Coronel Osório Fonseca, em almoço da AVC (Associação dos Velhos Coronéis), 2013 |
Os Bombeiros do Amazonas foram comandados, entre fevereiro
de 1978-79, pelo então tenente-coronel
Osório Fonseca Neto. Entrevistado para a retrospectiva que, sobre esta
corporação, acabo de escrever, Osório relembrou a visão que, ainda estudante ginasiano,
possuía dos Bombeiros, quer os da prefeitura de Manaus quer os do comandante
Ventura. E, nesta conversa, contrapôs àquele olhar tortuoso o seu tirocínio no
comando do Corpo de Bombeiros /PMAM. As indagações (em azul) são de minha
autoria.
O serviço de contra incêndios era atribuição do Corpo de Bombeiros de Manaus,
porém existiam os voluntários do comandante Ventura. Quais lembranças
você tem dos Bombeiros? Lembro-me do Corpo de Bombeiros da Prefeitura,
ali na Sete de Setembro, no outrora conhecido Canto do Quintela. O Corpo de
Bombeiros naquele espaçozinho. Talvez, por terem colocado na mente de minha
geração, mesmo no Exército, o orgulho de ser oficial e tudo mais, eu olhava,
sem dúvida, com certo preconceito para o Corpo de Bombeiros. A minha visão de
Bombeiros era limitadíssima, a visão da maioria das pessoas, a de que o
bombeiro era um “extintor de incêndio”! Reconheço, era uma visão muito limitada.
Hoje, digo hoje porque quando vejo a formação
correta do Corpo de Bombeiros, como opera o Corpo, fico particularmente
envergonhado, por ter tido ontem esse pensamento de exclusão. Recordo, todavia,
que o Corpo de Bombeiros era assim, limitadíssimo!
E os bombeiros voluntários? Quando eu era estudante, possuía mais a visão
dos bombeiros voluntários de Aparecida que a dos bombeiros municipais.
Explico: o bombeiro de Aparecida que a gente conhecia era do comandante Ventura, nascido em Portugal;
um homem dedicado àquilo, mantendo os voluntários
com vários amigos, inclusive por pessoas que trabalhavam no comércio. Quando
acontecia um incêndio, o comandante Ventura telefonava, batia um sino, avisava
o pessoal e, então, vestia o cinturão de bombeiro, capacete na cabeça e, com a
roupa que usava, seguia para o local do incêndio. Assim, tentando resolver os
problemas de Manaus, que ainda era pequena, com condições precaríssimas de
salvamento.
A precária situação do serviço de bombeiros da Prefeitura motivou o convênio
com o Governo do Estado, em 1972. Como ocorreu a incorporação destes à Policia
Militar? Houve uma prévia disso, quando um oficial PM foi
mandado à França para receber treinamento especializado no Corpo de Bombeiros
de Paris. O major Pedro Câmara passou naquela cidade cerca de um ano. Mais
interessante ocorreu depois: o oficial conviveu com a experiência francesa e o
Estado comprou equipamento alemão. Câmara voltou com a visão mais ampla de
Polícia e de Bombeiros, capaz de passar à sociedade, ainda que auxiliado pelos
remanescentes dos municipais, os bombeiros transferidos do município.
Aconteceu um fato, que até hoje se questiona na
corporação. Sinto vergonha de lembrar as condições impostas aos homens oriundos
do Corpo de Bombeiros, no acordo Governo do Estado/Prefeitura. Uma das
exigências do Estado era que não aceitássemos o pessoal dos bombeiros da
Prefeitura. Como? Se nós precisávamos deles, pois na Polícia ninguém possuía qualquer experiência de
bombeiro. Poderiam ser aceitos, desde que fossem adaptados à Policia Militar, e
essa adaptação correspondia à rebaixá-los. Quem era cabo tinha que ser soldado;
sargento, no máximo cabo; tenente, na graduação de segundo sargento. E, nós,
jovens oficiais, assistindo ao massacre. Nos dias que correm, lembrar é doloroso!
Algum oficial tinha sido comandante? Sim, um
ex-comandante do Corpo de Bombeiros de Manaus foi rebaixado a 2.º sargento.
Deve ter sido muito aflitivo para essa pessoa! Àquela altura, ninguém analisava
isso com os olhos de hoje, com a maturidade, com a experiência da vida. Enfim,
vieram aqueles que aceitaram, vieram... Parece que só um oficial bombeiro não
veio, não aceitou a carga.
Edifício do IAPETC, durante anos sinônimo regional de "arranha-céu". |
Quanto ao ex-comandante Nicanor Gomes da Silva? Me lembro do comandante da
época, o Nicanor. Antigo bombeiro da Prefeitura, formado no CBERJ (Corpo de
Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro) retornou a Manaus como tenente. Ao
retornar, o Prefeito o nomeou comandante dos Bombeiros, comissionado no posto
de major. Por essa razão, o pessoal da Polícia Militar, pessoal de Escola de
Formação, sentiu-se magoado.
Alegava que “isso não é certo, tem que ter curso
de aperfeiçoamento e não sei lá o quê”. Entendia que o Nicanor não podia
ingressar na PM como major. E o Nicanor, na sua humildade, aceitou ingressar na
Polícia Militar como tenente. Fez carreira na Polícia Militar até onde foi
possível, integrando o Corpo de Bombeiros.
E a incorporação? Em 1973, a PM assumiu o Corpo de Bombeiros.
Logo, chegaram os carros, os equipamentos. Tornaram-se motivo de enorme vaidade
para os policiais militares. Manuseá-los era demais, pois, nenhum bombeiro em
Manaus vira uma autoescada que, equivocadamente, chamavam de Magirus.
Tratava-se, sim, de uma escada alemã, mas o fabricante era Metz. Por
vaidade, exibia-se a autoescada em qualquer lugar, e em reles oportunidade. Até
para, do quartel, observar as margens do rio Negro, onde a balsa que leva para
Manacapuru parava. Era o tal de levantar, “arvorar”, descer a escada etc.
Parecia até um brinquedo importado, porque não havia sequer prédio alto na
cidade de Manaus.
E quais os prédios mais altos existentes em Manaus? O edifício Maximino Corrêa, o IAPETC e o Hotel
Amazonas, na época, creio, eram os mais altos.
Então, como os Bombeiros se empenhavam? Mas os
bombeiros se empenhavam. Houve incêndios, mas não foi preciso usar a escada. A
escada existia e possuía múltiplos recursos. Também os carros de salvamento
eram de excelente qualidade, os equipamentos, as bombas de espuma e tudo mais.
Utilizava-se, pois, o melhor em equipamentos de bombeiros, apenas se deveria
adestrar o pessoal para seu manuseio, para a utilização adequada do equipamento
de socorro.
Em que condições você assumiu o Corpo de Bombeiros? Em 1978, eu dirigia a Diretoria de Apoio
Logístico (DAL), após exercer comandos básicos da Polícia Militar. E de
retornar, em 1977, de um curso nos Estados Unidos, na área de organização e
administração de segurança pública. Foi-me uma experiência muito valiosa! Não
apenas para mim, também para os coronéis Pedro Lustosa, Brandão e Humberto
Soares, já falecido, e o saudoso delegado Ribamar Afonso, alcunhado de Delegado
do Diabo. Não só os amazonenses participaram do curso, éramos do Brasil
inteiro; centenas de oficiais e policiais civis naquela escola americana, cuja
sede ainda se encontra em Washington (DC).
Quando surgiu a necessidade de se construir,
contíguo ao quartel do Corpo de Bombeiros, as instalações da DAL e do CSM
(Centro de Suprimento e Manutenção), fui encarregado de administrar a obra.
Simples: o comandante me chamou, e determinou: “Você vai comandar o Corpo de
Bombeiros e tomar conta da obra”. Vim, pois, comandar o Corpo de Bombeiros e
servir de mestre de obras do CSM. Recebi o comando do major Jarbas Rocha, estando eu
completamente cru em matéria de bombeiros. Nada entendia do serviço, salvo
aquela impressão de infância: Olha, Bombeiro é pra apagar incêndio e pronto! Acabou!
Leia a segunda parte, a seguir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário