Andei buscando nos meus arquivos algum poema que preenchesse a data, ainda que não tenha relação, socorri-me do saudoso poeta Farias de Carvalho, sobejamente admirado. Aproveito para dedicar a postagem ao falecido meu genitor - Manuel Mendonça que, vindo da amazonía peruana, tanto amou esta cidade.
Recorte de A Crítica, 23 novembro 1957 |
- Pelas portas, paredes, pesadelos
- pendem pesados: gestos imprecisos,
- fragmentos de poemas não colhidos,
- tentativas de mar e de suicídio.
- A rede verde colhe o corpo e o tédio,
- depois é barco de pescar a lua;
- trabalho de deixar o amor no meio
- e sacudir do sono os velhos tipos.
- Crânios, amantes, loucos, bailarinos.
- Uma eterna aventura de palavras
- plasma o casco da nau no cais da porta
- para a velha viagem repetida:
- a batida dos passos pela sala
- e a cantiga da máquina no poema.
Além do som os homens todos
doidos
são puxados no comboio deste século.
Imaginai: Ontem na cacimba
a lavadeira declamou-me versos
de Ezra Pound.
(Eu saí de lá com as mãos nas têmporas.)
- Trazei o ouvido e atentai:
- O monstro corcunda
- Agasalha o meu filho louro
- Lá para as bandas do Rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário