O texto aqui reproduzido pertence ao finado professor e magistrado Waldir Garcia, constante de seu livro À Sombra dos igapós (1987). Acrescento apenas que o personagem aqui revisto – Armando de Souza Lima – teve seu nome adotado no anfiteatro da Ponta Negra.
Recordando o “Rei do Solovox”
Anfiteatro da Ponta Negra. Foto de A Crítica |
Uma das figuras
admiráveis de meu tempo de ginásio, pelo talento musical que expandia precocemente, foi, sem dúvida, Armando de Souza
Lima. Nascido em Manaus no dia 8 de setembro de 1923, Armando era
filho do cirurgião-dentista Jaques de Souza Lima e de D. Ondina Mattos
Lima.
Conheci-o no
velho Ginásio Amazonense Pedro II. Era meu vizinho na av. Joaquim Nabuco, quando eu morava em casa de meu saudoso tio Francisco Barnabé Gomes, que neste 11 de junho completará seu centenário de nascimento.
Àquele tempo, Manaus não
era um polo industrial fabricante de aparelhos sofisticados em
sistema de som. As reuniões sociais da mocidade fazia-se
em casas de família, animadas ao som do piano maravilhoso de Armando. Sua vocação
artística se manifestou ainda em garoto, sendo um
dos pioneiros da radiofonia amazonense, atuando na Rádio Baré, no programa "Voz da Bariceia". O estúdio era o porão da casa de Lizardo Rodrigues, seu lançador no rádio.
Trabalhando e
estudando aprendeu outros idiomas e isto lhe foi de grande valia. Ao tempo da Il Guerra Mundial foi contratado para intérprete dos americanos que aqui
estavam a serviço da "Rubber Development Corporation".
Transferido para Belém do Pará, servindo como intérprete na Base [aérea]
Val de Cans, colaborando no esforço de guerra, nos fins de
semana apresentava-se em programas artísticos, interpretando
números de piano, em espetáculos promovidos pelo U.S.O. para os soldados ali sediados.
Recebendo
uma passagem do general Zacarias de Assunção, então comandante da Região Militar, viajou
para o Rio de Janeiro. Ali Armando sofreu e teve que lutar muito para vencer, como acontece a
todos aqueles que procuram os grandes centros em busca de melhor
oportunidade. Dormiu em bancos de praças públicas, nos bondes, lutou, mas
venceu.
Seu
primeiro emprego na Cidade Maravilhosa foi na antiga Aerovias
Brasil. Através apresentação passou a acompanhar cantores no programa "Hora do Comerciário", na Rádio Tupi, indo trabalhar em casas noturnas com o fechamento dos cassinos.
Foi visto então nas boates Chez-Aimée, Night and
Day e Monte Carlo, participando ainda de
um filme ao lado de
Celso Guimarães, acompanhando Grande Otelo, na "Luz dos Meus Olhos".
Já consagrado pela imprensa da época, nos anos de 1946 a 1950,
Armando aceitou proposta e foi para São Paulo, sendo visto em boates, cinemas
(pela Sorocaba filmes na película "Não matarás") e rádio, ingressando
mais tarde na TV Record.
Na época fez as primeiras
gravações com dois discos para a gravadora Copacabana. Seu nome já era
realidade e tornou-se conhecido como "O Rei do Solovox", instrumento
que o projetou.
Discos produzidos por Armando Souza Lima
Novamente no Rio de Janeiro, de onde sentia muitas saudades,
Armando de Souza Lima adotou o pseudônimo de "Armando do Solovox", aceitando
proposta de Carlos Machado para trabalhar outra vez no Night and Day.
A convite da VARIG foi para os Estados Unidos participar do
Carnaval Brasileiro em Nova York, atuando em casas noturnas locais e nos
programas de Mitch Miller Show da CBS (Columbia). Tem vários long-plays
gravados, sendo conhecida em todo mundo a edição Columbia "Patrícia",
gravada em 1959/1960 e agora fazendo parte integrante do elenco de músicas
selecionadas no recentíssimo disco intitulado "Anos Dourados”, da Rede
Globo. Vinculou-se à Odeon, na qual gravou uma série intitulada "Som de
Boite", com Armando's Trio. Seu amor ao Rio de Janeiro é demonstrado no LP
da Copacabana com a música intitulada "Rio".
Foi detentor dos troféus: "Homenagem da Mesbla", de
1970, recebido no Teatro Municipal como o melhor organista do ano;
"Acumulada Musical", oferecido num programa de televisão pela
gravação de "Patrícia", em 1959; Prêmio da “Cadena de Ias
Américas", como recordista de sucesso em disco com "Patrícia",
além de haver sido agraciado, em 1977, com o honroso título de "Cidadão
Judeu Honorário", conferido pelo governo do Estado de Israel, ao ensejo
das comemorações de 30 anos de fundação daquele Estado.
Casado com a Sra.
Maria Lúcia, não teve
filhos. Mas, sem dúvida, sua maior consagração pública foi a aprovação do seu
nome para "Cidadão do Estado da Guanabara", requerido pelo deputado
Sebastião Menezes, decisão unânime do plenário e que serviu de testemunho e prova de gratidão
pelo muito que fez em benefício da nossa música, destacando sempre a cidade do
Rio de Janeiro em
todas suas aplaudidas apresentações.
Irmão de meus queridos amigos Adelson, Adson [que foi Delegado
de Polícia], Eunice, Neide e Arinos, esse caboclo amazonense que se distinguiu lá fora,
faleceu, para tristeza nossa, no dia 2 de maio último, na
"Cidade Maravilhosa"
que o acolheu e onde ele
colheu os louros maravilhosos de sua vitória.
Sim. Eu tinha 12 anos quando meu tio faleceu. Quando bate a saudade, ouço meu tio Armando bem como gravacoes da tia Eunice no Hotel Amazonas e meu tio Arinos. Todos pianistas graças a minha avó wue os ensinou. Dinara Souza Lima.
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