O poema foi produzido por Álvaro Botelho Maia (1893-1969), fartamente conhecido na história do Amazonas, tendo sido dirigente do Poder Executivo por largos anos, a última etapa foi entre 1951-55. Para sublinhar sua condição de artista da poesia, basta relembrar que, no início de 1925,a revista Redempção em concurso público, consagrou como o "príncipe dos poetas amazonenses".A relíquia foi compartilhada do matutino A Crítica (08 fev. 1958), portanto há 67 anos.
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Recorte de A Crítica, 8 fev. 1958
O lutador subiu a
escada tortuosa...
Subiu, andou, pioneiro de
horizontes,
cortados de planícies e
de montes,
de longes de ouro e rosa,
colorindo a paisagem...
Chegara extenuado da
viagem
e repousava à sombra da
vertente,
que amenizava a soalheira
ardente...
- II -
Sentou-se. Ergueu as
mãos, no recanto risonho
para agradecer ao Senhor
e o consolo da vida interior...
Aos ombros carregava o alforje do passado,
que lhe tombou ao lado.
Abriu-o, devagar,
e pedras rolaram pelo chão.
Brilharam ao sol
quebrado,
algumas verdes como o
mar,
outras letais como o
pecado,
com brilhos de atração
e repulsão.
Acariciou-lhes as
pontas entre agudas.
Pensou em gólgotas e
judas,
(Jesus, porque foi
homem, teve Judas!),
e nos que escondem, num
sorriso,
punhais de aço com os
gumes entreabertos.
—
III —
Fechou os olhos e
sorriu,
imerso no dulçor de um
grande rio...
Sonhos, ilusões, gosto e
desgosto,
fluíram das pedras,
como flama.
(Passam sempre nos dias
de quem ama).
Esta acertou-lhe o
rosto,
rasgando carne e
derramando sangue,
outra o peito, outra a
cabeça,
mas todas pingando
sangue.
Surgiram, pela estrada espessa,
carrancas de inimigos
e feições de amigos,
transbordando crueldade
e piedade...
Vivos e inquietos na
tremenda luta,
lembravam vinganças e
alvoroços.
-- “Só o lutador errou,
pela escalada...
Mostrámos o caminho: errou na caminhada, embaraçado
em dédalo infernal,
em queda estranha e bruta...
Andámos com razão em
apedrejá-lo,
como se faz ao cão
danado e ao mau cavalo!”
--
IV –
Ele ouviu, em silêncio,
a ameaça fatal
e pediu que o Céu lhes
desse um resplendente halo,
que todos, fossem velhos,
fossem moços,
fugissem, de uma vez,
às vibrações do mal.
Queria dormir... Pegou
as pedras, uma a uma,
e bebeu um verdor de
sumaúma...
Eram duras à fronte
fatigada?
Deitou-se. Não! Ganhara
um encosto macio,
tecido de paina e
espuma,
próprio para o calor e
para o frio...
Sentiu que as pedras se
mexiam,
ouviu que as pedras
cantavam,
como preces de luz em
manhã clara...
Todas as bordoadas e
castigos,
o sangue e o suor que
derramara,
transformaram-se em
pêndulos dum hino,
em bússola e em coragem
nos perigos...
Renasceu, redimido e
pequenino...
Quase lhe saltava o
coração,
aureolado em sol aos
que o feriram...
E teve o prêmio da consolação,
agradecido aos que o
insultaram,
vilipendiaram
e vergastaram,
saqueando o patrimônio
de uma vida,
mas lhe deram também, em
horas sem concórdia,
a alta conquista da
misericórdia.
a sobrevivência
e a resistência,
a humilhação
e a exaltação,
a força espiritual de
nova Vida!
O lutador subiu a
escada tortuosa...
Subiu, andou, pioneiro de
horizontes,
cortados de planícies e
de montes,
de longes de ouro e rosa,
colorindo a paisagem...
Chegara extenuado da
viagem
e repousava à sombra da
vertente,
que amenizava a soalheira
ardente...
- II -
Sentou-se. Ergueu as
mãos, no recanto risonho
para agradecer ao Senhor
e o consolo da vida interior...
Aos ombros carregava o alforje do passado,
que lhe tombou ao lado.
Abriu-o, devagar,
e pedras rolaram pelo chão.
Brilharam ao sol
quebrado,
algumas verdes como o
mar,
outras letais como o
pecado,
com brilhos de atração
e repulsão.
Acariciou-lhes as
pontas entre agudas.
Pensou em gólgotas e
judas,
(Jesus, porque foi
homem, teve Judas!),
e nos que escondem, num
sorriso,
punhais de aço com os
gumes entreabertos.
—
III —
Fechou os olhos e
sorriu,
imerso no dulçor de um
grande rio...
Sonhos, ilusões, gosto e
desgosto,
fluíram das pedras,
como flama.
(Passam sempre nos dias
de quem ama).
Esta acertou-lhe o
rosto,
rasgando carne e
derramando sangue,
outra o peito, outra a
cabeça,
mas todas pingando
sangue.
Surgiram, pela estrada espessa,
carrancas de inimigos
e feições de amigos,
transbordando crueldade
e piedade...
Vivos e inquietos na
tremenda luta,
lembravam vinganças e
alvoroços.
-- “Só o lutador errou,
pela escalada...
Mostrámos o caminho: errou na caminhada, embaraçado
em dédalo infernal,
em queda estranha e bruta...
Andámos com razão em
apedrejá-lo,
como se faz ao cão
danado e ao mau cavalo!”
--
IV –
Ele ouviu, em silêncio,
a ameaça fatal
e pediu que o Céu lhes
desse um resplendente halo,
que todos, fossem velhos,
fossem moços,
fugissem, de uma vez,
às vibrações do mal.
Queria dormir... Pegou
as pedras, uma a uma,
e bebeu um verdor de
sumaúma...
Eram duras à fronte
fatigada?
Deitou-se. Não! Ganhara
um encosto macio,
tecido de paina e
espuma,
próprio para o calor e para o frio...
Sentiu que as pedras se
mexiam,
ouviu que as pedras
cantavam,
como preces de luz em
manhã clara...
Todas as bordoadas e
castigos,
o sangue e o suor que
derramara,
transformaram-se em
pêndulos dum hino,
em bússola e em coragem
nos perigos...
Renasceu, redimido e
pequenino...
Quase lhe saltava o
coração,
aureolado em sol aos
que o feriram...
E teve o prêmio da consolação,
agradecido aos que o
insultaram,
vilipendiaram
e vergastaram,
saqueando o patrimônio
de uma vida,
mas lhe deram também, em
horas sem concórdia,
a alta conquista da
misericórdia.
a sobrevivência
e a resistência,
a humilhação
e a exaltação,
a força espiritual de
nova Vida!
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