CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, fevereiro 29, 2016

POSSE NO IGHA

A renovação anunciada pelo presidente Antonio Loureiro, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), começou a se concretizar na última sexta-feira 26, quando tomaram posse três novos acadêmicos: Aguinaldo Nascimento Figueiredo, que ocupa a Cadeira 22, cujo patrono é o cronista português Gabriel Soares de Souza. 
O segundo foi Zemaria Pinto, inaugurando a Cadeira 59, da qual é patrono o etnólogo Manuel Nunes Pereira (1893-1985). E o terceiro foi o advogado e jornalista Julio Antonio Lopes, que irá ocupar a Cadeira 36, patronada pelo carmelita frei José dos Santos Inocentes.

Zemaria Pinto editou o folheto - Nunes Pereira: esboço em cinza e sombras, com seu discurso de posse. Conhecido por sua dedicação ao trabalho intelectual, o novo membro do IGHA deu partida a outra renovação: a de redescobrir e divulgar a atuação de seu patrono, hoje envolvido em lendas e esquecimento.
A parte inicial do folheto vai abaixo postada, num abraço de boas vindas a Casa de Bernardo Ramos

As razões do título e do subtítulo

Tenho por hábito começar a escrever meus trabalhos com um título, ainda que provisório. É uma forma pouco sutil de me dar uma direção, definir um escopo, para além do roteiro traçado previamente. O tema Nunes Pereira, por exemplo, é material para inumeráveis teses e dissertações, sendo impossível esgotá-lo nos limites de uma fala. Assim, defini o título: "Nunes Pereira, esboço de um retrato".

Imaginei esse esboço expressionista e em cores, explorando o amálgama racial do retratado — índio, negro, branco, buscando a ideia precisa de quem foi esse cientista e escritor, a um tempo tão citado e cultuado, mas tão pouco lido, e agora quase no esquecimento.

Pelas dificuldades encontradas no levantamento de dados, entretanto, o retrato continuou apenas um esboço, porém esmaecido num impressionismo ligeiro, limitado em cinza e sombras. O subtítulo — o cientista, o poeta, o contador de histórias — é até óbvio, conforme se verá no fluir do texto. Mas adianto que o cientista rigoroso, autodidata consciente de suas possíveis limitações, e, por isso mesmo, munido de uma autocrítica incomplacente, jamais deixou de ser o lírico que cultivava alexandrinos na juventude, especialmente quando recontava as histórias ouvidas da indiada, como ele carinhosamente se referia àqueles a quem procurava, sobretudo, "conhecer e amar humanamente".

O Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, ao completar 99 anos de existência, resgata a memória desse brasileiro exemplar que foi Manoel Nunes Pereira, maranhense de nascimento, com uma passagem fulgurante e duradoura pela nossa região, especialmente por Manaus, que ele dizia ser o "coração da Amazônia".

A finalidade deste trabalho

Os que conhecem Nunes Pereira já devem ter ouvido algumas das histórias que se contam sobre ele — e que ele mesmo ajudou a divulgar, alimentando um folclore em torno de sua figura emblemática. Histórias de rebeldia, de boemia e de sexo. Esse anedotário acaba supervalorizado em relação a uma obra que, ainda viçosa e original, é subestimada — pelo que levantei, apenas duas teses de doutorado têm como centro a obra de Nunes Pereira, ambas da PUC-SP: Labirintos do saber: Nunes Pereira e as culturas amazônicas, de Selda Vale da Costa (1997), e Mitopoética dos muiraquitás, porandubas e moronguetás: ensaios de etnopoesia amazônica, de Harald Pinheiro (2013). Então, a proposta deste trabalho é, ignorando o anedotário, dar uma visão, ainda que superficial, sobre a vasta obra de Nunes Pereira, procurando despertar, especialmente nos mais jovens, pelo menos a curiosidade de conhecer o essencial da obra do autor de Moronguetá, o que não é pouco.



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