CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, julho 23, 2022

POEMA CINQUENTENÁRIO, QUASE ANÔNIMO

O poema que compõe esta postagem foi compartilhado de O Jornal, edição de 27 de janeiro de 1963, por dois motivos: a assinatura autoral me leva a crer que se trata de um graduado da Polícia Militar do Amazonas, sem que possa comprovar. Somente levado pela memória. O segundo motivo: a natureza amazônica como tema foi escrito em Camará (sic), que segundo anotações da internet pode se tratar de um igarapé afluente do rio Negro, nas proximidades de Manaus.

Qualquer que seja a identificação do autor e o local de inspiração deste cinquentenário poema, acredito que agradará aos amantes desta arte.

 


O fanal sidéreo apaga-se na lonjura

E o poeta assiste recolher-se a natura.

Enquanto o seu peito de melancolia extravasa,

Traz o sopro das vespertinas aragens,

O aroma dos prazeres de outras paragens,

E o forasteiro sente saudade de casa. 

A tarde em harmonia expira calmamente,

Na vastidão do céu iluminado vagamente,

Já não passa mais uma andorinha;

O mundo parece que vai se trancando

E as lembranças uma por uma vêm chegando

Com a noite sombria que se avizinha. 

Os passarinhos já não gorjeiam mais,

Cantam as aves agoureiras e noturnais,

Enchendo de pavor a solidão imensurável;

As brumas misteriosas da noite escura,

Chocam-se e confundem-se com a verdura

Da selva imensamente impenetrável. 

E ante o aspecto taciturno da floresta densa,

Que cobre da gleba extensão imensa,

Por onde o rio desliza, espuma e serpenteia,

Nesta hora infinita da nostalgia

Em que ele tem de aspiração a alma cheia. 

 

Foto de Gunter Engel

 Ó bendita solidão, templo da reminiscência,

Onde a saudade ante às ruinas da ausência

Vem ajoelhar-se grave e compassivamente;

Enquanto o poeta levanta-se para saudar

A primeira estrela diamantina que brilha

Na tristeza firmamental do sol poente. 

Onde o pensamento para o pretérito (...)

E o coração hipersensibilizado,

Pelo silêncio nostálgico da soledade;

Sentimos perto alguém que está ausente,

E parece-nos estarmos frente a frente

Com os nossos velhos sonhos de felicidade.  

Foto de Gunter Engel

Tudo é vazio e desolado nesta solidão,

Onde o homem ensimesmado na contemplação

Do Amazonas apoteótico e majestoso,

Logo se vê cercado por duas grandezas

Distante dos encantos de todas as belezas;

A mata virgem — o Rio Mar tredo e caudaloso. 

Camará, 12 de agosto de 1962


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