Arthur Neto, maio 1980 |
Genoino: historiador e personagem da
história
Arthur Virgílio Neto
(*)
Chegará
brevemente a Manaus, como o objetivo de fazer palestra para os amazonenses que
se disponham a ouvi-lo, o professor
José Genoino Neto, diplomado em História, ex-lider estudantil e
participante, como guerrilheiro, da campanha do Araguaia (PA), em inciativa que visava à derrubada violenta do regime
militar brasileiro.
A
vida de Genoino foi das mais intensas, do ponto de vista das atividades políticas
a que se dedicou. Do seu período de militância na política estudantil,
registra-se que, de 1967 a 1968, presidiu o Diretório Central de Estudantes da
Universidade Federal do Ceará. De 1969 a 1970, foi diretor da União Nacional
dos Estudantes, tendo sido preso, juntamente com as maiores expressões da
liderança universitária da época, quando participava do histórico Congresso de
Ibiuna (SP).
Recorte do jornal A Notícia, 16 maio 1980 |
Tao
logo se viu em liberdade, optou pela vida clandestina e, a partir de articulações
no seio do Partido Comunista do Brasil (PC do B), dirigiu-se, ainda em 1970,
para o Araguaia, incumbido de auxiliar na preparação da guerra rural de
guerrilhas a eclodir desde essa região; vale dizer que Genoino foi dos
primeiros combatentes a cair nas mãos das forças militares destacadas para
combater a insurreição (1972), cumprindo aproximadamente 60 meses de prisão, 13
dos quais em estado de incomunicabilidade. Julgado em 1975 pela corte militar,
recebeu condenação por militância política ilegal, permanecendo encarcerado até
abril de 1977.
Eis,
em resumo, a biografia política do futuro visitante de Manaus, que, hoje militando
no Comitê Brasileiro pela Anistia de São
Paulo, é um dos raros lideres sobreviventes da guerra do Araguaia. Creio,
sinceramente, que será de bom alvitre comparecer a ouvi-lo todas as pessoas que
entendam a importância de, pelo diálogo, começarmos a escrever a recente e
conturbada fase da História do Brasil, de que Genoino tomou parte ativa, ele
que a universidade fez historiador, ironicamente saindo do exame teórico do mundo para atuar como agente
transformador – ou tentativamente transformador – de uma realidade dada.
Inteligente,
corajoso, conforme atestam o seu passado e o seu presente; lúcido e aberto ao diálogo,
estou certo de que Genoino acolherá com naturalidade as intervenções, favoráveis
ou não, que surjam sobre abordagem que fará da vida brasileira, da década de 70
aos dias correntes. Não há que se ter preconceito sobre ele, é bom frisar. Genoino
não é, nem nunca foi, terrorista; bem ao contrário, foi soldado vencido,
combatente derrotado por forças militar e estrategicamente superiores àquelas
que (lhe) davam suporte.
É
muito comum a ordem vitoriosa nomear de terroristas os seus adversários batidos.
De 1968 a meados da década passada, o que houve no Brasil, ao invés de
terrorismo, foi o choque de dois exércitos, o institucional e o contestador,
com a vitória do primeiro. Após a guerra, o vencedor diz o que bem entende,
produz a versão inicial – a final virá depois, à revelia de quem quer que seja –
que bem lhe convenha.
Vejam
bem! Fidel Castro venceu a guerra contra o sistema, em Cuba, e, subindo ao
poder, teve e tem meios para exercer os derrotados; se tivesse perdido para
Fulgêncio Batista, estaria hoje incluído na galeria dos terroristas, pois
certamente seria essa uma determinação da ala vitoriosa. Assim, Genoino, o
vencido, teve construída, perante a opinião pública, a imagem de terrorista. Para
mim, ele não o é; digo que foi apenas um combatente, que precipitadamente se
lançou à liça, sem fazer exame cuidadoso da correlação de forças entre o seu
grupo e o opositor. Nunca um terrorista, porém. Apenas um guerrilheiro, um
guerrilheiro que subestimou o adversário, e pagou por isso, na ânsia de
transformar o mundo.
A
palestra do historiador-guerrilheiro será realizada na sede do DU (Diretório Universitário), à av.
Epaminondas, às 20h do dia 16 de maio (hoje). Estarei lá para ouvi-lo depor,
desta vez sem constrangimentos físicos ou psicológicos, livremente, pois, sobre
um momento que viveu com voracidade. Será bom escutar um homem que teve a
coragem e o desprendimento de ir ao fundo do poço das suas ideias.
(*) Arthur Neto, em 1980, era suplente de deputado federal pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), hoje é prefeito de Manaus, pela segunda vez.
Ao longo de 33 anos de vida tudo pode mudar ou não. Quem saberá? Há 33 anos Artur Virgílio - um dos ex-senadores mais preparados desta república - era um moço ingênio, tolo até, tanto que escreveu essas bobagens sobre um marginal do mensalão, José Genuíno. Artur Virgílio com certeza não sabia que o lobo pode até mudar de pelo muitas vezes ao longo da vida, mas a índole canina é sempre a mesma.
ResponderExcluirO site da Camara diz que a escolaridade do Jose Genoino é superior incompleto, então não é diplomado nada.
ResponderExcluirJosé Genoíno Neto
Nascimento: 3/5/1946 Naturalidade: Quixeramobim, CE
Profissões: Professor
Gabinete: 15, Anexo 2, Telefone: 32155967, Fax: 32152967
Escolaridade: Superior Incompleto
Estudos e Cursos Diversos:
Filosofia (incomp.); Direito (Incompleto).