CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, outubro 07, 2013

INCÊNDIO DO "VATICANO"


Reproduzo o registro do incêndio que destruiu um navio da empresa Amazon River, acontecido nas proximidades de Itacoatiara (AM). A edição pertence ao jornal Gazeta da Tarde.  


Recorte do jornal Gazeta da Tarde, Manaus, 31 março 1923
 
Às dez horas da manhã de hoje, começou a circular o boato de que um dos vaticanos (grande embarcação fluvial a vapor e avarandada, de porte maior que o gaiola) da Amazon River se havia incendiado. Pelo telefone, pedimos informações à gerência da companhia nesta cidade. Foram confirmados todos os boatos.

Um dos nossos companheiros dirigiu-se, então, aos escritórios daquela empresa, onde lhe foram ministrados todos os dados a respeito do sinistro. O São Luiz, que subia em viagem normal ao rio Purus, sob o comando do Sr. Mendes Pereira, incendiou-se ontem às 2h da tarde, ao transpor a boca de cima do paraná do Ramos, algumas horas abaixo de Itacoatiara.

Essa embarcação, que saíra de Belém no dia 21 à tarde, trazia cerca de 21 mil volumes de carga, inclusive as de baldeação do Itabira e do Norte, que se destinavam a esta capital.

Eis o telegrama que o distinto gerente da Amazon River nesta cidade, comandante Alberto Autran (ascendente do finado poeta Luiz Bacellar), recebeu do comandante da embarcação sinistrada:

Itacoatiara, 31 – Comandante Autran – o São Luiz incendiou-se ontem, às 14 horas, no paraná do Ramos, perto da saída. Proa em terra salvou-se toda tripulação e passageiros. Perderam-se todos os documentos, papéis e malas do Correio. Ficou somente o casco com os porões intactos. Aliviei inflamáveis. Peço mandar com urgência um navio para conduzir 160 passageiros, rebocar o casco e salvados. – Mendes.  

Imediatamente o comandante Autran providenciou armar o "Andirá" (este navio, em 1932, participou da “batalha naval” de Itacoatiara), da mesma companhia, a testar as suas carvoeiras, a fim de seguir hoje mesmo para o local em que se acha o casco do São Luiz. Para dirigir esse serviço de salvamento, segue o comandante Bahia, chefe do tráfego da Amazon River, com o pessoal necessário.

Apesar de não se saber ainda o motivo que determinou o incêndio a bordo do São Luiz, presume-se que tenha sido algum descuido no acondicionamento de inflamáveis, visto que o navio trazia 300 barris de pólvora.

A impressão que esse desastre causou no comércio desta praça e na população de Manaus foi de verdadeiro espanto, não pelo grande número de passageiros que o navio trazia, como também pelo desaparecimento de todos os documentos e malas postais. Até à hora do encerrarmos o expediente desta folha, a Amazon River ainda não havia recebido outro telegrama.

O São Luiz foi construído em estaleiros ingleses de Glasgow, em 1913, para a Amazon River. No mesmo ano foi registrado na Capitania do Porto de Belém, sob o número 110. É movido por um hélice e o seu material é todo de aço. Registra 951 toneladas brutas e 625 líquidas. Tem 68 metros de comprimento, 12 de boca, 2,80m de pontal. O seu calado médio é de 1,00 e as suas máquinas são de tríplice expansão e têm 120 cavalos nominais e 400 efetivos. A arqueação de suas carvoeiras é de 100 centímetros e a sua tripulação composta de 40 homens.

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