Arthur Reis |
Arthur
Cezar Ferreira Reis (*)
Faz
um punhado de anos, o professor Carlos Nascimento, de Belém (PA), iniciava ali
a publicação da História Literária da
Amazônia. Saíram em várias edições da “Folha do Norte” os primeiros
artigos. Estudavam a terra e o homem. Naquela linguagem de artista que era tão
do educador paraense. Alinhando conceitos cheios de verdades. Anunciando monografia
marcante de época nos anais culturais do vale. Mas o escritor morreu. Perdeu-se,
assim, a notícia robusta, o
panorama traçado a mão de mestre.
Outro,
Eustáquio de Azevedo, atirou-se à tarefa. Parece que até antes de Carlos
Nascimento, não estou certo. O estudo que elaborou vem divulgado no Dicionário
Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, volume II, grande livro que o I.
H. Brasileiro edita. É minucioso. As informações, porém, nem sempre de fiar-se.
Paulino de Brito, naquelas páginas, aparece como paraense. Não está certo. O poeta,
teatrólogo, romancista, jornalista, que tudo ele foi com talento a valer,
nasceu aqui. Nos seus livros há sempre, palpitante, alguma coisa em que
revelava entusiasmo pela selva natal, que sempre soube elevar, lá fora, em prélios
memoráveis.
Eustáquio
limitou-se, porém, ao seu Pará. E a ligeira referencia que se lê no Dicionário, a nosso respeito, é mofiníssima,
insignificante, inexpressiva.
Revista Victoria-Regia, julho 1932
Na
História do Amazonas, ligeiramente eu
disse alguma coisa sobre a obra literária da Província. Não era ali o lugar próprio
para o ensaio largo a respeito. Quis, apenas, significar o estado de
civilização dos nossos avoengos, salientando as dificuldades que o meio criava
para o desenvolvimento intelectual, -- a instrução sem relevo assinalável, a
imprensa a ocupar-se unicamente com a política, os homens de estado cuidando
mais atentamente de outros problemas que lhe pareciam a exigir solução
imediata.
Quando,
pois, o quadro da nossa contribuição ao pensamento nacional?
* * *
O
Dr. Manoel Anísio Jobim tem-se consagrado ao estudo das coisas amazônicas. São de
sua autoria vários ensaios de subido valor sobre municípios do interior. Barbosa
Rodrigues, naturalista consagrado às pesquisas no vale, está por ele biografado
carinhosamente. João da Silva Coutinho, também.
Meticuloso,
com o senso do historiador, conhecendo bem as fontes da crônica do Estado,
servido de cultura invejável, Dr. Jobim tem realizado uma obra que há de ser
proclamada das maiores no tocante à verificação das nossas ainda tão apagadas
origens.
O
seu mais recente trabalho tem este título – História
Literária do Amazonas. Ao que estou informado, não custará muito a ser divulgado.
Não é certo. Abre-o, em título forte, o aspecto da terra e do homem, no drama
de ontem e de hoje. As figuras que desde as primeiras horas do Amazonas lhe
deram começo à vida intelectual desfilam a seguir. Todas, sem exceção de uma
só: mesmo aquelas que não lhe são afeiçoadas. Desde os cronistas arrevesados
que nos examinaram detalhadamente. Em retratos bem vivos, acompanhados do índice
bibliográfico e da resenha biográfica. Retratos fidelíssimos, que lhe custaram
meses de paciente atividade na rebusca aos elementos certos.
E
em que linguagem! Tem se impressão do vernaculista que formou o espirito na
leitura meditada, diária, dos clássicos da língua. Rebuscado, fidalgo, o estilo
é de lampejos. Manaus, na terceira parte da História,
quando lhe traça o perfil na fase do ouro negro, aparece em toda realidade. Há sobre
a cidade jovem períodos que entusiasmam. Sente-se a Manaus da agitação, dos
devaneios, dos excessos, do esplendor. Sente-se o artista que trabalha seguro,
do que risca criando motivos de beleza.
Na
exposição serena, o Dr. Jobim chega aos nossos dias. Menciona o grupo dos novos
-- amazonenses e amazonizados, assinalando as tendências de cada um, sem pendores,
sem exclusivismos.
A
História Literária do Amazonas, quase
toda republicana, conquanto, insisto, lá estejam os pro-homens da fase colonial
e do Império, é preciosa e única. Fala da nossa cultura, indicando-a com toda
lisura.
(*) Reproduzido da revista Victoria-regia – julho 1932
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