Em 4 de julho de 1973, o então governador João Walter de Andrade
(1971-75), no ato de contratação da empresa Norberto Odebrecht para a executar a restauração do Teatro Amazonas, pronunciou o seguinte discurso, que vai postado em duas
partes.
A convocação para esta solenidade se
impôs pela alta significação de que se reveste o ato que aqui vamos firmar. A
presença, neste momento, das figuras mais representativas do Amazonas, quer no
oficialismo, quer na expressão cultural e no social, responde a uma chamada da
própria reivindicação amazonense, que o Governo do Estado se sente feliz em
poder cumpri-la e levá-la a termo.
A restauração geral do nosso TEATRO
AMAZONAS é providência por que todas as vozes amazonenses vinham há décadas
clamando do Poder Público. Mas, restauração geral, enfatizamos, — e não simples
pintura, interna ou externa; não meros consertos parciais. Tradição cultural de
um povo, justo orgulho que um passado opulento e requintado pôde transmitir às
gerações subsequentes, o nosso TEATRO AMAZONAS de há muito vem se deteriorando.
Com setenta e sete anos de inaugurado,
a esta altura todos os ângulos estruturais do belo edifício estão em condições
precárias de conservação. A esta altura, não há um só, sequer, desses ângulos
que não esteja clamando por conserto, reforma, ou recuperação.
Quando assumimos, há dois anos, o Governo
do Estado, foi o TEATRO AMAZONAS, sem dúvida, a primeira das nossas
preocupações. Amando esta terra, e sempre reconhecido ao afeto da nobre família
amazonense, trazíamos também no coração a nossa parcela de amor por este
monumento arquitetônico do Amazonas.
Desde então, iniciamos uma luta no
sentido da obtenção de recursos para restaurar o TEATRO AMAZONAS. Restaurar, —
acentuamos, e não apenas consertar; não apenas pintar; não apenas equipar esta
ou aquela parte. Restaurar, sim, por inteiro; recuperar todo e qualquer palmo
da edificação que estivesse a necessitar de restabelecimento. E restaurar tudo.
Não só o edifício; também o mobiliário, também o patrimônio artístico, também
as instalações elétricas e hidráulicas.
E demos início, então, em meados de
1971, à batalha para se conseguir os recursos necessários, — recursos tão
altos, que deles não nos era possível sequer cogitar com base na arrecadação
estadual. A primeira porta a que batemos foi a do Conselho Federal de Cultura,
então presidido por um eminente amazonense, o Professor Dr. Arthur Cezar
Ferreira Reis, ex-governador deste Estado. Veio desse honrado e ilustre homem
público a primeira ajuda: 110 mil cruzeiros para restauração do sistema
elétrico do Teatro.
Dirigimo-nos, a seguir, ao Exmo. Sr.
Ministro da Educação e Cultura, Senador Jarbas Passarinho, homem da região,
amazônida conhecedor como bem poucos das necessidades regionais. Fizemos-lhe
apelo veemente, não só no sentido das dotações, mas também no da mobilização de
esforços do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e do Departamento
de Assuntos Culturais do Ministério da Educação; e ainda solicitando a vinda de
técnicos para contatar com a situação e a formulação de planos. O Ministro
Jarbas Passarinho veio de pronto em auxílio do TEATRO AMAZONAS. E três dias
após receber o nosso apelo, telegrafava-nos, assim iniciando o seu despacho:
"Comunico ao eminente Governador que já determinei todas as providências a
meu alcance para prestar imediata ajuda ao seu Governo no problema da
restauração do TEATRO AMAZONAS, próprio público que pelo seu valor artístico e
cultural merece ser preservado à custa de qualquer sacrifício".
E aduzia, a seguir, o ilustre titular
da Pasta da Educação, estar colocando à disposição do Governo do Amazonas a
quantia de 760 mil cruzeiros, inclusive a dotação do Conselho Federal de
Cultura, para serem logo aplicados nas obras mais urgentes, "sem embargo
de outros recursos que poderia obter no ano seguinte".
Animados por esses primeiros triunfos,
voltamo-nos para as instituições internacionais protetoras da cultura. No
início de 1972, recorremos às Fundações Ford, por intermédio do Dr. José Sílvio
de Sousa, no Rio de Janeiro. Essa nobre instituição enviou um técnico a Manaus,
para dialogar conosco sobre o assunto, mas, depois não nos apresentou solução
satisfatória. Colocamos o nosso apelo, a seguir, sob a atenção da Fundação
Rockefeller, não logrando êxito algum. O mesmo sucedeu com o Instituto Joaquim
Nabuco.
Nossa capacidade de pedir pelo TEATRO
AMAZONAS não se esgotava, nem sofria procrastinação. Antes, encorajava-nos a
magnitude do projeto, a saudável impostação do problema, a necessidade inadiável
de bater a outras portas, como, por exemplo, a ONU. Estendemos indagações,
fizemos consultas, estabelecemos contatos com outras instituições culturais,
empenhando nessa campanha todos os nossos esforços.
Alto funcionário da Unesco, estivera
em Manaus o Dr. Eduardo Frei, que fora Presidente do Chile. A esse eminente
estadista relatamos pessoalmente a nossa preocupação com o TEATRO AMAZONAS e pedimos
a ajuda da Unesco.
Quando viera a Manaus, especialmente
convidado para pronunciar uma conferência sobre Camões, o Dr. Adriano Moreira,
ex-ministro do Ultramar de Portugal, solicitamos-lhe interferisse em favor de
uma ajuda para o TEATRO AMAZONAS, junto à Fundação Calouste Gulbenkian. E
dirigimos relatório diretamente ao Dr. José de Azeredo Perdigão, presidente da
Fundação Calouste Gulbenkian formalizando o pedido de auxílio financeiro. Ainda
nesse sentido, oficiamos ao Embaixador do Brasil em Portugal, Dr. Luiz Antonio
da Gama e Silva, pleiteando a sua intercessão em nosso favor, junto à referida
Fundação. Nada nos deram, além de boa compreensão aos nossos propósitos.
Estando de passagem em Manaus o embaixador
Dr. Sergio Correa da Costa, mostramos ao ilustre diplomata brasileiro o nosso
problema em relação ao TEATRO AMAZONAS. Ao retornar a Brasília, interessou-se
junto ao Ministro de Estado da Grã-Bretanha, com o fim de obter um auxílio de
600.000 dólares, ou sejam 3 milhões e seiscentos mil cruzeiros para a restauração
do TEATRO AMAZONAS. O Ministro Inglês foi favorável ao financiamento, com a
única condição de que o Governo brasileiro incluísse o projeto de restauração
do TEATRO AMAZONAS na agenda a ser submetida em Londres para utilização de
parte da disponibilidade de esterlinos, ao que prontamente acedeu o Senhor
Ministro das Relações Exteriores, Dr. Mário Gibson Barbosa.
O Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico enviou-nos os arquitetos Tomaz Estrela e Alcir Souza Coelho, que
viram e sentiram de perto a situação precária do edifício. No Rio de Janeiro,
em novembro do ano passado, mantivemos contatos com o engenheiro Coronel Odilon
Spinelli e o grupo do Patrimônio Histórico, ali se assentando que as obras de
restauração do TEATRO AMAZONAS deviam ser entregues a uma empresa que reunisse
não apenas as qualidades de idoneidade moral, de experiência em trabalhos de
construção civil, mas, e muito principalmente, que pudesse dispor de uma equipe
de técnicos atribuídos de capacidade especializada, tal a exigência das estruturas
a serem atacadas nesse árduo e movimentado trabalho de recuperação total e
aparelhamento técnico exigido.
De fato, para tanto, exige-se uma
equipe de artistas de engenheiros hidráulicos, de eletricistas, decoradores,
pintores, entalhadores, estucadores, engenheiros eletrônicos, moveleiros,
carpinteiros, verdadeira legião de técnicos e especialistas, a qual seria
oneroso e dispensável elencar. (SEGUE)
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