marcelino Champagnat, em 1817. O autor versa sobre a cidade e município de Lábrea, sua situação geográfica, a exploração do rio Purus, dados históricos, homens ilustres, aspectos econômicos e recursos regionais, fauna, avifauna, ictiofauna, flora, meios de comunicação, aspecto sanitário, a presença da Igreja e da Congregação Marista. Um volume corográfico.

O próprio autor, em sua introdução, ressaltou a escassez das fontes e de tempo, circunstâncias que prejudicou a obra, que é comemorativa do centenário de Lábrea, ocorrido em 1981.

Sebastião Ferrarini

Pesquisando há 40 anos, desde 1942, quatro anos antes de minha ordenação sacerdotal (1946), sobre a presença da Igreja Católica no Amazonas, até hoje não divulguei o produto de tão jongas e pertinentes rebuscas. Uma publicação histórica envolve muita seriedade porque a história se escreve com documentos, que exigem detido exame e cotejo no que concerne à autenticidade dos mesmos, às datas etc.

A obra do Irmão Sebastião é muito interessante, mas numa segunda edição mereceria alguns melhoramentos, como mais nítidos enfoques. Algumas figuras estavam a exigir melhor relevo, com tintas mais vivas e brilhantes. Na parte concernente à fauna e a flora, a obra se valorizaria com a ilustração dos nomes científicos, como fez o autor com a castanheira (bertholletia excelsa) e a sorveira (sorbus domestica), esquecendo-se da denominação científica da seringueira (hevea brasiliensis).

Permito-me fazer ligeiras considerações sobre a presença da Igreja em Lábrea. Escreve o autor: "A assistência pastoral organizada no Purus só acontece quando D. Macedo Costa cria a Paróquia a 6 de setembro de 1878." Lamento que o autor tenha omitido a presença do referido bispo do Pará em Lábrea para instalar a Paróquia e fazer a Visita Pastoral. O arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa informa em sua notável obra Dom Macedo Costa: "A 5 de junho (1878) Dom Antônio segue para Manaus; em outubro faz a Visita Pastoral às povoações do rio Purus. Regressa em novembro." (p. 375).

O autor deu o devido relevo ao longo paroquiato do sacerdote cearense padre Francisco Leite Barbosa, distinguido com o título de monsenhor. Ele bem o mereceu. 

Entretanto, teria gostado que o Irmão Sebastião ressaltasse a figura do terceiro vigário de Lábrea, padre Manuel Monteiro Silva, amazonense nativo do município de Lábrea, no lugar Carmo. Padre Monteiro foi vigário de sua paróquia natal de 1912 a 1921, quando passou o governo da mesma ao italiano padre José Tito.

Monsenhor Manuel Monteiro da Silva foi o mais ilustre filho de Lábrea. Em Manaus, foi catedrático de Latim (defendeu tese) do antigo Ginásio Amazonense Pedro II; duas vezes vigário-capitular da Diocese; Vigário-Geral da Arquidiocese; deputado estadual; presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, tendo assumido o governo do Estado em 1936, na ausência do governador Álvaro Maia.

Quando ele foi distinguido pela Santa Sé com o título de monsenhor, o autor destas linhas, então Chanceler do Bispado, organizou uma solenidade de homenagem ao novo Camareiro de Sua Santidade o Papa Pio XII (doze). Saudou-o o eloquente salesiano padre Estélio D’Alison. Dom José Alvarez Mácua, bispo prelado de Lábrea, compareceu e usou da palavra, dirigindo-se ao homenageado como "o mais ilustre filho de sua Prelazia."

Irmão Sebastião informa que o padre Francisco Leite Barbosa foi ordenado a 13 de junho de 1876 (p.158). Dom José Alvarez Mácua diz o mesmo em sua obra Efemérides da Prelazia de Lábrea, à p.17. Dom Alberto Ramos, em sua Cronologia Eclesiástica da Amazônia concorda com o dia e o ano, mas dá o mês de fevereiro (e não o de junho) como o da ordenação: "1876 — 13 de fevereiro - Dom Antônio ordena os padres Antônio Nicolau Tolentino, Antônio Valente Flexa, Antônio da Silveira Franca, Domiciano Perdigão Cardoso e Francisco Leite Barbosa (p.50).

Recorte do periódico

A figura de monsenhor Inácio Martins ficou nítida no aspecto missionário, mas um tanto esmaecida no plano intelectual. Foi um primoroso homem de letras, poeta inspirado e orador de grandes remígios. Também gostaria de ver bem colorida a imagem de Dom José em tão longo ministério pastoral e a parte saliente que teve na ida dos Irmãos Maristas para sua Prelazia (Carta Pastoral de Despedida, p.8).


Que me perdoe o ilustre Irmão Sebastião A. Ferrarini! Estas notas foram sugeridas pela seriedade de sua obra, publicada sob os auspícios do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Com algumas restrições, considero a obra digna de leitura e apreço.

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