CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, fevereiro 28, 2022

FREI ALBERTO & PROF. JOSÉ A. ARAÚJO

 Conheci fr. Alberto de Manaus entre 1962 e 1963, quando este franciscano administrou aulas no Seminário São José, onde eu estudava. Era professor de Latim, não esqueço, para as turmas mais avançadas correspondentes ao atual ensino médio. Exigente na frequência, não deixava folga aos alunos.

Fr. Alberto de Manaus, primeiro à esquerda

Chegava ao São José dirigindo um Jeep, aparentemente novo, sotaina caprichada e sapatos nos pés. Por que esses lembretes, em particular dos calçados? É que os franciscanos cultuam a pobreza, andam costumeiramente de sandálias. De sorte que os alunos, sem poder se vingar do mestre, mexericavam nos corredores sobre esses equívocos. Fr. Alberto era então pároco da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que ainda estava em construção, bem distante da exterioridade atual.

A motivação desta postagem decorre da leitura do livro a Igreja sobre o rio (Manaus: Secretaria de Cultura do Estado, 2012), o qual descreve “A missão dos Capuchinhos da Úmbria no Amazonas”. Um amplo parágrafo expõe a situação do mencionado frade no âmbito de sua comunidade, elaborado por seu superior:

"Uma certa preocupação suscitava o comportamento de Fr. Alberto, que também ensinava, com ótimos resultados, na Faculdade de Filosofia da Universidade local e dirigia a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que já tinha atingido as exigências de uma paróquia; "um bom sujeito'', mas que, segundo frei Tomás, jamais havia se adaptado "à nossa vida de frades". "Vive uma vida toda sua, completamente alheia à vida conventual" — escreve ainda frei Tomás — e, apesar das exortações e conselhos, persistia em "sua vida solitária, talvez por certa antipatia aos estrangeiros".

"A única estrada, segundo o custódio, era a de falar-lhe claro e — conclui — caso quisesse permanecer em sua vida independente, creio que o melhor seria convidá-lo a escolher a vida de padre diocesano".

O aludido documento, escrito em 1967, confirma a atuação do capuchinho na paroquia da Praça 14 de Janeiro e de professor da Faculdade de Filosofia. Em outro ponto do comunicado o relaciona entre os seis frades que compõem o grupo de missionários. A Zona Franca de Manaus estava sendo implantada e a cidade se multiplicava. Enfim, mais uma anotação do livro, alusiva a 1970: “Outra questão aberta era a da carência de missionários; justamente naquele ano Fr. Alberto deixava definitivamente a Ordem”. Após a leitura, me senti perdoado daqueles pecados.

Prof. José de Araújo (à dir.) e o autor

Livre da Ordem, o frade retoma seu nome de batismo: José Alves de Araújo, nascido obviamente em Manaus. Seu antigo aluno de Latim, também longe do seminário, sabia do exercício professoral deste na Universidade Federal do Amazonas. Certa ocasião, ao ocupar uma data da Quarta Literária da Livraria Valer, reencontrei o mestre, já aposentado do ofício. Lembrei a ele nossas conversas em sala do seminário, sem comentar sobre os “sapatos” do antigo capuchinho. A foto abona nossa despedida.

Por fim, há cinco anos, em fevereiro de 2017 recortei do jornal o convite para a Missa de 30 Dias do Prof. José Alves de Araújo, na igreja da qual ele foi pároco. RIP

Jornal A Crítica, fev. 2017


Nenhum comentário:

Postar um comentário