Conheci fr. Alberto de Manaus entre 1962 e 1963, quando este franciscano administrou aulas no Seminário São José, onde eu estudava. Era professor de Latim, não esqueço, para as turmas mais avançadas correspondentes ao atual ensino médio. Exigente na frequência, não deixava folga aos alunos.
Chegava
ao São José dirigindo um Jeep, aparentemente novo, sotaina caprichada e sapatos
nos pés. Por que esses lembretes, em particular dos calçados? É que os
franciscanos cultuam a pobreza, andam costumeiramente de sandálias. De sorte
que os alunos, sem poder se vingar do mestre, mexericavam nos corredores sobre
esses equívocos. Fr. Alberto era então pároco da Igreja de Nossa Senhora de
Fátima, que ainda estava em construção, bem distante da exterioridade atual.
A motivação
desta postagem decorre da leitura do livro a Igreja sobre o rio (Manaus:
Secretaria de Cultura do Estado, 2012), o qual descreve “A missão dos
Capuchinhos da Úmbria no Amazonas”. Um amplo parágrafo expõe a situação do
mencionado frade no âmbito de sua comunidade, elaborado por seu superior:
"Uma
certa preocupação suscitava o comportamento de Fr. Alberto, que também
ensinava, com ótimos resultados, na Faculdade de Filosofia da Universidade
local e dirigia a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que já tinha
atingido as exigências de uma paróquia; "um bom sujeito'', mas que,
segundo frei Tomás, jamais havia se adaptado "à nossa vida de
frades". "Vive uma vida toda sua, completamente alheia à vida
conventual" — escreve ainda frei Tomás — e, apesar das exortações e
conselhos, persistia em "sua vida solitária, talvez por certa antipatia
aos estrangeiros".
"A
única estrada, segundo o custódio, era a de falar-lhe claro e — conclui — caso
quisesse permanecer em sua vida independente, creio que o melhor seria
convidá-lo a escolher a vida de padre diocesano".
O aludido documento, escrito em
1967, confirma a atuação do capuchinho na paroquia da Praça 14 de Janeiro e de professor
da Faculdade de Filosofia. Em outro ponto do comunicado o relaciona entre os
seis frades que compõem o grupo de missionários. A Zona Franca de Manaus estava
sendo implantada e a cidade se multiplicava. Enfim, mais uma anotação do livro,
alusiva a 1970: “Outra questão aberta era a da carência de missionários;
justamente naquele ano Fr. Alberto deixava definitivamente a Ordem”. Após a
leitura, me senti perdoado daqueles pecados.
Prof. José de Araújo (à dir.) e o autor |
Livre da Ordem, o frade retoma seu
nome de batismo: José Alves de Araújo, nascido obviamente em Manaus. Seu antigo
aluno de Latim, também longe do seminário, sabia do exercício professoral deste
na Universidade Federal do Amazonas. Certa ocasião, ao ocupar uma data da
Quarta Literária da Livraria Valer, reencontrei o mestre, já aposentado do
ofício. Lembrei a ele nossas conversas em sala do seminário, sem comentar sobre
os “sapatos” do antigo capuchinho. A foto abona nossa despedida.
Por fim, há cinco
anos, em fevereiro de 2017 recortei do jornal o convite para a Missa de 30 Dias
do Prof. José Alves de Araújo, na igreja da qual ele foi pároco. RIPJornal A Crítica, fev. 2017
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