Reproduzo o registro do incêndio que
destruiu um navio da empresa Amazon River, acontecido nas proximidades de
Itacoatiara (AM). A edição pertence ao jornal Gazeta da Tarde.
Recorte do jornal Gazeta da Tarde, Manaus, 31 março 1923 |
Às dez horas da manhã de hoje, começou a
circular o boato de que um dos vaticanos
(grande embarcação fluvial a vapor e
avarandada, de porte maior que o gaiola) da Amazon River se havia
incendiado. Pelo telefone, pedimos informações à gerência da companhia nesta
cidade. Foram confirmados todos os boatos.
Um dos nossos companheiros dirigiu-se, então,
aos escritórios daquela empresa, onde lhe foram ministrados todos os dados a
respeito do sinistro. O São Luiz, que
subia em viagem normal ao rio Purus, sob o comando do Sr. Mendes Pereira,
incendiou-se ontem às 2h da tarde, ao transpor a boca de cima do paraná do Ramos,
algumas horas abaixo de Itacoatiara.
Essa embarcação, que saíra de Belém no
dia 21 à tarde, trazia cerca de 21 mil volumes de carga, inclusive as de
baldeação do Itabira e do Norte, que se destinavam a esta capital.
Eis o telegrama que o distinto gerente da
Amazon River nesta cidade, comandante Alberto Autran (ascendente do finado poeta Luiz Bacellar), recebeu do comandante
da embarcação sinistrada:
Itacoatiara, 31 –
Comandante Autran – o São Luiz
incendiou-se ontem, às 14 horas, no paraná do Ramos, perto da saída. Proa em
terra salvou-se toda tripulação e passageiros. Perderam-se todos os documentos,
papéis e malas do Correio. Ficou somente o casco com os porões intactos. Aliviei
inflamáveis. Peço mandar com urgência um navio para conduzir 160 passageiros,
rebocar o casco e salvados. – Mendes.
Imediatamente o comandante Autran
providenciou armar o "Andirá" (este navio,
em 1932, participou da “batalha naval” de Itacoatiara), da mesma companhia,
a testar as suas carvoeiras, a fim de seguir hoje mesmo para o local em que se
acha o casco do São Luiz. Para dirigir
esse serviço de salvamento, segue o comandante Bahia, chefe do tráfego da
Amazon River, com o pessoal necessário.
Apesar de não se saber ainda o motivo que
determinou o incêndio a bordo do São Luiz,
presume-se que tenha sido algum descuido no acondicionamento de inflamáveis,
visto que o navio trazia 300 barris de pólvora.
A impressão que esse desastre causou no
comércio desta praça e na população de Manaus foi de verdadeiro espanto, não
pelo grande número de passageiros que o navio trazia, como também pelo desaparecimento
de todos os documentos e malas postais. Até à hora do encerrarmos o expediente
desta folha, a Amazon River ainda não havia recebido outro telegrama.
O São
Luiz foi construído em estaleiros ingleses de Glasgow, em 1913, para a
Amazon River. No mesmo ano foi registrado na Capitania do Porto de Belém, sob o
número 110. É movido por um hélice e o seu material é todo de aço. Registra 951
toneladas brutas e 625 líquidas. Tem 68 metros de comprimento, 12 de boca,
2,80m de pontal. O seu calado médio é de 1,00 e as suas máquinas são de tríplice
expansão e têm 120 cavalos nominais e 400 efetivos. A arqueação de suas
carvoeiras é de 100 centímetros e a sua tripulação composta de 40 homens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário