O poema que compõe
esta postagem foi compartilhado de O Jornal, edição de 27 de janeiro de
1963, por dois motivos: a assinatura autoral me leva a crer que se trata de um graduado
da Polícia Militar do Amazonas, sem que possa comprovar. Somente levado pela
memória. O segundo motivo: a natureza amazônica como tema foi escrito em Camará
(sic), que segundo anotações da internet pode se tratar de um igarapé afluente
do rio Negro, nas proximidades de Manaus.
Qualquer que
seja a identificação do autor e o local de inspiração deste cinquentenário
poema, acredito que agradará aos amantes desta arte.
O fanal sidéreo apaga-se na lonjura
E o poeta assiste recolher-se a natura.
Enquanto o seu peito de melancolia extravasa,
Traz o sopro das vespertinas aragens,
O aroma dos prazeres de outras paragens,
E o forasteiro sente saudade de casa.
A tarde em harmonia expira calmamente,
Na vastidão do céu iluminado vagamente,
Já não passa mais uma andorinha;
O mundo parece que vai se trancando
E as lembranças uma por uma vêm chegando
Com a noite sombria que se avizinha.
Os passarinhos já não gorjeiam mais,
Cantam as aves agoureiras e noturnais,
Enchendo de pavor a solidão imensurável;
As brumas misteriosas da noite escura,
Chocam-se e confundem-se com a verdura
Da selva imensamente impenetrável.
E ante o aspecto taciturno da floresta densa,
Que cobre da gleba extensão imensa,
Por onde o rio desliza, espuma e serpenteia,
Nesta hora infinita da nostalgia
Em que ele tem de aspiração a alma cheia.
Foto de Gunter Engel |
Ó bendita solidão, templo da reminiscência,
Onde a saudade ante às ruinas da ausência
Vem ajoelhar-se grave e compassivamente;
Enquanto o poeta levanta-se para saudar
A primeira estrela diamantina que brilha
Na tristeza firmamental do sol poente.
Onde o pensamento para o pretérito (...)
E o coração hipersensibilizado,
Pelo silêncio nostálgico da soledade;
Sentimos perto alguém que está ausente,
E parece-nos estarmos frente a frente
Com os nossos velhos sonhos de felicidade.
Foto de Gunter Engel
Tudo é vazio e desolado nesta solidão,
Onde o homem ensimesmado na contemplação
Do Amazonas apoteótico e majestoso,
Logo se vê cercado por duas grandezas
Distante dos encantos de todas as belezas;
A mata virgem — o Rio Mar tredo e caudaloso.
Camará, 12
de agosto de 1962
Nenhum comentário:
Postar um comentário